Venezuela: jornal crítico do governo é vendido a comprador não revelado
Novo presidente do diário 'El Universal' afirma comprador não tem vínculo com o chavismo e que não pretende mudar linha editorial da publicação
O jornal El Universal, um dos mais antigos da Venezuela e um dos poucos ainda críticos ao governo de Nicolás Maduro, foi vendido para um grupo de investidores espanhóis, segundo a agência de notícias Associated Press. A venda foi confirmada pela própria publicação nesta sexta-feira em sua versão digital, mas o nome do comprador não foi divulgado oficialmente. Segundo o texto, o novo presidente do jornal, o engenheiro civil Jesús Abreu Anselmi, assegurou que o grupo comprador “não tem nenhum vínculo com o governo” e que a linha editorial será mantida.
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Há mais de um ano circulavam rumores sobre o interesse da família Mata, que controlava o jornal desde sua fundação em 1909, de se desfazer do diário. Em maio, El Universal foi obrigado a reduzir o número de páginas impressas diariamente devido às dificuldades impostas pelo governo nos trâmites de importação de papel – um problema que atinge várias publicações no país. No ano passado, mais de dez diários fecharam ou reduziram o número de páginas diante dos obstáculos para compra de matéria-prima. Aos funcionários, Jesús Abreu Anselmi prometeu que haverá papel para imprimir o jornal.
Ainda que o novo presidente tenha tentado tranquilizar a equipe, existe o temor de que El Universal passe a ser menos crítico em relação ao governo, especialmente porque Jesús Abreu, que foi vice-ministro dos Transportes do governo do presidente Jaime Lusinchi (1984-1989), é irmão de José de Abreu, economista que criou o Sistema, um louvável programa de inclusão social pela música que existe há quatro décadas e sempre se alardeou apolítico e apartidário. Nos últimos anos, o programa depende, em boa medida, de subsídios estatais.
A preocupação também se justifica porque sufocar a imprensa independente é uma das especialidades do chavismo. A única emissora independente do país, a Globovisión, foi vendida em 2013 depois de ser multada em 2,2 milhões de dólares por seu “comportamento editorial”. Depois disso, parou de veicular noticiário crítico ao governo. A Cadena Capriles, rede que inclui o Últimas Noticias, jornal de maior circulação do país, e também diários de economia e de esportes, foi comprada por um grupo não revelado e mudou sua linha editorial.
Após as transações, trabalhadores denunciaram pressões dos novos donos e censura a informações. Segundo o Sindicato Nacional de Jornalistas da Venezuela, pelo menos 58 jornalistas deixaram a Globovisión e 33 o grupo do Últimas Notícias depois da mudança de comando.
A onda de protestos contra Maduro que teve início em fevereiro também levou a um aumento no controle chavista da imprensa. O canal colombiano NTN 24 foi acusado de tirar a tranquilidade da população e sacado do ar pelo governo, e o presidente também ameaçou tirar a rede americana CNN da grade das TVs a cabo.