O legado de George W. Bush: uma pedra no sapato do Partido Republicano
O ex-presidente deixou o comando do país em 2009 com popularidade em baixa histórica, duas guerras em andamento e em meio a maior crise econômica desde 1929
George W. Bush está há quase sete anos afastado da atenção midiática, mas a campanha eleitoral nos Estados Unidos reabriu o debate sobre seu legado presidencial. O tema é bastante incômodo para o Partido Republicano, que parece não conseguir encaixar os mandatos do mais jovem dos dois ex-presidentes Bush em sua história, especialmente no que diz respeito a seu intervencionismo na política externa – motivo de posições conflitantes entre os próprios aspirantes republicanos e potencial empecilho para a campanha de seu irmão Jeb.
Bush deixou o poder em 2009 com uma das mais baixas taxas de aprovação da história americana, 34%, e desde então manteve um perfil discreto. O presidente americano entre 2001 e 2009 evitou se posicionar em discussões políticas recentes ou criticar seu sucessor, Barack Obama, mas a campanha de seu irmão o alçou de volta ao palco político nacional. Ele agora se dedica à arrecadação de fundos para a corrida presidencial de Jeb.
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No início da corrida, em maio, Jeb fez declarações contraditórias sobre a decisão de seu irmão de invadir o Iraque em 2003, considerada um erro pela maioria dos americanos. Na ocasião, o ex-governador da Flórida disse que não teria invadido o Iraque se estivesse na Casa Branca, mas desde então se viu obrigado, em várias ocasiões, a defender o histórico de seu irmão. “Há uma coisa sobre a qual tenho certeza: meu irmão nos manteve seguros” após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, disse Jeb Bush durante o primeiro debate republicano em setembro, em resposta às críticas do magnata Donald Trump.
Esse panorama se complicou com a publicação da biografia de George H. W. Bush (1989-1993) na última terça-feira. No livro, o ex-presidente se volta contra dois dos principais colaboradores de seu filho: o ex-vice-presidente Dick Cheney e o ex-secretário de Defesa, Donald Rumsfeld. O Bush pai assegura no livro que Rumsfeld era “um sujeito arrogante” que “feriu o presidente” e que Cheney “se transformou em um extremista” que levou ao cargo “uma espécie de Departamento de Estado próprio”.
Fogo amigo – “Mas isso não é culpa de Cheney. É culpa do presidente. A responsabilidade final recai sobre ele”, acrescenta Bush pai no livro, escrito pelo respeitado editor Jon Meacham. Essa crítica direta “surpreendeu” George W. Bush, que nunca havia ouvido essas opiniões de seu pai, “nem durante a presidência, nem depois”, declarou Meacham na sexta-feira passada à rede de televisão CNN.
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Alguns analistas atribuem as críticas do patriarca a uma intenção de proteger a campanha de Jeb dos erros cometidos por seu irmão, ao ressaltar o fato de que George W. se cercou de assessores inadequados e sugerir que seu filho mais novo não cometeria o mesmo erro. É difícil, em qualquer caso, que essa mensagem ajude a redimir o contestado legado de George W. Bush.
O ex-presidente George W. Bush, no entanto, não parece muito preocupado pelo veredicto histórico sobre sua Presidência: em 2010, ele escreveu em suas memórias que o momento do balanço final de seus dois mandatos chegará apenas após sua morte. Mas, para seu partido, o fato de que o último republicano na Casa Branca tenha deixado o país com conflitos no Iraque e no Afeganistão e a maior recessão econômica desde a crise de 1929 continua sendo uma pedra no sapato e, para alguns analistas, um obstáculo na hora de tirar os democratas do Salão Oval.
(Com agência EFE)