Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Nova Esperança para o Haiti

Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon ressalta importância de a comunidade internacional e as instituições financeiras intensificarem apoio ao país atingido por um terremoto em 2010 e que sofre com uma epidemia de cólera

Por Ban Ki-moon
13 ago 2014, 11h46

Durante uma recente visita à comunidade rural de Los Palmas, no Haiti, tive a oportunidade de conversar com as famílias diretamente afetadas pela epidemia de cólera que aflige o país desde o terremoto de 2010. Um homem explicou que a doença não só matou a sua irmã, como também a sua sogra, que faleceu ao caminhar durante horas tentando chegar ao hospital mais próximo. Agora, ele e sua esposa estão cuidando de cinco sobrinhos órfãos. No Haiti hoje, histórias como esta não são incomuns. Na verdade, milhares de pessoas de todo o país têm sofrido provações e tragédias semelhantes.

Contudo, existem também sinais de esperança. O aumento da participação da comunidade e as mudanças nos hábitos de higiene contribuíram para livrar da cólera as mulheres, os homens e as crianças de Los Palmas e da aldeia vizinha de Jacob (uma inversão dramática em relação aos últimos anos) e também reduziu o risco de contrair outras doenças transmitidas por águas impróprias. Uma das famílias que conheci, por exemplo, mostrou-me orgulhosa um novo filtro de água.

A campanha é o passo mais recente das Nações Unidas para eliminar a cólera do Haiti. A ONU e o governo haitiano recentemente criaram um comité de alto nível encarregado de programar uma estratégia abrangente que cobre todos os aspectos de prevenção e resposta à cólera, incluindo maior assistência para famílias e comunidades.

Leia também:

Nova esperança para a Índia

Pela França no coração da Europa

As fazendas do futuro da África

Continua após a publicidade

Bretton Woods faz 70 anos

Esse tipo de abordagem por parte da comunidade será fundamental para o sucesso da campanha de saneamento total que eu e o primeiro-ministro haitiano, Laurent Lamothe, lançamos em Los Palmas durante a minha visita. A iniciativa contribuirá para melhorar as condições de saúde de três milhões de pessoas em áreas de risco elevado durante os próximos cinco anos por meio de incentivos ao investimento das famílias em sanitários, proporcionar melhor oferta de produtos e serviços em matéria de saneamento a preços acessíveis e garantir que as escolas e os centros de saúde disponham de água e infraestruturas de saneamento adequadas. Pouco antes de deixar a aldeia, assentamos a primeira pedra simbólica de uma nova fonte de água segura.

A campanha constitui o passo mais recente de uma operação abrangente apoiada pelas Nações Unidas com o objetivo de eliminar a cólera no Haiti. A ONU e o governo haitiano criaram recentemente um comitê de alto nível responsável pela aplicação de uma estratégia abrangente que cobre todos os aspectos à prevenção e resposta à cólera, incluindo o aumento do nível de assistência às famílias e às comunidades.

Continua após a publicidade

Além disso, o Ministério da Saúde haitiano e a Organização Pan-americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde estão começando a segunda fase de uma iniciativa de vacinação financiada pelas Nações Unidas dirigida a 600.000 pessoas que vivem em áreas onde as situações de cólera persistem; 200.000 pessoas serão vacinadas nos próximos dois meses e mais 300.000 até o final deste ano. Durante a primeira fase, no ano passado, 100.000 pessoas foram vacinadas.

Estes esforços já reduziram significativamente o número de vítimas desta epidemia. Durante os primeiros meses deste ano, o número de casos de cólera e de mortes diminuiu cerca de 75% em relação ao mesmo período de 2013, atingindo o nível mais baixo desde o início do foco da doença.

É certo que o Haiti ainda regista o maior número de casos de suspeita de cólera no hemisfério ocidental, o que é inaceitável em um mundo tão amplo em termos de conhecimento e riqueza. No entanto, o país está numa trajetória em direção ao sucesso. Assim como foi eliminada de outros ambientes difíceis em todo o mundo, a cólera pode ser eliminada do Haiti.

Continua após a publicidade

As perspectivas do Haiti estão melhorando também em outros domínios devido, em parte, ao empenho da ONU para com o país. Desde 2004, a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) tem trabalhado para melhorar o ambiente de segurança, apoiar o processo político, fortalecer as instituições governamentais e proteger os direitos humanos. Também desempenhou um papel importante na estabilização e reconstrução do país após o terremoto de 2010.

Como resultado dos esforços envidados pela Minustah, bem como por outras agências da ONU, a situação de segurança melhorou consideravelmente, sustentada por um sistema judiciário mais forte e forças policiais nacionais mais eficazes. Enquanto isso, o número de matrículas no ensino básico aumentou de 47%, em 1993, para quase 90% atualmente.

Dada a persistência da fragilidade política e social, uma economia fraca e finanças públicas severamente restritas, o progresso contínuo no Haiti está longe de ser certo. A fim de aumentar as chances de alcançar os seus objetivos de desenvolvimento, o Haiti deve seguir com seus planos para celebrar em alguns meses as eleições legislativas e locais, que há muito se fazem esperar, seguidas de eleições presidenciais no próximo ano. Os líderes haitianos de todos os quadrantes do espectro político devem superar as suas diferenças a fim de garantir que o processo eleitoral seja conduzido de forma justa, contribuindo assim para a promoção do Estado de direito, proteger os direitos humanos e consolidar as bases democráticas do país.

Continua após a publicidade

A continuidade do apoio da comunidade internacional será igualmente fundamental. Mais urgente, o Haiti precisa de ajuda para o financiamento do Plano Nacional para a Eliminação da Cólera, de 2,2 bilhões de dólares a ser feito em um prazo de dez anos. Até ao momento, foram mobilizados apenas 40% dos 448 milhões de dólares que serão necessários durante os dois primeiros anos de investimentos nos domínios do alerta precoce, da resposta rápida, da água, do saneamento e das vacinas, e apenas foram prometidos 10% do montante total.

O povo haitiano tem toda a solidariedade e determinação necessária para superar a epidemia da cólera e alcançar o desenvolvimento econômico inclusivo. Mas a comunidade internacional (em particular as instituições financeiras internacionais que operam na região) deve intensificar o seu apoio.

Fiquei profundamente comovido pela hospitalidade e solidariedade que vi em Los Palmas. No entanto, eu também compreendo que os haitianos esperam que o seu governo e a ONU cumpram as promessas feitas naquele dia. Se cada um fizer a sua parte, poderemos proporcionar aos haitianos um futuro mais próspero, mais saudável, que eles merecem.

Continua após a publicidade

Ban Ki-moon é o secretário-geral das Nações Unidas

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate 2014

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.