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Evo Morales e seu projeto de se perpetuar no poder

No poder de 2006, o boliviano já alterou as regras democráticas para conquistar um terceiro mandato e vai ficar na Presidência até 2020. Mas ele quer mais

Por Diego Braga Norte Atualizado em 17 jan 2017, 07h52 - Publicado em 20 fev 2016, 07h11

Neste domingo os bolivianos vão às urnas para decidir se o presidente Evo Morales tem direito a mais uma reeleição. No poder desde 2006, Morales já alterou a Constituição na emenda que lhe garantiu seu terceiro mandato consecutivo, iniciado em 2015. Em 2020, quando termina seu atual mandato, o presidente boliviano terá completado 14 anos frente ao governo do país e ainda tem sede de mais. Fiel às tristes tradições populistas latino-americanas, Morales ignora o princípio democrático básico de alternância de poder e tenta se perpetuar no cargo. Historicamente, casos assim terminam muito mal e geralmente deixam um país em crise, exemplos não faltam.

“Um quarto mandato significa a ruptura das regras do jogo democrático”, diz Carlos Cordero Carraffa, coordenador do Centro de Estudos Democráticos, em La Paz. Para o analista, a continuidade do atual governo representa carta branca para a corrupção e a impunidade. “Há um grupo político-econômico que implantou uma cleptocracia para se aproveitar do Estado”, completa Carraffa.

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Além dos escândalos de corrupção, como os casos de desvio de verbas do poderoso Fundo Indígena Campesino e a recente revelação do favorecimento de uma empresa chinesa em contratos públicos, o governo liderado por Morales ainda enfrenta outros sérios problemas com suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas e armas. Em setembro, a Guarda Costeira da Grécia apreendeu um navio de bandeira boliviana carregado de armas que seriam vendidas para os extremistas do Estado Islâmico (EI). O navio estava registrado sob a responsabilidade do Ministério da Defesa da Bolívia.

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O governo de Evo Morales também foi acusado, em outubro, de montar uma operação com a Venezuela para enviar cocaína para a Europa. O acusador partiu do coronel boliviano Germán Cardona Álvarez, que trabalhou como assessor jurídico do Exército. Em ambos os casos, previsivelmente, o governo negou seu envolvimento. Ainda que a Justiça boliviana não seja confiável por padecer da influência do governo, investigações internacionais sobre os dois casos seguem em curso.

“Alterar a Constituição, mesmo com o apoio do Congresso, para garantir uma terceira reeleição é uma manipulação das condições sob as quais a democracia é exercida”, avalia Guillermo Delgado, diretor do Centro de Estudos Bolivianos e professor da Universidade da Califórnia. Para o especialista, a questão é mais ampla e evidencia a falta de maturidade democrática do país – que teve seu primeiro governo eleito há pouco mais de 30 anos, em 1982. “A democracia boliviana parece ser incapaz de oferecer um espaço para o surgimento de novos líderes. A nova reeleição dificultaria ainda mais esse processo e poderia transformar a Bolívia em um país regido por um partido único”, completa.

O analista Daniel Moreno, diretor do Centro de Ciudadanía de Estudios Sociales y Acción Pública, também acredita que a “excessiva concentração de poder não é bom para um regime democrático que exige alternância e o surgimento de novas e lideranças”. Em sua opinião, a qualidade da democracia boliviana sofreria com uma “reforma constitucional sob medida para uma pessoa específica”.

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Plebiscito – Com a implantação de programas sociais populistas, Morales vem conseguindo obter o apoio da população mais carente do país, e o governo conseguiu melhorar alguns indicadores sociais. Porém, a Bolívia sofre com uma forte carência de infraestrutura. Falta tudo no país, desde sistemas básicos de transporte público e coleta regular de lixo em muitas cidades; a até obras de engenharia mais complexa, como melhores estradas e pontes para interligar a nação. A população boliviana também convive com os piores índices da América do Sul na distribuição de água potável e coleta de esgoto.

“Grande parte da população rural e indígena marginalizada pelos governos anteriores e que tenham recebido benefícios do governo atual provavelmente vão apoiar Morales no plebiscito. Mas, a população urbana deve expressar seu descontentamento em relação às mudanças constitucionais para habilitar o presidente a ter um novo mandato”, avalia Delgado.

As últimas pesquisas indicam um empate entre o “sim” e o “não” no referendo para decidir se Morales pode concorrer a um quaro mandato. Segundo levantamento do instituto Mori, publicada na última sexta-feira, havia um empate técnico com 40% das intenções de voto para cada lado. Com 11% dos eleitores ainda indecisos, o futuro da Bolívia ainda pode ser salvo.

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