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Mesmo 70 anos depois, as bombas nucleares seguem fazendo vítimas

Abertos mais de duas décadas depois das bombas, hospitais especializados no tratamento das vítimas da radiação já atenderam 2,6 milhões de pessoas ao longo de 46 anos

Por Da Redação
9 ago 2015, 13h53

Mesmo depois de 70 anos as bombas atômicas que caíram sobre Hiroshima e Nagasaki seguem fazendo vítimas. Na semana em que as duas cidades japonesas homenagearam as cerca de 240.000 pessoas que morreram nos bombardeios de 6 e 9 de agosto de 1945, os eventos em memória das vítimas, na última quarta-feira em Hiroshima e neste domingo em Nagasaki, também alertaram para os duradouros e nefastos efeitos da radiação liberada pelas únicas explosões atômicas que deliberadamente atingiram civis.

Dois hospitais da Cruz Vermelha japonesa em Hiroshima e Nagasaki seguem atendendo milhares de pessoas que padecem com sequelas dos ataques. Ambos os hospitais atenderam no ano passado 4.657 vítimas da explosão em Hiroshima e 6.030 da ocorrida em Nagasaki. Calcula-se que milhares dessas pessoas seguirão necessitando de atendimento por doenças vinculadas com a radiação nos próximos anos, sobretudo câncer e problemas de visão. No total, os dois centros de saúde já hospitalizaram 2,6 milhões de pessoas por sequelas relacionadas com a radiação.

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Em relação às doenças, desde sua abertura em 1956, 63% das mortes registradas no hospital de Hiroshima foram consequência de diferentes tipos de câncer. No hospital de Nagasaki, que começou a funcionar em 1969, os falecidos por câncer representavam, até março de 2014, 56% do total. Segundo a Cruz Vermelha, a incidência de leucemia entre os sobreviventes dos bombardeios foi entre quatro e cinco vezes maior que o das pessoas não expostas à radiação durante a primeira década, e diminuiu posteriormente.

Além disso, as crianças de menos de 10 anos que foram expostas à radiação em 1945 padeceram mais tarde de um tipo de leucemia que normalmente se dá em pessoas de idade avançada e com um índice quatro vezes maior que o da média. As crianças sobreviventes também apresentaram uma tendência a padecer de tipos de câncer desenvolvidos de forma separada, sintoma que a Cruz Vermelha atribui à exposição de todo o corpo à radiação no momento da explosão. Já os efeitos psicológicos dos bombardeios seguem afetando inclusive os sobreviventes que não tiveram sequelas físicas. Alguns dos transtornos mais comuns incluem a instabilidade psicológica, a depressão e o estresse pós-traumático.

Cicatrizes abertas – Há 70 anos, corpos carbonizados flutuavam nas águas salobras que cruzam Hiroshima, outrora uma vibrante cidade japonesa, consumida pelo calor abrasador do ataque nuclear. O odor de carne queimada preenchia o ar, enquanto dezenas de sobreviventes com graves queimaduras mergulhavam nos rios para tentar fugir do inferno. Centenas deles jamais voltariam com vida à superfície, empurrados para o fundo por uma multidão desesperada.

“Foi um clarão branco prateado”, recorda Sunao Tsuboi, de 90 anos, falando do momento exato em que os Estados Unidos lançaram a maior arma de destruição em massa já construída. “Não sei por que sobrevivi e vivi tanto tempo”, acrescenta, dizendo ser doloroso recordar aquele dia. O relógio marcava 08h15 daquele 6 de agosto de 1945 quando um bombardeiro Boeing B-29 chamado Enola Gay jogou sobre Hiroshima a bomba de urânio batizada de Little Boy. Os prédios de pedra sobreviveram às altas temperaturas, mas ficaram impressos, como um negativo fotográfico, pelas sombras das coisas e pessoas carbonizadas a sua frente. Então, um cogumelo nuclear começou a elevar-se acima da cidade até atingir 16 km de altura.

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Tsuboi, então um estudante universitário, se encontrava a 1,2 km do epicentro quando a explosão aconteceu. Ao voltar a si, sua camisa, calças e pele estavam coladas a seu corpo, onde as feridas abertas deixavam os vasos sanguíneos expostos, enquanto parte de suas orelhas haviam desaparecido. Ele estava coberto com sangue e queimaduras. Tsuboi recorda de ter visto uma adolescente com o olho direito colado ao rosto. Perto dali, uma tentava em vão colocar seus intestinos dentro de seu próprio corpo. “Havia cadáveres por todas as partes, alguns sem pedaços, todos carbonizados”, recorda o sobrevivente. “Nós somos mesmo humanos?”, questiona, por fim.

Muitos morreriam em consequência de seus ferimentos nas horas e dias posteriores, onde caíram à espera de uma ajuda que não chegou ou de um simples gole de água. Os sobreviventes ainda tiveram de enfrentar uma série de doenças provocadas pela radiação: sangramentos, queda de dentes e cabelo, câncer, nascimentos prematuros, bebês com deformações e mortes repentinas e inexplicáveis. E, além disso, a rejeição de seus compatriotas, que temiam sofrer contaminação. Durante muitos anos, alguns tiveram problemas para trabalhar ou casar. Inclusive, muitos dos chamados “hibakusha” (sobreviventes nucleares) não falavam abertamente de sua experiência por medo da discriminação.

(Da redação)

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