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Nobel de medicina integra Conselho Internacional que irá avaliar o Hospital A.C. Camargo

Além do médico alemão Harald zur Hausen, Alan Ashworth, diretor do Instituo para Pesquisa em Câncer britânico, e António Coutinho, ex-diretor do Instituto Pasteur de Paris, integram o conselho

Por Aretha Yarak
13 mar 2012, 20h25

“Um dos grandes potenciais do Hospital A.C. Camargo está em como ele consegue integrar a prática clínica com o estudo que é feito dentro dos laboratórios. Isso significa uma mudança de mentalidade fundamental para a pesquisa médica”, Alan Ashworth

“O Hospital A.C. Camargo tem nível dos melhores hospitais mundiais. Mas o que nos impressionou mesmo é que ele é um centro médico de alto nível que atende todo mundo igualmente, inclusive aquelas pessoas de baixa renda”, António Coutinho

O Hospital A.C. Camargo deu início nesta terça-feira a uma nova fase de sua história em pesquisa oncológica. Composto por seis renomados cientistas em pesquisa médica do mundo, o International Board of Science (Conselho Internacional de Ciência) foi criado para avaliar as linhas de pesquisa a serem adotadas e as que já estão em andamento na instituição. É a primeira vez que um centro de pesquisa brasileiro recebe direcionamento de um Conselho Internacional de Ciência.

Entre os pesquisadores do Conselho está o médico alemão Harald zur Hausen, prêmio Nobel de medicina de 2008 pela descoberta da relação entre o HPV e o câncer cervical. Alan Ashworth, diretor executivo do Instituto para Pesquisa em Câncer da Inglaterra, António Coutinho, ex-diretor do Instituto Pasteur de Paris, Martin Raff, professor do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade College London, Curtis Harris, diretor do Instituto Nacional do Câncer dos EUA e Kai Simons, diretor do Max-Plank-Institute, na Alemanha, completam o conselho.

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De acordo com Fernando Soares, diretor interino de Pesquisa e Ensino do A.C. Camargo, o objetivo é que o International Board tenha uma atuação permanente e produza relatórios de efetividade a cada um ano, em média. “Tudo vai ser avaliado, do número de estudantes ao orçamento. Nossa intenção é melhorar, é expor nossos pesquisadores a críticos de renome internacional. É esse tipo de avaliação que vai nos fazer ter competitividade mundial”, diz. O primeiro relatório oficial sobre a qualidade do que é feito no hospital só será divulgado, oficialmente, daqui a três meses.

A iniciativa é de relevância, principalmente em um país onde a cultura entre cientistas é avessa a críticas. “É muito fácil expor sua pesquisa em um congresso onde os outros não trabalham especificamente com o que você está fazendo. Você mostra resultados fantásticos, mas ninguém te diz se você está no caminho certo ou não”, diz Soares. Para Harald zur Hausen, a presença de um conselho como o que foi criado pelo hospital é essencial para o amadurecimento da pesquisa. “Por experiência, acredito que assim é possível oferecer uma série de propostas e direcionamentos em prol do desenvolvimento da instituição”, diz.

Atualização – Segundo Alan Ashworth, a pesquisa em câncer tem se transformado, mudando o enfoque de estudo, e alguns países têm enfrentado dificuldades em acompanhar essas mudanças. “O Brasil também é um deles, mas é importante frisar que ele não está sozinho”, diz. A imunologia, por exemplo, é hoje a linha de frente em pesquisas oncológicas – lugar que já foi ocupado pelas vacinas contra o câncer. “Temos de aprender como usar o sistema imunológico como uma arma terapêutica contra os tumores”, explica António Coutinho.

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Apesar das dificuldades, o Brasil tem conseguido se manter como referência na América Latina. E já começa a ser visto com bons olhos pelos países desenvolvidos. “É obviamente ainda muito cedo, mas eu acredito que o Brasil tenha um potencial muito promissor”, diz Ashworth. Só no Hospital A.C. Camargo, responsável por 60% da pesquisa em oncologia do país e pela publicação de mais de 200 artigos por ano, dois dos cinco grupos de pesquisa atraem interesse internacional constante: o de oncogenética e o responsável pelos estudos em câncer peniano.

Além da qualidade dos estudos feitos nessas duas áreas específicas, há características intrínsecas do país que acabam funcionando como chamariz. A principal delas é a variabilidade genética da população brasileira. Isso porque para validar uma pesquisa, para provar sua eficácia, é preciso que ela seja feita em um grupo grande de candidatos. “Outro ponto é que ainda temos muitos doentes, porque nossa saúde preventiva é falha. Então, há uma população a ser estudada”, diz Fernando Soares. No país, casos de cânceres avançados como o gástrico e do colo de útero são frequentes, enquanto em países desenvolvidos as taxas são baixas. “O pesquisador acaba sendo atraído para cá, mas por sua curiosidade científica.”

Predisposição genética

O Grupo de Oncogenética Molecular, coordenador pela médica Maria Isabel Achatz, tem como foco de estudo a síndrome de Li-Fraumeni (LFS), causada por uma mutação genética tipicamente brasileira que afeta 0,3% da população do sudeste e do sul do país. Em números, isso significaria que a cidade de São Paulo, que tem cerca de 11 milhões de habitantes, teria 330.000 pessoas portadoras da mutação – e que teriam chances aumentadas de câncer. Segundo especialistas, é uma questão de saúde pública encontrar esses pacientes e garantir que eles tenham o tratamento adequado e precoce. “É muito importante que tenhamos mecanismos para conseguir encontrar esses pacientes”, diz.

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