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Territórios no limbo internacional: o futuro da Crimeia?

Transnístria, Ossétia do Sul, Nagorno-Karabakh, Chipre do Norte e outros 'países inexistentes' onde os habitantes enfrentam isolamento e dependência

Por Jean-Philip Struck
13 Maio 2014, 05h28

Se considerada a propaganda oficial, a maioria dos moradores da Crimeia saudou com entusiasmo a separação da região da Ucrânia e sua posterior anexação pela Rússia e a oportunidade de aproveitar os benefícios de ser incorporada a uma potência. Mas o futuro pode não ser tão dourado se a Crimeia tiver como exemplo outros territórios que conseguiram se separar à força nas últimas décadas, mas falharam em obter reconhecimento internacional ao novo status pretendido, seja como nação independente ou pela incorporação a outro país.

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A adaptação da Crimeia à nova condição não está sendo nada tranquila. A transição ocorre em meio ao caos provocado pelas incertezas sobre como a região vai ser administrada. Poucas instituições funcionam normalmente e ações judiciais não têm mais data para serem analisadas. Muitos bancos fecharam as portas, e também multinacionais como o McDonald’s e redes de supermercados. Em reportagem recente, o jornal The New York Times (leia a íntegra, em inglês) entrevistou um homem recém-chegado do território ucraniano – agora outro país – que simplesmente não sabia se ainda era considerado legalmente morador da Crimeia. Para conseguir a resposta para a pergunta aparentemente simples, ele teria de esperar em uma longa fila, já que sua senha na lista para conseguir passaportes era a de número 4.475. “Eles divulgaram linhas diretas, mas ninguém nunca atende”, reclamou Roman Nikolayev, um gerente de transportes aposentado de 54 anos de idade, para quem um lugar que antes era “muito bem organizado”, se tornou “uma bagunça”.​ (Continue lendo o texto)

Mapa Abkházia, Ossétia do Sul, Nagorno-Karabakh
Mapa Abkházia, Ossétia do Sul, Nagorno-Karabakh (VEJA)

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Outros casos – É o mesmo roteiro de incertezas pelo qual passaram diversos territórios que conseguiram o controle de sua área, proclamaram sua independência, mas não conseguiram reconhecimento. Para ficar apenas nos problemas mais óbvios é possível mencionar o isolamento diplomático, a ausência em organismos internacionais e no sistema financeiro mundial, até questões mais práticas, como qual passaporte seus cidadãos poderão usar para viajar. A economia também passa a depender quase exclusivamente de ajuda externa – envio de remessas de expatriados ou patrocinadores externos interessados na separação.

Báltico: o próximo alvo?

Desde que estourou, a crise da Ucrânia está sendo acompanhada com apreensão pelas autoridades da Lituânia, da Letônia e da Estônia. Cerca de um milhão de russos vivem nesses três países. A maior parte está na Letônia, onde eles são 27,8% da população. Na Estônia, são 24,8%. Na Lituânia, 5,8%. É de se supor que elas sejam as próximas vítimas de movimentos separatistas patrocinados por Moscou, que há anos reclama que essas populações são marginalizadas pelos governos locais.

Mas o campo de manobra da Rússia para patrocinar esse tipo de movimento nos Estados Bálticos e ajudar a formar um território “independente” é mais limitado. Falta aos russos do báltico o mesmo nível de organização e poder local mostrado pelos russos da Ucrânia. Além disso, ao contrário da Ucrânia, as três nações fazem parte da União Europeia, usam o Euro e, o mais importante, são membros da Otan.

A Rússia, sempre ela, sustenta ao menos três territórios que se consideram “independentes” mesmo sem ter reconhecimento internacional. Nos três casos, Moscou assumiu a responsabilidade pelo funcionamento da economia e pela livre-circulação dos habitantes, ao emitir passaportes russos, uma vez que os documentos locais não são aceitos na maior parte do mundo. Em 2008, usando o mesmo pretexto que aplica agora à Ucrânia, o da necessidade de defender cidadãos russos, a Rússia mandou invadir a Geórgia, um adversário do Kremlin na região do Cáucaso. Dois nacos desse país, a Abkházia e a Ossétia do Sul, declararam autonomia e caíram na esfera de influência de Moscou – tropas russas ainda são presentes na região. No entanto, a contínua persistência da Geórgia em recuperar os territórios bloqueou o acesso às regiões separatistas. Apenas um punhado insignificante de países – além da Rússia, é claro – reconhece a Abkházia e a Ossétia como países independentes.

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Outro território separatista patrocinado por Vladimir Putin é a Transnístria, região vizinha à Ucrânia na Moldávia. A capital da Transnístria, Tiraspol, parou no tempo. Símbolos soviéticos estão por toda parte, até mesmo na bandeira. A atuação quase nula de empresas estrangeiras na região levou à concentração de diversos ramos industriais e de serviços nas mãos de poucas empresas controladas por simpatizantes do Kremlin. A parte do orçamento que não é coberta por Moscou é financiada pelo contrabando e outras atividades criminosas, segundo organizações internacionais. Para driblar o isolamento, os habitantes usam passaportes russos ou da Moldávia para poderem viajar. Um jovem entrevistado pela revista on-line Slate falou sobre a falta de expectativa diante de uma possível anexação à Rússia (leia a íntegra, em inglês). “Mesmo se a Rússia nos anexar, a situação não vai melhorar. Na Rússia é bom morar em Moscou ou em São Petersburgo. O dinheiro que a Rússia dá para a Transnístria agora continuará o mesmo. Eles só mudariam os passaportes, nada mais”.

Mas nem todos os antigos territórios soviéticos que ainda tentam se separar são patrocinados pela Rússia. Em uma área esquecida do Caúcaso, o minúsculo território de Nagorno-Karabakh conseguiu se separar pelas armas do Azerbaijão com a ajuda da aliada Armênia no começo dos anos 90. Hoje, tem como patrocinador externo a paupérrima Armênia, que tem dificuldade em enviar recursos. E nem mesmo o governo armênio reconhece Nagorno-Karabakh como um país. A economia é quase totalmente dependente do envio de remessas de cidadãos que emigraram para a Rússia, os Estados Unidos, a Europa Ocidental e, obviamente, a vizinha Armênia.

Mapa do Chipre
Mapa do Chipre (VEJA)
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