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Finasterida, melhor remédio para calvície, pode provocar impotência e não ser segura

Primeira meta-análise sobre os efeitos colaterais do remédio contra a queda de cabelo revela que há pouca informação sobre sua toxicidade e efeitos colaterais

Por Juliana Santos
3 abr 2015, 17h00

O efeito colateral mais conhecido – e temido – de um dos principais medicamentos disponíveis para combater a calvície é a disfunção sexual. Homens que tomam a finasterida podem apresentar dificuldade em ter e manter ereções e perda de libido. Ainda assim, o remédio continua sendo utilizado e faltam pesquisas contundentes sobre os riscos que ele apresenta para a vida sexual. Qual a probabilidade de alguém que toma finasterida apresentar esses problemas? Alguns homens estão mais propensos que outros a tê-los? Os efeitos continuam mesmo após a interrupção do tratamento? Essas e outras questões seguem sem resposta, dificultando a orientação de médicos e pacientes sobre o assunto, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira, no periódico Jama Dermatology.

A equipe de pesquisadores americanos e italianos que conduziu o estudo foi a primeira a ir a fundo nessas questões. Os cientistas analisaram 34 testes clínicos feitos com a finasterida e concluíram que as informações sobre a toxicidade e os efeitos colaterais do medicamento disponíveis são extremamente limitadas. Nenhum dos testes clínicos já realizados foi considerado adequado pela equipe.

“Nos últimos anos tem havido relatos de homens que desenvolvem problemas sexuais quando tomam finasterida para calvície e muitos especialistas dizem que isso não pode ser levado a sério porque testes clínicos foram feitos e eles mostraram que o medicamento é seguro”, disse ao site de VEJA o dermatologista Steven Belknap, pesquisador da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo. Diante dessa justificativa, ele decidiu analisar todos os testes clínicos a que teve acesso e encontrou neles uma falta de informação preocupante. “Há pouca informação realmente válida para dizer se essa droga é segura”, afirma.

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Questões sem resposta – De acordo com o cientista, informações básicas sobre os efeitos colaterais do remédio não puderam ser obtidas nos estudos analisados. A ciência ainda não explica, por exemplo, por que alguns homens podem apresentar a disfunção e outros não, o motivo de, em alguns casos, os efeitos persistirem mesmo quando o uso do medicamento é interrompido, o quão comum é o aparecimento desses problemas ou qual sua severidade.

“Os cientistas que fizeram esses estudos sabiam ou deveriam saber que a disfunção sexual pode acometer alguns homens que tomam a finasterida. As pesquisas deveriam ter sido desenhadas para detectar esse efeito”, diz Belknap.

Ele acredita que as chances de novos e melhores testes serem feitos é pequena, uma vez que a droga já está no mercado e há pouco interesse comercial em testá-la. “Perdemos a oportunidade de aprender sobre o efeito tóxico dessa droga porque os testes não foram feitos ou reportados adequadamente”, completa.

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Cuidados – O dermatologista brasileiro Arthur Tykocinski, membro da Sociedade Internacional de Transplante Capilar (ISHRS, na sigla em inglês), afirma que convive em seu cotidiano profissional com as conclusões da análise. “Muitos pacientes tomam a finasterida por anos a fio e grande parte dos estudos acompanha os homens por um ano ou menos”, diz.

O médico conta que recomenda o remédio apenas para pacientes jovens, na faixa dos 20 anos, que têm uma produção maior de testosterona e seus derivados e correm menos riscos de sofrer os efeitos nas funções sexuais. “É o único medicamento com efeito significativo sobre a calvície, mas ainda estamos um pouco às cegas e a tendência é que ele seja cada vez menos prescrito”, conta. A partir dos 40 anos, ele diz não indicar o tratamento.

Belknap considera que, para um medicamento de finalidade estética (ainda que a calvície possa ser uma questão importante para o comportamento psicológico masculino), o risco envolvido na prescrição é muito alto. “A finasterida definitivamente causa disfunção sexual em alguns homens. Por que ela ainda é usada é um mistério”, diz o pesquisador.

Criação – A finasterida atua no couro cabeludo bloqueando a ação da enzima 5-alfa-redutase, responsável por transformar a testosterona em dihidrotestosterona (DHT) – hormônio relacionado ao afinamento dos fios. No entanto, originalmente, foi criada para combater a hiperplasia da próstata – o aumento desta glândula que causa dificuldades para urinar. Na década de 1970, endocrinologistas americanos visitaram uma tribo na República Dominicana que tinha 2% das crianças que nasciam o sexo indefinido e, durante a puberdade, sofriam mudanças físicas e se transformavam em meninos. Eles descobriram que essa condição se devia a uma mutação genética que resultava em baixos níveis da enzima 5-alfa-redutase e, partindo desta descoberta, a farmacêutica Merck criou a finasterida.

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Posteriormente, o medicamento deixou de combater problemas na próstata e passou a ser utilizado contra a queda de cabelo em homens. Atualmente, mesmo em seu propósito inicial, a hiperplasia da próstata, a finasterida pode ser substituída. Apenas 20% dos homens com essa condição usam o medicamento. Novas drogas e até mesmo um stent, como os usados em cirurgias cardiológicas, podem ser usados para controlar essa condição.

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