Rússia reconhece eleição separatista no leste ucraniano
Considerada ilegal por Kiev e por seus aliados ocidentais, a votação deste domingo vai eleger os governantes dos redutos rebeldes de Donetsk e Lugansk
Contrariando diversas pressões internacionais, a Rússia afirmou que vai “respeitar” o resultado das eleições promovidas pelos rebeldes separatistas do leste ucraniano neste domingo. Considerada ilegal por Kiev e seus aliados ocidentais, a votação que vai eleger os líderes das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e de Donetsk abala o frágil cessar-fogo na região e deve acentuar ainda mais o conflito que já deixou mais de 3.700 mortos e provocou a pior crise entre Rússia e Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
“Respeitamos a vontade dos habitantes”, afirmou o Kremlin, citado por agências de notícias russas. O Ministério russo das Relações Exteriores defendeu o diálogo entre os rebeldes eleitos e o governo de Kiev. “Os que foram eleitos receberam um mandato para resolver os problemas e restabelecer a vida normal nas regiões do leste da Ucrânia.” Autoridades rebeldes e a Rússia argumentam que a formação de uma liderança separatista legítima seria o primeiro passo para restaurar a paz na região.
Leia também:
ONU e UE condenam pleito em regiões separatistas da Ucrânia
Rússia e Ucrânia assinam acordo sobre fornecimento de gás
O aparente otimismo da chancelaria russa, no entanto, não encontra reflexo no lado oposto. No domingo, o presidente ucraniano Petro Poroschenko classificou o pleito como uma “farsa realizada sob a ameaça de tanques” por duas organizações terroristas e pediu para que a Rússia não reconhecesse o pleito. Além de Ucrânia, os Estados Unidos e a União Europeia também consideraram a eleição como uma grave violação ao acordo de cessar-fogo. Em comunicado, a UE declarou que o pleito nas regiões separatistas é um “novo obstáculo” à paz e desrespeita o acordo de Minsk, que previa para 7 de dezembro as eleições locais nos redutos rebeldes.
Resultados – De acordo com os primeiros resultados divulgados pela Comissão Eleitoral, os atuais mandatários nos dois redutos rebeldes receberam o apoio das urnas. Em Donetsk, o atual primeiro-ministro Alexandre Zakhartchenko lidera com mais de 70%. O seu partido, o “República de Donetsk”, recebeu 65,11% dos votos nas eleições legislativas. Em Lugansk, o também atual premiê Igor Plotnitsky, um veterano militar soviético de 50 anos, despontava como o governante eleito.
Entre os moradores do leste ucraniano que foram às urnas, o sentimento era dividido: para alguns, o voto representou um ato de rebeldia, uma vingança por semanas de destruição atribuídas ao governo de Kiev. Para outros, foi uma tentativa de capacitar qualquer liderança na região na esperança de uma restauração da paz. Apesar disso, muitos deles estavam conscientes de que as eleições também poderiam aumentar o risco de um retorno à guerra.
(Com agências France-Presse e Estadão Conteúdo)