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“Brasil é país ideal para testar soluções em larga escala”, diz presidente de Saúde Global da Fundação Gates

Esse é o segundo ano em que o bilionário americano Bill Gates anuncia grandes investimentos em pesquisas de saúde brasileiras. Nesta entrevista exclusiva, o sul-africano Trevor Mundel explica as razões do interesse no país

Por Renata Betti, de Seattle
12 out 2014, 10h46

O bilionário americano Bill Gates anunciou na última terça-feira, em Seattle, nos Estados Unidos, um investimento de 11 milhões de reais em pesquisas brasileiras sobre desenvolvimento infantil. É o segundo ano que a Fundação Bill & Melinda Gates dedica volumosos recursos ao país, com o propósito de encontrar soluções na área da saúde. No ano passado, foram 8,4 milhões de reais destinados à prevenção e cuidado de nascimentos prematuros. Por trás de tanto dinheiro empregado no Brasil está a vocação do Sistema Único de Saúde (SUS) em ser uma plataforma que possibilita testes de iniciativas de saúde em larga escala.

“Este é o único país com mais de 100 milhões de habitantes a ter um sistema universal e gratuito. Se as inovações brasileiras derem certo podem ser expandidas para outros lugares do mundo com problemas parecidos”, diz Trevor Mundel, presidente de Saúde Global da Fundação.

O anúncio dos novos investimentos foi feito durante o Encontro Grand Challenges, entre 6 e 9 de outubro, que celebra os programas para acelerar inovações científicas e tecnológicas em saúde global. Em dez anos, mais de 1 000 projetos já receberam os recursos da instituição em 58 países. No Brasil, as soluções mais inovadoras ligadas aos primeiros anos da infância serão selecionadas até 13 de janeiro de 2015 pelos especialistas da Fundação. Os valores serão distribuídos entre cientistas e pesquisadores que ofereçam ideias que envolvam ciência, tecnologia e aspectos sociais.

Nesta entrevista exclusiva ao site de VEJA, Mundel, responsável pelo destino dos recursos de saúde da Fundação Bill & Melinda Gates, explica por que alguns dos maiores financiadores de pesquisas do mundo estão dando prioridade ao Brasil. O médico sul-africano, que visitou o Rio de Janeiro no fim do ano passado e conheceu nossos postos de saúde de perto, conta também como serão os investimentos nos próximos anos.

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Essa é a décima edição do Grand Challenges, uma iniciativa da fundação de Bill Gates para melhorar a saúde global, especialmente nos países mais pobres. Por que o interesse na área? O programa inicial foi anunciado por Bill Gates em 2003, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Todos sabem que a ciência e tecnologia podem contribuir para o avanço da saúde no mundo, mas como o investimento público nessas áreas era extremamente baixo nos países em desenvolvimento, a Fundação sentiu que precisava injetar fundos suficientes nesses países para que eles pudessem focar em pesquisas e encontrar soluções para os problemas típicos de sua realidade. Além disso, queríamos encontrar novos talentos entre os cientistas de diferentes partes do mundo.

Quando o Brasil entrou na mira da Fundação? Em 2011, quando começamos a dar bolsas de 100 000 dólares para que cientistas com ótimas ideias pudessem desenvolver seus projetos. No ano passado, o Brasil foi o primeiro país a receber um programa Grand Challenges exclusivo. Selecionamos doze pesquisadores focados em prevenção e cuidado de nascimentos prematuros, que ainda é uma questão a ser resolvida no país, e oferecemos 8,4 milhões de reais junto com o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Metade desse valor veio da Fundação Gates para financiar ideias inovadoras ligadas ao problema.

E por que destinar tanto dinheiro ao país? As inovações brasileiras podem ir para o sistema único de saúde, que atende 150 milhões de pessoas – é como um trampolim para verificar se funcionam em grande escala. Isso é uma oportunidade e tanto para testar iniciativas. Por exemplo: se as intervenções relacionadas à prevenção de nascimentos prematuros brasileiras do ano passado funcionarem no SUS, elas podem ser efetivas também no Malawi, na África, onde os partos prematuros representam 18% dos nascimentos.

No entanto, ainda não conseguimos solucionar problemas muito comuns em países pobres, como a dengue, que teve um surto este ano. Alguns problemas, como essas doenças tropicais, são negligenciadas. Mas vocês têm muito mais dinheiro e pesquisadores que outros lugares para desenvolver soluções inovadoras no combate a essas questões.

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A má qualidade da saúde brasileira é considerada pela população o problema número 1 do Brasil. Por que vale a pena continuar investindo nessa área e tentar levar essas ideias para fora? No ano passado, fizemos uma parceria com a Fiocruz para a produção de vacinas contra sarampo e rubéola. Foi a primeira vez que o Brasil produziu vacinas para outros países em desenvolvimento, principalmente a África. Como vocês já fabricavam a vacina em larga escala para a população brasileira, o processo de exportação foi simples – a diferença é que no mercado nacional a vacina é tríplice (rubéola, sarampo e caxumba) e, na África, para baratear o custo, passou a ser dupla. As vacinas são uma das áreas mais fortes do Brasil e é a maneira mais eficiente de se prevenir problemas de saúde em lugares pobres. Ao contrário de outras regiões, vocês não têm muita resistência a tomar esse medicamento.

Então qual a razão de investir, este ano, nos primeiros anos da infância? O que faz do Brasil um país único e promissor é a capacidade de encontrar soluções para diminuir graves problemas ligados ao desenvolvimento infantil. Há poucos anos, as taxas de mortalidade infantil eram altíssimas, uma questão que foi superada. Temos um grande interesse em entender como isso aconteceu.

O que o programa lançado para o Brasil neste ano busca entre os cientistas e pesquisadores? No ano passado começamos com um foco bastante específico e, por causa dos resultados positivos, decidimos expandir o escopo. Percebemos que não adianta ter ciência e tecnologia de alto nível se não levarmos em conta também os aspectos sociais. Por isso, o programa atual é mais aberto, considerando propostas em todas essas áreas. A chamada busca tanto soluções para problemas exclusivamente de saúde, como nascimentos prematuros, baixo peso dos bebês e nutrição materna inadequada, quanto para problemas sociais, como violência doméstica e baixo índice de leitura da mãe para a criança. O desenvolvimento infantil saudável é resultado de todos esses fatores.

A Fundação pretende continuar com os altos investimentos brasileiros nos próximos anos? Devemos seguir investindo no Grand Challenges e em outros programas de cooperação para a produção de vacinas brasileiras que vão atender países em desenvolvimento. Investimos 1 milhão de reais para apoiar os testes clínicos da vacina dupla produzida pela Fiocruz e poderemos destinar ainda mais recursos em fases futuras do projeto.

Qual foi a sua opinião sobre os postos de saúde brasileiros que conheceu? Eu visitei alguns centros nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Apesar de estar em um lugar muito pobre, o posto de saúde da Rocinha era surpreendentemente excelente. A mulher que tomava conta do lugar organizava a unidade de uma forma muito eficiente. Ela tinha uma planilha com controle das vacinas de cada paciente e eles tinham 99% de cobertura das crianças da região. Minha impressão geral foi positiva.

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