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Qual é a gravidade do vazamento de petróleo no Golfo do México?

Por The New York Times
4 Maio 2010, 10h44

O derramamento de petróleo no Golfo do México é grave. Mas quão grave ele é? Alguns especialistas foram rápidos ao prever o apocalipse, projetando imagens cruéis com 1.600 quilômetros de águas irreparáveis e praias em risco, pesca prejudicada por várias temporadas, espécies frágeis extintas e uma indústria economicamente arrasada por anos.

O presidente Barack Obama chamou o vazamento de “um possível desastre ambiental sem precedentes.” E alguns cientistas previram que o petróleo poderá se prender na correnteza do golfo, levando a destruição para a Costa Atlântica. Ainda sim a explosão da plataforma de águas profundas não é sem precedentes, nem é o pior acidente de petróleo da história. Seu impacto final dependerá de uma lista de variáveis, que incluem o clima, correntes oceânicas, as propriedades do petróleo e o sucesso ou fracasso dos esforços para estancar o fluxo.

Tragédias – Como disse um especialista, é primeira batalha desta guerra. Ninguém sabe quem vai vencer no final. O poço, do qual vazam sem parar cerca de 800.000 litros de petróleo por dia, poderia continuar aberto por anos e mesmo assim não chegaria nem perto dos 136 bilhões de litros de petróleo derramados pelas forças do Iraque quando deixaram o Kuwait em 1991. Não chega nem perto da magnitude do Ixtoc I, que explodiu na baía de Campeche, no México, em 1979, e espalhou por volta de 500 milhões de litros de petróleo antes que o poço fosse controlado.

Terá que ficar muito pior até alcançar o impacto do acidente do petroleiro Exxon Valdez em 1989, que contaminou 2.000 quilômetros de um intocado litoral e matou milhares de aves marinhas, lontras e focas, além de 250 águias e 22 orcas.

Ninguém, nem mesmo os advogados das indústrias de petróleo, está defendendo o acidente. A área contaminada do golfo continua aumentando e já foi encontrado petróleo em algumas áreas pantanosas na ponta da Louisiana. As praias e os arrecifes das ilhas de Flórida correm perigo se o óleo entrar na correnteza do golfo.

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Esperança – Na segunda-feira, porém, o vento estava levando o petróleo para a direção contrária, para longe da correnteza. Os piores efeitos do vazamento ainda estão para acontecer. E se os esforços para conter o petróleo tiverem pelo menos um pouco de sucesso e o clima cooperar, o pior poderá ser evitado. “Até agora o que as pessoas estão temendo ainda não se concretizou”, disse Edward B. Overton, professor de ciência ambiental da Faculdade do Estado de Louisiana e perito em vazamentos de petróleo. “Acham que será como o Exxon Valdez. Eu não imagino essa gravidade aqui a não ser que as coisas piorem muito.”

Overton disse ter esperança que os esforços da British Petroleum para colocar tampas de concreto na boca do poço danificado vai funcionar, embora tenha dito se tratar de uma missão complicada e que poderia até piorar as coisas se danificar outros canos submarinos.

“O céu não está desabando”, disse Quenton R. Dokken, biólogo marinho e diretor executivo da Fundação Golfo do México, um grupo de conservação em Corpus Christi, Texas. “Nós com certeza caímos em um buraco e teremos que lutar para sair dele, mas isso não significa que é o fim do Golfo do México.”

Engenheiros falaram que o tipo de petróleo que sai do poço é mais leve que o grosso espalhado pelo Exxon Valdez, evapora com mais rapidez pela superfície e é mais fácil de queimar. Também aparenta responder melhor ao uso de dispersantes, que ajudam a reduzi-lo. Ainda sim o petróleo continua capaz de causa danos significativos, principalmente quando se funde com a água e forma uma espécie de mousse que flutua e pode percorrer longas distâncias.

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Estrago – Jacqueline Savitz, cientista sênior da Oceana, um grupo ambiental sem fins lucrativos, disse que grande parte do estrago já está se espalhando para longe do litoral e fora da vista da vigilância aeronáutica e dos navios de pesquisa. “Algumas pessoas estão dizendo que, como ainda não atingiu a costa, está tudo bem”, ela diz. “Mas muitos animais vivem no oceano, e um vazamento deste é prejudicial assim que atinge a água. Colocaram em risco as tartarugas marinhas, camarões, caranguejos e as ostras. Muitas dessas espécies já estão sendo atacadas há dez dias. Nós estamos esperando para ver como é grave quando chegar ao litoral, mas nunca saberemos os verdadeiros impactos no oceano.”

O impacto econômico é tão incerto quanto os danos ambientais. Com milhões de galões na água, alguns especialistas preveem um grande dano à economia. Especialistas no Instituto de Pesquisa Harte para Estudos do Golfo do México em Corpus Christi, por exemplo, estimam que 1,6 bilhão de dólares da economia anual – incluindo o turismo, pesca e outros – estão em risco. “E essa é só a ponta do iceberg”, diz David Yoskowitz, do Instituto de Economia Social. “Ainda é cedo e existem muitas chances de ocorrerem impactos negativos.”

Até quando? – O golfo não é um ambiente primitivo e já sobreviveu a problemas crônicos e agudos de poluição anteriormente. Refinarias e indústrias químicas que cruzam a costa do México até o Mississipi derramam incontáveis litros de poluentes na água.

Após o derramamento do Ixtox a 31 anos atrás, o segundo maior da história, o golfo ricocheteou. Em três dias houve um pequeno rastro do vazamento fora da costa mexicana, agravado por um acidente com um petroleiro no golfo poucos meses depois, que liberou quase 10 milhões de litros, segundo especialistas. “O golfo é tremendamente vivo”, disse Dokken. “Mas nós sempre temos que nos perguntar o quanto podemos aguentar de desastres como esse e nos recuperarmos. Como cientista, preciso reconhecer que simplesmente não sei.”

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