Primeiro-ministro da Turquia diz que vai renunciar em 22 de maio
Ahmet Davutoglu, que mantém diferenças políticas com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deve deixar o governo durante convenção de seu partido
O primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse nesta quinta-feira que vai renunciar ao cargo em 22 de maio, quando deve ocorrer uma nova convenção do partido. A saída de Davutoglu acontece após vinte meses de governo, em um movimento inesperado que reforça a liderança política do presidente Recep Tayyip Erdogan.
O anúncio do premiê foi feito na sede do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), em Ankara, e aconteceu na manhã seguinte a uma reunião com Erdogan para discutir as diferenças políticas. Em seu discurso, Davutoglu disse que deixará o cargo por “escolha, e não necessidade”. Uma das razões para a sua decisão, segundo ele, foi o fato de ele ter perdido sua autoridade para indicar líderes do partido nas províncias do país.
Davutoglu ainda reforçou os seus feitos enquanto primeiro-ministro e disse que dirigiu o país com “uma vontade de ferro” em meio a ameaças terroristas. Ele também afirmou que a sua saída não prejudica a estabilidade do governo atual. “Um forte governo do AKP continuará pelos próximos quatro anos”, declarou.
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Consequências – A iminente saída de Davutoglu abre caminho para que Erdogan indique o novo primeiro-ministro, leal a ele, contribuindo para seu objetivo de centralizar o poder.
Quando Davutoglu se tornou primeiro-ministro da Turquia, em agosto de 2014, esperava-se que ele tivesse um papel secundário no governo. No entanto, o premiê tentou agir de maneira independente em algumas ocasiões e, em outras, foi indiferente a decisões do presidente turco. Os dois políticos divergem sobre diversos assuntos, entre eles o julgamento de jornalistas do país, que o primeiro-ministro é contra, e a retomada do processo de paz com os rebeldes curdos, com o qual Erdogan discorda.
A saída de Davutoglu do cargo coloca fim aos seus esforços de se estabelecer como herdeiro legítimo de Erdogan. Além disso, priva aliados do país na Organização Tratado do Atlântico Norte (Otan) de um parceiro crítico que liderou os esforços internacionais para pôr fim à crise dos refugiados alimentada pela guerra na Síria.
(Da redação, com Estadão Conteúdo)