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Casos de dengue aumentam 240% em 2015. Saiba as razões

Levantamento do Ministério da Saúde divulgado nesta segunda-feira revela que foram registrados 460 500 casos da doença no primeiro trimestre deste ano. Em média, há 215 brasileiros infectados diariamente com a doença que combina um vírus hábil a um mosquito oportunista – e para a qual as estratégias de controle não funcionam

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h29 - Publicado em 13 abr 2015, 20h58

Os números de casos de dengue no Brasil em 2015 são 240% maiores em relação ao mesmo período do ano passado. O balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta segunda-feira revela que até 28 de março foram registrados 460.500 casos da doença, ante 135.300 no ano passado. Em média, 215 brasileiros contraem dengue por dia. O número de mortes por casos graves também aumentou. Foram 132 mortes em decorrência de dengue este ano, 29% a mais que em 2014.

De acordo com o levantamento nacional, São Paulo é Estado que lidera o total de casos, com 257.809 ocorrências. Em seguida está Goiás (45.819 casos) e Minas Gerais (30. 153). Os números no Brasil vêm se multiplicando por essa ser uma doença de difícil combate. De acordo com especialistas, a dengue reúne um vírus hábil, carregado por um mosquito urbano e oportunista, a estratégias públicas de combate que não estão sendo capazes de derrubar a dupla.

“Os dados demonstram que o controle da dengue é ineficiente. A grande disseminação no país tem a ver com a descontinuidade das atividades de vigilância epidemiológica que são interrompidas nos Estados e municípios. É preciso ter um controle constante do mosquito, sem isso, a dengue continuará crescendo”, afirma o médico Expedito Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Universidade de São Paulo (USP).

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Mosquito – Até hoje não há vacina e tratamento para a dengue, em nenhum lugar do mundo. O único método de combate é tentar matar o mosquito que o transmite, o Aedes aegypti. No entanto, ele foi moldado ao longo de séculos pela evolução para ser um alvo difícil. Esse mosquito é extremamente adaptado aos ambientes urbanos e, ao longo dos séculos, suas fêmeas aprenderam a colocar ovos apenas em ambientes artificiais que retêm água, como calhas, caixas d’água ou pneus. Ele jamais colocará seus ovos em poças d’água naturais, apenas se reproduz em grandes cidades.

Além disso, esses ovos adquiriam uma resistência incomum, capazes de sobreviver por meses (mesmo sem água). Essa característica faz com que eles possam viajar, espalhando-se por diversas regiões sem sofrer grande impacto, e também resistam ao tempo. Os ovos de um ano conseguem eclodir no ano seguinte, colaborando para as epidemias. Por isso, os surtos de dengue costumam acontecem em intervalos. Os ovos colocados em um verão com pouca incidência da doença podem dar origem a diversos mosquitos que infectarão um grande número de pessoas na estação do ano seguinte. Assim, o Brasil viu uma grandes epidemias em 2010, 2013 e, se os números continuarem crescendo em abril, mês historicamente preferido pelo mosquito para se reproduzir, 2015 tem tudo para ser um ano em que o país verá uma epidemia de dengue sem precedentes.

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a região Centro-Oeste apresentou até 28 de março a maior incidência de casos, com 393 por 100 000 habitantes (com 59 855 casos), seguida pelo Sudeste, com 357 por 100 000 habitantes (304 251 casos) e Norte, com 112 por 100 000 habitantes (19 402 casos) – segundo parâmetros internacionais, uma epidemia se caracteriza com 300 casos por 100 000 habitantes

A evolução ensinou também o Aedes a picar durante o dia, eliminando a concorrência de pernilongos ou borrachudos. Em qualquer hora do dia, um Aedes pode sugar o sangue humano e transmitir a dengue.

Esse inseto astuto, que desenvolveu uma série de mecanismos evolutivos para sobreviver, tem escapado de todas as táticas de prevenção e controle da doença conhecidas. As únicas estratégias de combate contra a dengue indicadas pela OMS são o uso de telas em janelas e portas, a supressão ou proteção de reservatórios de água que funcionam como criadouros e o uso de inseticidas. Até hoje, elas não erradicaram o mosquito, que vem se reproduzindo com velocidade alarmante no Brasil e ao redor do mundo.

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Vírus – Além de um mosquito muito adaptado ao homem, o vírus da dengue também aprendeu a se reproduzir com sucesso. Suas várias mutações derão origem a quatro sorotipos, que vão de DEN-1 a DEN-4. No entanto, a análise genética do vírus mostra que, em cada sorotipo há vírus que são tão diferentes como o homem e o chimpanzé. Ou seja, o vírus da dengue são muitos vírus em um só. Em São Paulo, a maior parte dos casos registrados é causada pelo sorotipo 1.

Além de ser muitos, o parasita desenvolveu uma estratégia sofisticada para sua reprodução. Ele se torna mais agressivo na segunda ou terceira infecções. Isso acontece porque ele consegue se ligar aos anticorpos do organismo e “enganar” o sistema imunológico. Uma pessoa que tem dengue pela primeira vez desenvolve células de defesa contra a doença. Se acontecer de ser picada pelo mosquito uma segunda vez, infectado por outro sorotipo, o novo vírus que entra no organismo consegue se colar aos anticorpos criados pela primeira infecção. Assim, o anticorpo funciona como um cavalo de Tróia, levando o vírus para dentro do sistema imune: a dupla entra com facilidade nas células imunológicas, que reconhecem o vírus como sendo uma célula de defesa. Desse modo, ele se multiplica rapidamente no organismo.

Por isso, ainda não há uma vacina capaz de combater com eficácia os quatro sorotipos ao mesmo tempo. Além de ser capaz de fazer o corpo humano desenvolver anticorpos contra os quatro sorotipos, a vacina também deve oferecer alta proteção. Do contrário, ao menos teoricamente, ela pode promover a incidência da forma grave.

“A dengue combina um vírus desafiador a um mosquito difícil. É uma doença que se espalhou junto com as metrópoles dos países subsedesenvolvidos, acompanhando problemas de saneamento e precariedade no abastecimento de água. Uma melhor infraestrutura urbana, controle do vetor, capacitação de profissionais para o controle e tratamento da doença junto à adesão pública são essenciais para combatê-la”, afirma Luna.

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