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Morte de PMs: adolescente não tinha o perfil de quem mata a família, diz psiquiatra

Para especialista, caso também não tem característica de crime cometido durante surto mental ou motivado por psicopatia. “É preciso muita cautela ao atribuir mortes ao menino'', afirma Daniel Martins de Barros

Por Da Redação
8 ago 2013, 12h28

Desde que deu início às investigações sobre o assassinato do casal de policiais militares Luis Marcelo Pesseghini e Andreia Bovo Pesseghini, a polícia aponta como principal suspeito pelo crime o filho deles, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos. Segundo a tese dos investigadores, o menino teria apanhado a pistola .40 da mãe e disparado contra os familiares – além dos pais, a avó e uma tia-avó -, um a um. Em seguida, pegou o carro da mãe e foi para a escola. Ao voltar para casa, teria se matado com a mesma pistola. Para o psiquiatra Daniel Martins de Barros, coordenador do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, as investigações não indicam até agora, porém, que o jovem tenha o perfil psiquiátrico padrão de alguém capaz de cometer crimes como o familicídio ou parricídio. “É preciso muita cautela ao atribuir o crime ao menino. Tudo o que aconteceu é muito atípico”, salienta.

De acordo com Barros, crimes como o assassinato dos pais (parricídio) normalmente são motivados por históricos de violência familiar, abuso físico ou sexual e razões financeiras. “Essa pessoa, em geral, não se mata depois. Ela já colocou um fim no que a atormentava”, diz. As evidências não demonstram ainda que Marcelo tenha sido vítima de algum tipo de violência em casa. E mais: um jovem com fibrose cística que fosse de fato mal tratado pela família não teria conseguido sobreviver até os 13 anos.

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O familicídio, por outro lado, é um tipo de assassinato em massa que costuma ter como autoria um adulto. No perfil padrão da psiquiatria, normalmente essa pessoa é um homem casado que pode ser um pai de família. O crime costuma ser cometido em momentos de desespero – como uma falência – ou quando a pessoa tem dificuldade em aceitar uma separação conjugal ou familiar. Em depoimento à polícia, o melhor amigo de Marcelo afirmou que o jovem falava em matar os pais e, em seguida, fugir com o carro. “É muito raro que esse crime seja cometido pelo filho”, diz Barros.

Transtorno mental – É difícil estabelecer ainda se o crime, caso tenha sido mesmo cometido por Marcelo, foi motivado por uma crise, um surto mental momentâneo. Isso porque a maneira racional e organizada em que os assassinatos e o suicídio foram cometidos não segue o padrão de desorganização mental característica de um momento de surto. “Estava tudo muito articulado, muito calculado. Não aparenta algo que resultou de uma crise pontual”, afirma Barros.

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Já a psicopatia, descrita pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como uma condição que tem como característica principal um “padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios”, não aparenta, a priori, ser o caso de Marcelo. Entre as características centrais da personalidade de um psicopata estão a falta de empatia, tendência à insensibilidade, desprezo pelos sentimentos das outras pessoas, irresponsabilidade, irritabilidade e agressividade. Vizinhos, professora e familiares descreviam Marcelo como um rapaz dócil, tranquilo e carinhoso.

Armas – De acordo com um dado epidemiológico dos Estados Unidos, ter uma arma em casa aumenta em trinta vezes os riscos de um adolescente se matar. Até o momento, a apuração policial descobriu que na casa de Marcelo havia, pelo menos, cinco armas de fácil acesso. Segundo especialistas, é fundamental garantir que os filhos não tenham acesso a armas de fogo em casa. “O discurso de morte, o tirar a vida de alguém, o universo policial. Tudo isso devia ser visto como algo comum na família”, diz o psicanalista Sergio Braghini, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp). O adolescente vivia em um universo militarizado: ia frequentemente com seu pai ao quartel da PM.

Marcelo tinha ainda fibrose cística, uma doença crônica causada por um defeito genético, que faz com que as glândulas produzam secreções anormais que atingem o pulmão e impedem a produção de enzimas que ajudam a absorver os nutrientes dos alimentos. Essas secreções prejudicam os pulmões e podem causar infecções respiratórias graves. “Ter uma doença crônica é fator de risco para o suicídio”, diz Barros. Assim, uma hipótese levantada seria a de que o menino matou os familiares e a si mesmo para privá-los da dor de sua morte. “Mas isso é algo tão extremo e tão raro, que é preciso antes esgotar todos os cenários possíveis”, afirma Barros.

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