Eleições sangrentas: México vai às urnas sob a ameaça do narcotráfico e de boicote
Intimidações e assassinatos brutais marcaram campanha política no país. Clima de insegurança e insatisfação pode desencadear protestos de sindicatos e movimentos sociais
A escalada de violência no México será o tema central nas eleições deste domingo. Independente dos partidos aos quais são filiados, candidatos têm sofrido ataques e alguns foram mortos enquanto faziam campanha. O pleito também corre risco de ser boicotado por parte dos sindicatos de professores e por movimentos sociais que encamparam a luta por Justiça dos familiares de 43 estudantes que desapareceram na cidade de Iguala, localizada no Estado de Guerrero, em setembro do ano passado.
A administração do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, vem minimizando a sensação de insegurança nos últimos dias. O secretário de governo, Miguel Ángel Osorio, afirmou que o país “não está em chamas”, mas reconheceu que ao menos vinte candidatos recebem proteção das autoridades. Ele admitiu a impossibilidade de estendê-la aos milhares de outros políticos que concorrerão aos 1.996 cargos em disputa, incluindo 500 vagas para deputados federais e nove para governadores estaduais.
Ao contrário do que diz a versão oficial, analistas políticos dizem que houve um aumento significativo na violência em relação aos processos eleitorais de 2009 e 2012, quando candidatos também foram assassinados. Embora o epicentro da guerra entre policiais e cartéis de narcotraficantes esteja concentrado nos Estados de Guerrero, Tamaulipas, Michoacán e Jalisco, as mortes de políticos em campanha e de membros de suas equipes aconteceram em diferentes lugares do país.
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Assassinatos – Na pré-campanha, no início de março, a pré-candidata do Partido da Revolução Democrática (PRD) à prefeitura do município de Ahuacuotzingo, Aidé Nava, foi sequestrada e decapitada. Dias depois, Gabriela Pérez Cano, que concorria a deputada federal pelo Partido Ação Nacional (PAN), e seu assistente foram ameaçados com armas de fogo no Estado de Morelos. Em abril, o postulante à prefeitura de Emiliano Zapata pelo Partido Social Democrata (PSD), Mauricio Lara, sofreu um ataque a tiros, enquanto o candidato a governador pelo partido Movimento Cidadão no Estado de Guerrero, Luis Walton, foi ameaçado junto com sua equipe de campanha no município de Chilapa.
No dia 1º de maio, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) à prefeitura de Chilapa, Ulises Fabián, foi morto por um grupo armado. Treze dias depois, Enrique Hernández, que concorria à prefeitura de Yurécuaro pelo Movimento Regeneração Nacional (Morena), foi assassinado. No dia seguinte, criminosos mataram Héctor López Cruz, outro candidato do PRI à prefeitura do município de Huimanguillo.
Na semana passada foram registradas mais duas mortes. José Salvador Méndez, assessor de campanha do candidato do PRI a deputado federal, Lorenzo Rivera Sosa, foi assassinado em Puebla. Na Cidade do México, Israel Hernández, coordenador de campanha da aspirante a deputada estadual pelo PRI, Aida Beltrán, morreu em um tiroteio em frente à casa da candidata.
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Boicotes e vandalismo – A ação do crime organizado, no entanto, não é a única ameaça às eleições. Sindicatos de professores e os pais dos 43 estudantes desaparecidos têm feito repetidos apelos para que o pleito seja boicotado. As autoridades temem que o chamado possa incitar manifestantes a depredar colégios eleitorais. Durante os protestos exigindo Justiça pelos jovens, no ano passado, vândalos atearam fogo em prefeituras, sedes do Legislativo e até na porta do palácio presidencial. Os parentes dos estudantes, que possivelmente foram mortos em uma ação orquestrada entre políticos, policiais e narcotraficantes, pediram para que as eleições não fossem realizadas em Guerrero por falta de segurança, mas o Instituto Nacional Eleitoral (INE) rechaçou esta possibilidade.
Outro Estado que vive um clima de grande tensão é o de Oaxaca, onde membros da Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) disseram que vão tomar instalações do INE para impedir o prosseguimento das eleições. Mesmo com as ameaças, o INE garante que o México está preparado para realizar o pleito com segurança.
(Da redação)