Pergunte aos especialistas
Os médicos Mario Eisenberger e Antonio Wolff responderão a perguntas dos leitores de VEJA
Em VEJA desta semana, uma reportagem especial assinada pelo correspondente da revista nos Estados Unidos, André Petry, conta a história dos pacientes terminais de câncer que, sem saída, optam por virar cobaias nos testes de remédios experimentais. É uma loteria que dá certo para alguns, que são completamente curados ou ganham preciosos anos de vida.
A reportagem falou com dois médicos brasileiros, Mario Eisenberger, especialista em câncer de próstata, e Antonio Wolff, especialista em câncer de mama, (veja perfil da dupla abaixo), que estão conduzindo pesquisas na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Os dois responderão a perguntas dos leitores de VEJA na próxima semana* (*houve um problema técnico que impossibilitou a gravação das respostas dos médicos nesta quinta-feira, dia 22, e nesta sexta-feira, 23, como foi anunciado). Para participar, é só deixar sua pergunta na caixa de comentários desta página. Leia a seguir o perfil dos médicos e a descrição de seu trabalho.
O Labirinto é a saída
Com a bola em campo – No estudo clínico do futebol, o oncologista carioca Mario Eisenberger, há dezessete anos trabalhando na Universidade Johns Hopkins, planejava colocar uma Jabulani ao lado da bola que exibe no seu escritório. Presente de um paciente, a bola é de 1994 e traz a assinatura de todos os campeões do mundo naquele ano. Desta vez, não deu certo, mas a especialidade de Eisenberger está em outro campo – é o estudo clínico do câncer de próstata. Já fez mais de uma centena. Neste momento, acompanha cerca de duas dezenas de casos. Oncologista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele é fascinado por conceber estudos clínicos. A tarefa consiste em definir os paradigmas da doença que serão examinados. É a linha de frente da ciência.
Com seu consultório ao lado de um laboratório com 25 pesquisadores, Eisenberger espia o futuro do combate ao câncer, e informa: “O destino da quimioterapia é tornar-se obsoleta”. Mais: “Metástase não é mais uma sentença de morte”. Ele já teve pacientes que chegaram em estado grave ao seu consultório e morreram em nove meses, mas também já teve pacientes que tinham câncer de próstata com metástase até no osso e, dez anos depois, estão vivos e em completa remissão.
“As células tumorais têm algo de darwinistas”, diz ele, misturando o chiado carioca com um leve sotaque em inglês adquirido nas quase quatro décadas morando nos EUA. Por “darwinistas” entende-se: as células cancerosas sofrem mutações, e a seleção natural favorece aquelas mais capazes de escapar dos efeitos das drogas usadas para combater seu crescimento. Para complicar o tratamento, nem sempre a rota evolutiva de fuga das células tumorais é exatamente igual num paciente e noutro.
Mario Eisenberger responderá a perguntas dos leitores de VEJA nesta quinta-feira.
De olho no aqui e agora – Na porta da sala do oncologista Antonio Wolff, não há pedido de “bata” ou “espere”, mas um desenho do seu filho pequeno com uma frase em inglês: “My vehicle is a chruck”. Em linguagem de criança, quer dizer algo como “meu carro é um caminão”. Dentro de sua sala, nada lembra coisa de criança. Wolff a mantém semiescura, para se concentrar apenas na tela iluminada do computador e focar nos estudos de sua especialidade: câncer de mama. Está começando um projeto de pesquisa com 8.000 mulheres, que fará testes com dois remédios – trastuzumabe e lapatinibe. Os primeiros resultados deverão começar a aparecer em dois anos.
Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Wolff é pesquisador da Universidade Johns Hopkins há doze anos. Ali, atende pacientes duas vezes por semana e estuda, faz pesquisas, dá palestras. Tem interesse no futuro do câncer, mas seu foco é aqui e agora: o que pode ser feito para melhorar a vida do paciente hoje? Deparou com uma frente surpreendente de batalha: a qualidade duvidosa dos exames laboratoriais nos Estados Unidos. De cada dez laboratórios americanos que fazem teste em mulheres com câncer de mama, dois apresentam resultados divergentes.
Descobriu-se que isso se deve ao fato de que os laboratórios americanos adotam critérios diferentes. Alguns criaram seus próprios critérios. Se a análise laboratorial de um paciente é malfeita, tudo o que vem a seguir fica comprometido. “Não se pode roubar do paciente a chance de ser bem tratado, de receber o tratamento correto. Isso vale uma vida”, diz ele. Dos 1.500 laboratórios americanos, 900 aceitaram aderir às regras padronizadas. Por enquanto.
Antonio Wolff responderá a perguntas dos leitores de VEJA nesta sexta-feira.