Cristina reagiu com surpresa à morte de promotor, diz secretário
Alberto Nisman, que denunciou a presidente e vários de seus apoiadores foi encontrado morto na madrugada desta segunda-feira, em Buenos Aires
O secretario de Segurança Nacional, Sergio Berni, afirmou que a reação da presidente Cristina Kirchner à notícia sobre a morte do promotor Alberto Nisman “foi a mesma reação que todos nós tivemos, de muita surpresa e de comoção devido ao impacto que tem esse fato”, disse o secretário à uma rádio local. A presidente, que costuma se manifestar com frequência pelas redes sociais, não falou nem escreveu nada sobre o caso.
Berni disse ter dado a notícia à presidente, “logo que teve a confirmação do fato”. Em uma das primeiras declarações sobre o caso, ignorando a cautela que exige sua posição e que deveria ser inerente ao cargo, o secretário disse que “em criminalística, não estou falando desse caso em especial, mas quando se tem um corpo, uma arma e uma cápsula, todos os caminhos levam ao suicídio”.
O corpo de Nisman foi encontrado na madrugada desta segunda-feira em seu apartamento em Puerto Madero, na capital Buenos Aires. Ele deveria apresentar hoje no Congresso detalhes da acusação contra a presidente e vários apoiadores, segundo a qual um acordo de impunidade foi negociado com o Irã em relação ao atentado contra o centro judaico da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), ocorrido em julho de 1994 e que deixou 85 mortos.
Leia também:
Entenda as denúncias contra Cristina Kirchner e seus apoiadores
Cristina Kirchner é acusada de encobrir envolvimento do Irã em atentado
Procurador argentino acusa Irã de infiltração terrorista na América do Sul
O chanceler Héctor Timerman, também denunciado, participou nesta segunda de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, mas não fez nenhuma referência à morte do promotor. Ao chegar ao local, ele evitou a imprensa e apenas “lamentou” o falecimento de Nisman, informou o La Nación. Em sua vez de usar a palavra na reunião, limitou-se a fazer referência aos atentados terroristas em Paris, e fazer um chamado a combater as “condições que favorecem” a atividade terrorista.
Mais provas – Segundo o jornal Clarín, em conversa com a reportagem na última quarta-feira, o promotor afirmou que tinha muitas escutas telefônicas que provavam as denúncias. “D’Elía [Luis D’Elía, dirigente kirchnerista] fala com os iranianos, adiantou tudo o que ia fazer a presidente, e inclusive dizia a eles que falava em nome dela”, afirmou.
“Tenho os iranianos aceitando nas gravações que puseram a bomba na Amia. O pior é que pessoas da Side [serviço de inteligência] avisaram Rabbani [Mohsen, apontado como idealizador do atentado] sobre os detalhes do que o governo ia fazer com o pacto. É impressionante”, acrescentou, segundo o jornal.
Nesta segunda, a Side finalmente decidiu liberar a divulgação dos nomes dos espiões que aparecem nas denúncias do promotor. Até a morte de Nisman, o governo se recusava a suspender o segredo que protegia as identidades dos espiões. “Um dos agentes que falava com os iranianos era de total confiança da presidente. Em uma das escutas, ele conta ao pessoal de lá (Irã) que Cristina estava doente. Neste dia, nos jornais, não havia nada sobre isso, mas depois, sim. Ele tinha realmente contato com ela”, contou o promotor ao Clarín.