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Pesquisadores brasileiros desenvolvem tratamento pioneiro com células-tronco para artrose no joelho

A técnica ainda está em fase de testes, mas os primeiros pacientes relatam uma redução significativa da dor seis meses após o procedimento

Por Da Redação
4 mar 2013, 07h36

Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) estão desenvolvendo uma técnica pioneira no Brasil para o tratamento da artrose no joelho: injeções de células-tronco retiradas do próprio paciente e cultivadas em laboratório. O procedimento, que está passando pelo primeiro teste clínico, já foi realizado em seis pacientes, de um total de dez autorizados a participar do teste. Para os pesquisadores, o uso dessa nova técnica pode postergar ou até evitar o uso de próteses no joelho, tratamento mais comum para a doença.

A artrose é uma doença degenerativa que atinge as articulações, provocando lesão ou desgaste da cartilagem. Ela pode ocorrer em decorrência de trauma ou pelo envelhecimento, geralmente a principal causa: estima-se que a doença afete 70% da população com mais de 60 anos. “Atualmente a medicina consegue fazer com que as pessoas tenham uma longevidade maior, então a incidência dessas doenças tende a aumentar”, afirma Alcy Vilas Boas, ortopedista do Hospital Marcelino Champagnat e integrante do grupo de pesquisadores.

O tratamento mais utilizado para a artrose de joelho é a colocação de prótese. O ponto negativo é que esse implante também sofre desgaste com o tempo, e é preciso trocá-lo periodicamente. “Pacientes com 60 anos hoje em dia ainda estão muito ativos, trabalhando e participando de atividades sociais, o que aumenta o desgaste da prótese. Em pacientes mais jovens ela dura de 8 a 10 anos, mas em pacientes com mais de 70 anos ela já tem uma duração maior”, explica Vilas Boas.

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Outra técnica já existente é a cirurgia de microfratura. Desenvolvida nos anos 80, nos Estados Unidos, ela consiste na criação de pequenos buracos no osso próximo à cartilagem danificada, a fim de liberar as células-tronco presentes na medula óssea, para que elas promovam a regeneração da cartilagem. Esse tratamento, porém, é mais indicado para lesões menores na cartilagem, pois o número de células-tronco liberadas é pequeno.

A técnica que está sendo desenvolvida no Núcleo de Tecnologia Celular da PUC-PR também envolve o uso de células-tronco, mas são utilizadas células de melhor qualidade e em maior número, de forma que o tratamento tem potencial para apresentar um resultado também melhor.

Procedimento – As células utilizadas no tratamento são as células-tronco mesenquimais, células adultas com capacidade de se diferenciar em diversos tipos de tecido. Elas são retiradas da medula óssea do sacro, osso localizado na base da coluna vertebral. Cultivadas em laboratório, elas proliferam – ao fim de quatro semanas obtêm-se cerca de 100 milhões de células – e também tornam-se mais específicas, o que garante que elas se transformem mais tarde em células de cartilagem.

Depois desse processo as células são injetadas no joelho do paciente, em um procedimento minimamente invasivo denominado artroscopia. O paciente então precisa restringir a realização de atividades físicas e de apoio de peso no joelho operado, além de fazer uma fisioterapia específica para o tratamento, em um aparelho denominado “máquina de movimentação passiva contínua”, na qual ele realiza movimentos de dobrar e esticar o joelho sem forçar o músculo.

Resultados – As células levam por volta de 12 semanas para se organizar e formar um tecido com consistência suficiente para sustentar o peso do corpo, mas mesmo depois desse período o tecido continua amadurecendo durante até seis meses após a cirurgia, quando adquire resistência semelhante à cartilagem original.

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Os três primeiros pacientes que participaram da pesquisa já completaram seis meses com a aplicação das células-tronco. “Houve uma melhora de 85% na dor em relação ao pré-operatório”, afirma Alcy Vilas Boas.

De acordo com o pesquisador, os dez pacientes que receberem o tratamento serão acompanhados por um ano. Após esse período, os dados serão analisados e os trabalhos publicados serão submetidos ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que determinará se o tratamento será aprovado para uso clínico.

Paulo Brofman, cardiologista e coordenador do laboratório da PUC-PR que está realizando a pesquisa, explica que todo estudo com células-tronco realizado no Brasil atualmente ainda é considerado um tratamento experimental. Os pesquisadores acreditam que os investimentos em terapia de células-tronco e o rápido avanço da medicina podem contribuir para mudanças nesse cenário. “Nós estamos em uma fase bem inicial, vai levar algum tempo, mas a medicina evoluiu muito nos últimos dez anos, então em um futuro próximo a terapia celular pode estar presente nas indicações de tratamentos”, afirma Alcy Vilas Boas.

Caso fosse aprovado hoje, o tratamento custaria cerca de 15.000 reais. De acordo com os pesquisadores, a parte mais cara é o cultivo das células-tronco em laboratório. “Feito em escala comercial, o preço do tratamento cairia”, afirma Paulo Brofman.

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