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Cartéis do tráfico espalham morte pelo México

Desde 2006, já são 28.000 vítimas de chacinas, a maioria delas imigrantes ilegais

Por Cecília Araújo
26 ago 2010, 10h04

Grupos paramilitares aproveitam o desejo dos estrangeiros de atravessar a fronteira para convencê-los a transportar drogas para os Estados Unidos

Os 72 corpos encontrados na terça-feira em um rancho no estado mexicano de Tamaulipas – quatro deles de brasileiros – somam-se a um número surpreendente de vítimas de chacinas no país: cerca de 28.000 mortos, desde 2006, a maioria imigrante ilegal que se envolveu com o narcotráfico.

Nos últimos anos, o México vem assistindo a uma escalada de violência em decorrência dos constantes conflitos entre as forças de ordem e os cartéis. Segundo a polícia mexicana, casos em que os narcotraficantes se aproveitam de imigrantes ilegais são cada vez mais comuns. Os grupos paramilitares tentam aproveitar o desejo dos estrangeiros de atravessar a fronteira para convencê-los a transportar drogas para os Estados Unidos.

A chacina recém-descoberta é considerada a maior da história do México. Somente em 2010, esta é a terceira vez em que autoridades encontram valas clandestinas com dezenas de corpos das vítimas de narcotraficantes. Houve outros dois massacres violentos: um em Guerrero, com 55 mortos, e outro em Monterrey, com 51 vítimas.

Segundo a Comissão de Direitos Humanos, em 2009 ao menos 10.000 imigrantes, a maioria centro-americanos, foram sequestrados no México. Em todos os casos os sobreviventes identificaram os criminosos como sendo membros do cartel Los Zetas. Integrantes do grupo também são responsabilizados pelo assassinato do prefeito da cidade de Santiago, Edelmiro Cavazos, no Estado de Nuevo León.

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Já o caso mais recente – dos 72 corpos encontrados esta semana – chama a atenção por envolver vítimas brasileiras, além de equatorianos, hondurenhos e salvadorenhos. De acordo com o consulado brasileiro no México, ainda não se pode afirmar nada sobre a identidade das pessoas que foram mortas, nem confirmar se elas estavam no país ilegalmente. Também não se poderia descartar, segundo o consulado, o envolvimento de narcotraficantes nos assassinatos. Diplomatas do Brasil, Honduras, Equador e El Salvador chegarão nesta quinta-feira para identificar as vítimas.

Luis Fredy Lala, equatoriano de 19 anos, ferido à bala na garganta
Luis Fredy Lala, equatoriano de 19 anos, ferido à bala na garganta (VEJA)

O único sobrevivente, Luis Fredy Lala, um equatoriano de 19 anos ferido à bala na garganta e que permanece internado (foto ao lado), contou que os imigrantes se dirigiam à fronteira, de onde pretendiam atravessar para lado americano próximo a Brownswille, no Texas. Os atiradores, também pertencentes ao Los Zetas, teriam “eliminado” quem não aceitasse a oferta de trabalhar como matador de aluguel para a organização criminosa. Fredy só se salvou porque se fingiu de morto.

Narcotráfico – A fronteira entre o México e os Estados Unidos é um dos mais movimentados pontos de passagem de drogas do mundo, apesar de mais de 30.000 agentes de segurança participarem da operação contra o crime organizado no país. Tamaulipas, localizado a noroeste do país, na fronteira, é cenário de fortes disputas entre o Cartel do Golfo e seus antigos aliados, os Los Zetas, liderados por soldados de elite desertores, acusados pelas autoridades de cometer diversos massacres e realizar sequestros em massa.

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Los Zetas foi originalmente formado para trabalhar para o Cartel do Golfo em uma ação “antiguerrilha” contra os zapatistas na década de 1990, ao lado dos EUA e de Israel. Hoje, atuam de forma independente, promovendo operações complexas de narcotráfico que demandam armamentos sofisticados. Seus integrantes traficam armas, sequestram, recolhem os resgates e cometem assassinatos.

Estima-se que o narcotráfico mexicano, quase todo direcionado aos EUA, movimente cerca de 20 bilhões de dólares e que dois terços das cerca de 350 toneladas de cocaína que entram no país anualmente cheguem via México. A solução encontrada pelo presidente mexicano Felipe Calderón foi colocar militares nas ruas. Em meados de 2008, eles eram mais de 30.000. Analistas dizem que a medida incentivou ainda mais a violência dos cartéis, que se sentiram ameaçados ou simplesmente quiseram reforçar seu poder.

Cerca de 90% das armas usadas pela polícia mexicana vêm dos Estados Unidos, o que facilita a chegada também às mãos dos vários cartéis, apesar de a legislação mexicana exigir que o Ministério da Defesa aprove todas as importações. Armas destinadas à polícia ou ao exército são facilmente levadas até os traficantes por meio de agentes corruptos. Mas o trânsito ilegal também é forte na fronteira. Em março de 2009, as autoridades americanas anunciaram um programa de 184 milhões de dólares para colocar mais 360 agentes em postos fronteiriços.

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