Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

TV venezuelana censura entrevista com Vargas Llosa

Vencedor do prêmio Nobel da Literatura, o peruano falava sobre Hugo Chávez quando o canal de televisão Globovisión suprimiu o bloco de respostas

Por Da Redação
3 Maio 2014, 07h26

Adquirida no ano passado por empresários ligados ao governo venezuelano, a rede de televisão Globovisión censurou nesta semana uma entrevista que o escritor peruano e vencedor do prêmio Nobel da Literatura, Mario Vargas Llosa, deu ao canal. Antes de se encerrar o segundo bloco da conversa, a jornalista Shirley Varnagy questionou Llosa sobre a possibilidade de seu recém-falecido desafeto, o colombiano Gabriel García Márquez, ter se inspirado no então presidente venezuelano Hugo Chávez para escrever uma crônica intitulada O enigma dos dois Chávez. A resposta, no entanto, não pôde ser conhecida, uma vez que a diretoria da Globovisión vetou que a transmissão do terceiro bloco da entrevista.

Leia também:

Maduro congela dólar em 2014 e ‘por muito mais tempo’

Venezuela: falta papel higiênico, mas salário mínimo sobe 10%

Oposição venezuelana apoia diálogo entre estudantes e governo

Continua após a publicidade

Inicialmente, a rede de televisão justificou à jornalista responsável pelo programa que problemas técnicos haviam impedido que o compilado de respostas fosse ao ar. Com o passar dos dias, contudo, Shirley comprovou que a entrevista havia sido cortada deliberadamente e pediu demissão. “A entrevista que fiz com Mario Vargas Llosa não foi transmitida na íntegra e eu não ficarei em silêncio sobre isso”, postou a repórter, após a transmissão incompleta da conversa com o peruano.

Segundo o jornal El País, a jornalista usou o Twitter para publicar as declarações censuradas de Llosa. Como uma forma de minimizar as críticas recebidas, a Globovisión também publicou na rede social um vídeo com a parte da entrevista que não foi ao ar. Nas duas versões fica evidente o que a rede de televisão queria ocultar: Llosa dizendo que Chávez viveu a utopia socialista quando ela começava a desmoronar, mas que conseguiu garantir-lhe uma sobrevida graças ao seu carisma. “Os próprios venezuelanos se deram conta de que essa utopia vai fracassar em seu país e que ela criou tensões muito fortes que foram herdadas pelo presidente Nicolás Maduro“, disse.

Leia mais:

Torre de David, a favela de 45 andares de Caracas

‘Bigode grosso’ é a nova arma de propaganda de Maduro

Supermercado estatal é o retrato da falência da Venezuela

Além da descarada censura, a Globovisión também tentou se sabotar para que o público deixasse de acompanhar a entrevista. O programa, que teria duração de meia hora, foi incessantemente interrompido por dois longos anúncios em prol do governo venezuelano. Um tratava do aumento de 30% do salário mínimo no país que sofre com um índice galopante de inflação de 60% ao ano, enquanto o outro abordava a morte de Eliézer Otaiza, o ex-chefe de inteligência de Chávez assassinado durante esta semana. O El País destaca que as notícias não eram urgentes e não havia a menor necessidade de interromper a programação para transmiti-las.

Continua após a publicidade

Nos bastidores, fontes próximas à diretoria da rede de televisão afirmam que houve receio com relação ao impacto negativo que as declarações de Llosa poderiam trazer para o canal. “Este é um momento muito difícil para o jornalismo venezuelano. Os donos estão submetidos a muitas pressões”, disse um dos entrevistados, em condição de anonimato. A Globovisión, que se notabilizou como um canal de oposição ao governo, passou a endossar o discurso do chavismo depois de ser vendida em maio de 2013. Uma série de demissões dentro da emissora foi desencadeada após a brusca mudança de postura determinada pelos novos proprietários.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.