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Mesmo após acordo, Irã mantém suas ambições nucleares

O medo em relação ao programa nuclear iraniano ainda existe, mas especialistas concordam que o pacto representa solução diplomática viável e início de aproximação histórica

Por Da Redação
19 jul 2015, 08h39

Apesar da oficialização do acordo entre o Irã e as potências mundiais, a desconfiança em relação ao programa nuclear dos iranianos está longe de acabar. Os próprios responsáveis pelo programa já afirmaram que o país não abandonará suas ambições nucleares e prosseguirá com as pesquisas para multiplicar sua capacidade de enriquecimento de urânio após o término da pausa de dez anos acertada na última terça-feira. Críticos do pacto temem que, com novas tecnologias, o Irã poderá adquirir a bomba atômica que sempre planejou.

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Com o acordo, o número de centrífugas iranianas será reduzido em mais de dois terços, durante um período de dez anos, e os equipamentos utilizados só poderão ser os de primeira geração, que possuem menor potência de enriquecimento. Para tranquilizar a comunidade internacional, o país também modificará seu reator de água pesada na localidade de Arak para diminuir a produção de plutônio, outra potencial fonte de material físsil de uso militar. Contudo, o Irã poderá prosseguir com suas atividades de pesquisa com centrífugas mais modernas após uma carência de oito anos. Ali Akbar Salehi, chefe da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA), advertiu que, após o acordo entrar em vigor, o Irã começará “as pesquisas para o desenvolvimento de centrífugas IR-8” [modelos de centrífugas mais modernas]. De acordo com Salehi, o aperfeiçoamento das novas máquinas vai demorar “entre 8 e 10 anos”.

Joe Lieberman, ex-senador americano, foi um dos críticos ao pacto, e afirmou em declaração à rede de televisão CNN que o Irã é inimigo declarado dos EUA. Defensor da posição de Israel sobre o tema, e bastante conservador em relação a políticas defensivas, o político acredita também que não se deve confiar nos iranianos, que “tem um terrível histórico de não manter acordos”. Em resposta as desaprovações, a Casa Branca procurou esclarecer que o Irã, como estado soberano, não pode ser impedido de se engajar em qualquer plano de enriquecimento nuclear. Mas, segundo o presidente Barack Obama, o acordo travado vai bloquear o caminho de Teerã até uma bomba atômica por pelo menos dez anos. “Se, nos pior dos cenários, o Irã violar o acordo, as mesmas opções que estão disponíveis para mim hoje estarão disponíveis para qualquer presidente dos EUA no futuro”, disse.

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Para Jeffrey Lewis, diretor do Centro de Estudos de Não-Proliferação de Armas Nucleares, os reais problemas tratados em Viena foram a nova imposição das sanções no caso de falha do acordo e o fim do embargo do comércio de armas imposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em relação às sanções, Lewis explicou em sua coluna na revista Foreign Policy que qualquer uma das partes pode abrir uma solicitação para uma Comissão Mista criada para administrar o acordo, caso esteja insatisfeito com o andamento do pacto. As partes também podem notificar o Conselho de Segurança da ONU, que terá 30 dias para tomar uma ação. Se ainda assim, nada mudar, as sanções serão automaticamente impostas novamente. “Isso foi inteligente e dá aos Estados Unidos ou outras partes a capacidade de acabar com o acordo e retomar as sanções sem nenhuma chance de veto para a China ou Rússia”, escreveu.

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Uma vez que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) verifique que o Irã cumpriu com todas as restrições do acordo, o país poderá voltar a exportar petróleo, voltará para o sistema financeiro internacional e receberá aproximadamente 100 bilhões de dólares (quase 320 bilhões de reais) em ativos congelados com as sanções já estabelecidas. Para os críticos ao acordo, foram as sanções impostas que forçaram os líderes iranianos às negociações, e remover essas penalidades agora seria acabar com essa vantagem e dar mais poder a Teerã. Nesse aspecto, o presidente Obama foi bastante claro: “se o Irã não cumprir sua palavra, todo o peso das sanções vai voltar”. Para o governo americano, o pacto também pode trazer mais credibilidade a líderes iranianos moderados, que podem levar o crédito pela melhora na economia do país, e ganhar notoriedade.

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Armas – O embargo do comércio de armas será mantido pelos próximos cinco anos, mas exceções poderão ser concedidas pelo Conselho de Segurança. Todo comércio de mísseis balísticos com capacidade de transportar ogivas nucleares permanece banido por um período indeterminado. Uma das maiores preocupações em relação ao passado nuclear do Irã é o quão agressivo o país pode se tornar se estiver ainda mais armado. “Deveria ser óbvio para qualquer um em Teerã que os Estados Unidos não iriam concordar com uma enxurrada de novas armas e tecnologias de mísseis”, afirma Jeffrey Lewis em sua coluna.

No entanto, a preocupação com o cumprimento e efetividade do acordo não é exclusiva do lado ocidental. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou em sua primeira declaração pública sobre o assunto que “o texto do acordo deve ser cuidadosamente examinado e procedimentos legais devem ser tomados para que quando o acordo for ratificado o outro lado não possa quebrá-lo”. Para Khamenei, “alguns membros do Grupo 5+1 [EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia, China e mais a Alemanha] não são confiáveis”. Sua declaração vai em direção oposta às concedidas pelo presidente iraniano, Hassan Rohani, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mohammed Javad Zarif, que enxergam o acordo como um novo capítulo na história.

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Aproximação política – O que a maioria dos especialistas concorda é que esse acordo pode, justamente, reforçar a confiança entre o Irã e os Estados Unidos, e representar uma aproximação histórica com o ocidente. Thomas Shea, ex-inspetor da AIEA, afirmou ao jornal Washington Post que está pessoalmente “esperançoso” que o pacto marque o início de uma fase menos amarga nas negociações entre a agência e a República Islâmica. “O Irã, por meio de um acordo negociado meticulosamente, estabeleceu um entendimento muito formal com seis dos países mais importantes do planeta”, disse Shea. “Esperar que o Irã violaria isto desde o início é difícil de imaginar”.

Para o especialista, o acordo figura atualmente como a mais viável solução para a crise geopolítica enfrentada, e é uma conquista impressionante. “Eu faço parte desse negócio há 40 anos e nunca vi algo que se aproximasse tanto da abrangência desse acordo”, afirmou ao jornal americano. No entanto, a longo prazo, as dúvidas sobre sua efetividade permanecem, e são estimuladas pelas declarações vindas do “lado de lá” do globo. Um dia depois da assinatura do acordo preliminar, em abril, na cidade suíça de Lausanne, Araghchi Abbas, um dos principais negociadores iranianos, já insistia: após o prazo de limitação “poderemos desenvolver o nosso programa sem restrições”.

(Da redação)

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