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Crianças pequenas também devem fazer exercícios. E há até ‘academias’ exclusivas para elas

Voltados para estimular habilidades físicas e sociais das crianças, desde a fase de bebês, esses locais especializados também combatem o sobrepeso infantil

Por Natalia Cuminale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h36 - Publicado em 12 ago 2011, 23h21

Trapézio, trave, cama elástica – e piscina de bolinhas. Com música infantil agitada ao fundo, os instrutores pedem para que as crianças pulem e batam palmas. Ao mesmo tempo, as mães tentam fazer os mesmos movimentos que seus filhos para incentivá-los. Esse é cenário da MyGym, uma academia direcionada ao público infantil. No lugar de espelhos na parede, estão ilustrações coloridas de macacos e árvores. Em vez de pesos e pessoas musculosas, chocalhos e crianças entre seis semanas e 13 anos. É lá que a química Suzanne de Groote leva seus filhos Jean, 7 anos, e Anne, 3 anos. Desde que foi matriculado, há quatro meses, Jean, diz sua mãe, adquiriu mais equilíbrio, autoestima e ficou mais seguro. “Antes, ele não jogava futebol com os amigos da escola. Hoje, participa mais feliz das aulas de educação física”, conta Suzanne.

Confira entrevista com o médico pediatra Stephen Rice, do Centro Médico da Jersey Shore University

A princípio, a ideia de uma academia infantil pode parecer absurda. Mas o objetivo não é criar pequenos musculosos, e sim despertar nas crianças desde cedo o gosto pela atividade física e ajudá-las a desenvolver habilidades sociais. “Minha filha tem oportunidade de, em um ambiente controlado e seguro, se desenvolver a partir da orientação de profissionais”, conta Eloisa Kuszka, mãe de Bianca, de 2 anos. “Em relação a outras crianças, percebo o quanto participar de atividades assim ajudam na evolução dela”, diz.

A franquia americana já tem quase três décadas e está espalhada em 27 países – chegou ao Brasil faz dois anos. Entre os pais que mais procuram a academia, estão aqueles que têm filho único. Normalmente, diz a proprietária, Silvia Freitas, essas crianças também aprendem na academia que precisam dividir brinquedos, espaço e atenção com outras crianças, oportunidade que obviamente não teriam em casa. Também procuram o estabelecimento pais com filhos hiperativos, que precisam gastar bastante energia, e aquelas com problemas de coordenação motora. “Também atendemos crianças com sobrepeso, crianças que os pais querem tirar da frente da televisão. O melhor é que aqui elas se movimentam muito apenas brincando”, diz Silvia.

Controle de peso – Combater a obesidade infantil é uma consequência positivia desse tipo de iniciativa. A preocupação com exercícios nessa faixa etária fez com que o governo britânico, mês passado, criasse uma diretriz para a prática de atividades físicas para crianças menores de cinco anos. As novas medidas afirmam que crianças nessa faixa, que já saibam andar, devem ser fisicamente ativas por pelo menos três horas no dia – o que pode incluir a caminhada até a escola, brincadeiras infantis, entre outras opções. Da mesma forma, segundo a diretriz, as que ainda não conseguem andar também devem ser encorajadas a praticar atividades físicas desde as primeiras semanas de vida.

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Nos EUA – As crianças rechonchudas também preocupam as autoridades americanas de saúde. Em junho deste ano, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos indicou que crianças em idade pré-escolar devem fazer pelo menos 15 minutos de atividade para cada hora que passam na creche. Atualmente, recomenda-se que, a partir dos cinco anos, as crianças devem fazer atividade física de intensidade moderada e vigorosa durante 60 minutos ou mais diariamente, desde que seja apropriada ao estágio de desenvolvimento da criança e que propiciem prazer.

Graças a vários estudos realizados na última década, hoje é consenso entre médicos que as crianças podem – e devem – ser estimuladas à prática de exercícios desde as primeiras semanas de vida. O caráter lúdico da atividade, segundo ressaltam, deve sempre ser preservado. “O bebê não precisa ser colocado em um regime de exercício. É preciso que os pais ofereçam a oportunidade de o bebê se movimentar em um ambiente seguro. Com isso, ele será bastante ativo”, disse ao site de VEJA Stephen Rice, médico da Jersey Shore University Medical Center. Basta testar: se incentivadas, as crianças rolam, sentam, engatinham, escalam, ficam de pé e andam. “Deixá-las em uma cadeirinha ou em um berço durante o dia todo pode sim ser um problema na formação dessa pessoa.”

Rice é autor de um artigo publicado na revista científica Pediatrics, da Sociedade Americana de Pediatria. O estudo derrubou uma das possíveis barreiras contra a atividade física feita por crianças: o calor. Até 2000, acreditava-se que as crianças eram menos capazes de tolerar e se adaptar a atividades feitas no calor do que os adultos. O novo estudo, porém, mostra que elas podem fazer atividades físicas normalmente, desde que haja uma hidratação adequada.

“A atividade física tem que ser sempre incentivada. Considero o exercício como um remédio. Da mesma forma que se indica vitaminas para crianças, deve-se recomendar o hábito de praticar atividade física”, diz Silvana Vertematti, coordenadora do ambulatório de medicina esportiva da medicina do adolescente da Universidade Federal de São Paulo.

Não há dúvidas de que crianças ativas na infância se tornam adultos ativos. Segundo Mario Bracco, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein e autor do Guia Prático de Atividade Física na Infância e Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria, estudos populacionais feitos na Finlândia já comprovaram essa tese. Outros estudos mostraram a influência que os pais exercem para que as crianças se interessem por exercícios. “Os pais devem agir como incentivadores e moderadores, sem jamais esquecerem que o objetivo é a saúde”, afirma Bracco. “Não apoio a ideia de obrigar que crianças façam uma atividade física estruturada desde pequenas. É comum vermos competições infantis em que crianças perdem a essência da brincadeira e agem como mini adultos, que precisam responder a cobranças, atingir metas e vencer. Não é disso que se trata”.

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O caminho das pesquisas — Nos adultos, é comprovadamente reconhecido que 30 minutos de atividades diárias diminuem o risco de problemas cardiovasculares. No caso das crianças, essas pesquisas estão apenas começando. Atualmente, faltam estudos científicos para comprovar os benefícios diretos da atividade física na vida delas – da mesma forma que não há embasamento para dizer que os exercícios poderiam ter um impacto negativo. Ainda assim, é amplamente aceito pelas autoridades de saúde que atividade física pode prevenir a obesidade infantil.

A epidemia da obesidade infantil é uma realidade no mundo todo. Pesquisa do IBGE divulgada no ano passado mostrou que em dez anos, a quantidade de meninos com sobrepeso entre 5 e 9 anos dobrou (de 15% para 32%). No caso da obesidade, o número ficou quatro vezes maior (4,1% a 16,6%). No mesmo período, o total de meninas com sobrepeso subiu de 11% para 34,8% e a obesidade de 2,4% para 11,8%.

Para evitar exageros - Saiba reconhecer se o seu filho está sobrecarregado
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De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, apenas 46,1% das crianças do 9º ano do ensino fundamental de São Paulo são consideradas ativas. O estudo considerou ativa a criança que acumulou 300 ou mais minutos de atividades físicas no período de sete dias. “A atividade é benéfica por vários motivos. A criança tem ganhos cardiovasculares, metabólicos, estruturais, além do controle de peso, e o desenvolvimento de habilidades e coordenação geral. Melhora a socialização, autoestima e percepção de bem-estar geral”, diz Marcio Marega, fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein. “Não há porque não incentivar.”

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