Maioria dos médicos não gostaria de passar por tratamento agressivo no fim da vida
Profissionais, porém, indicam abordagens invasivas para seus pacientes terminais, segundo pesquisa americana
A maioria dos médicos não gostaria de ser submetida, em caso de uma doença terminal, a tratamentos agressivos que prolongam a vida. Mas eles indicam a abordagem a pacientes que enfrentam esse prognóstico, segundo um novo estudo feito nos Estados Unidos.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Do Unto Others: Doctors’ Personal End-of-Life Resuscitation Preferences and Their Attitudes toward Advance Directives
Onde foi divulgada: periódico Plos One
Quem fez: Vyjeyanthi S. Periyakoil, Eric Neri, Ann Fong e Helena Kraemer
Instituição: Universidade Stanford, nos Estados Unidos
Resultado: A maioria dos médicos não gostaria de ser submetida a tratamentos agressivos que prolongam a vida caso tivessem uma doença terminal, mas indica essa abordagem a seus pacientes
“Por que nós, médicos, optamos por tratamentos tão agressivos para os nossos pacientes se não os escolheríamos para nós? A razão disso é complexa”, diz Vyjeyanthi Periyakoil, professora de medicina da Universidade Stanford e coordenadora da pesquisa, que foi publicada nesta quarta-feira no periódico Plos One.
O trabalho ainda mostrou que, assim como os médicos, a maioria dos americanos (cerca de 80%) gostaria de evitar tratamentos agressivos e hospitalizações no fim de suas vidas. “Mas existe uma grande disparidade entre o que esses pacientes desejam e os cuidados que de fato recebem”, escrevem os autores no artigo.
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Comparação – O estudo de Stanford foi feito com o objetivo de avaliar se o comportamento dos médicos dos Estados Unidos mudou desde 1990, quando o país aprovou a Lei da Autodeterminação. A medida deu mais liberdade ao paciente terminal no momento de decidir os tratamentos aos quais será submetido. Para isso, os pesquisadores compararam as respostas de 1.081 médicos em um questionário aplicado em 2013 com as de outros 790 profissionais que haviam participado de um levantamento em 1989.
De acordo com a pesquisa, apesar da aprovação da lei, o comportamento dos médicos americanos mudou pouco nesses anos. De maneira geral, eles ainda optam por tratamentos mais agressivos para doentes terminais, apesar de pesquisas sugerirem que cada vez mais pacientes nessa situação preferem morrer em casa e sem passar por intervenções que prolongam a vida. Além disso, 88,3% dos médicos que participaram do estudo disseram que não escolheriam essa abordagem caso eles fossem os pacientes terminais.
O estudo concluiu que alguns fatores interferem na probabilidade de um médico optar ou não por tratamentos agressivos em pacientes terminais. Um deles é a especialidade do profissional. Pediatras, obstetras e médicos que atuam em emergências de hospitais, por exemplo, são mais propensos a abrir mão de intervenções agressivas. Já os radiologistas, cirurgiões e ortopedistas, tendem a indicar o tratamento com maior frequência.
De acordo com Vyjeyanthi Periyakoil, que é geriatra e especialista em cuidados paliativos, os profissionais preferem indicar tratamentos mais agressivos a pacientes terminais porque o sistema de saúde “recompensa médicos por agirem, e não por conversarem com seus pacientes”, diz. “Nosso padrão atual é o de ‘fazer’, mas em qualquer doença grave existe um ponto em que tratamentos muito intensos se tornam um problema maior do que a própria doença.”
Mundo – De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado no início do ano, todos os anos há 20 milhões de pacientes terminais no mundo, sendo que 1,2 milhão deles são crianças. Apenas um em cada dez desses pacientes recebe cuidados paliativos, que visam atenuar a dor e melhorar a qualidade de vida deles.