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“Estou sendo executado?”, perguntou brasileiro fuzilado na Indonésia

"Isso não está certo", disse Rodrigo Gularte, condenado à pena de morte por tráfico de drogas, segundo o padre que lhe ofereceu a última benção

Por Da Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 21h34 - Publicado em 30 abr 2015, 00h04

O brasileiro Rodrigo Gularte, executado na Indonésia por tráfico de drogas, não tinha conhecimento de que seria fuzilado na ilha de Nusakambangan. De acordo com o padre Charlie Burrows, que ofereceu a última benção aos prisioneiros, Gularte perguntou se estava “sendo executado” quando os guardas o algemaram para retirá-lo de dentro da cela. Burrows disse ter passado três dias tentando explicar para Gularte qual era a sua real situação no corredor da morte. “Eu afirmei: ‘Sim, achei que tinha explicado isso a você’. Ele não ficou agitado – ele é um garoto tranquilo -, mas disse: ‘Isso não está certo'”, contou o padre, em entrevista a uma rádio irlandesa, reproduzida pelo jornal The Guardian.

A defesa de Gularte argumentava que ele apresentava transtornos mentais. A família do brasileiro apresentou laudos médicos para comprovar que Gularte sofria de esquizofrenia, mas a promotoria do país asiático sustentou que ele era saudável. Pela legislação da Indonésia, a doença mental pode livrar um criminoso da pena capital. O brasileiro chegou a ser examinado por médicos recomendados pela procuradoria-geral da Indonésia, mas os resultados da análise nunca vieram a público.

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“Ele estava perdido porque é esquizofrênico. Ele perguntou se havia um sniper do lado de fora para atirar nele, e eu disse que não. Ele, então, me perguntou se alguém atiraria nele dentro do carro, e eu disse que não”, relatou Burrows. Após Gularte ser amarrado no local em que seria fuzilado, o padre se reaproximou do brasileiro para ter uma última conversa. “Ele disse: ‘Isso não está certo, eu cometi um único pequeno erro e não deveria morrer por isso’. Ele estava mais perturbado do que qualquer outra coisa, porque era um rapaz quieto, de fala mansa e sensível”.

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Segundo Burrows, a filipina Mary Jane Veloso soube que não seria mais executada quando faltava uma hora para o fuzilamento. Ela teve a vida poupada porque a pessoa que a recrutou para transportar drogas se entregou às autoridades. Antes de tomar conhecimento do perdão, Mary Jane recebeu os filhos de 12 e 6 anos na cela. O padre relatou que o momento em que eles se despediram da mãe comoveu os guardas. “Todos começaram a chorar. O diretor da prisão e os procuradores estavam muito tristes com aquilo. Eles disseram que não concordavam com a pena de morte, mas que precisavam cumprir com as ordens de seus trabalhos”. Em certo momento, Burrows disse que um dos guardas se virou para ele e perguntou se “éramos responsáveis pelo sofrimento daquela pobre mulher e de sua família”.

Nesta quarta-feira, o procurador-geral indonésio, HM Prasetyo, disse que as execuções “foram melhores do que as anteriores, mais ordenadas e com um grau de perfeição maior”. Ele disse que os corpos também foram tratados de forma mais “humana” se comparados aos prisioneiros fuzilados em janeiro. Entre eles estava o também brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, que, segundo Burrows, foi arrastado aos prantos de sua cela sem receber a extrema-unção.

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O ministro interino das Relações Exteriores, Sérgio França Danese, disse que, após a morte de Gularte, Brasília passou a avaliar como prosseguirá a relação com a Indonésia.

O presidente indonésio, Joko Widodo, intransigente quanto à aplicação da pena de morte por tráfico de drogas, ignora os apelos de clemência e as pressões diplomáticas internacionais para evitar as execuções. Widodo alega que o país enfrenta uma situação de emergência ante o problema das drogas e precisa de uma “terapia de choque”. A pena capital por narcotráfico e mesmo pela posse de pequenas quantidades de droga também é aplicada em outros países do Sudeste Asiático, como Malásia, Vietnã, Tailândia e Cingapura.

(Da redação)

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