‘Crise do arroz’ complica situação de premiê tailandesa
Um dos mais importantes projetos do governo apresenta problemas de corrupção. Principal partido de oposição contesta judicialmente as eleições
Problemas em um programa de aquisição de arroz nesta terça-feira complicaram ainda mais a já delicada situação política da primeira-ministra tailandesa, Yingluck Shinawatra, enquanto a oposição foi à Justiça para tentar anular a eleição geral do fim de semana. A crise no programa de compra de arroz representa um duro golpe para a premiê, pois esse projeto foi um importante trunfo na campanha eleitoral que a levou ao governo, em 2011, mas desde então enfrenta denúncias de corrupção e crescentes prejuízos.
O ministro do Comércio disse que a China cancelou uma encomenda de 1,2 milhão de toneladas de arroz tailandês por causa de uma investigação de corrupção no programa do governo de Bangcoc, e o banco estatal Krung Thai Bank (KTB) se somou a outros credores que decidiram cortar os financiamentos necessários para salvar a operação. O programa de aquisição de arroz foi uma das políticas populistas adotadas pelo ex-premiê Thaksin Shinawatra, irmão de Yingluck, que foi deposto em 2006. Pelo projeto, o governo compra a produção tailandesa a preços mais altos que os de mercado e revende o arroz no exterior, geralmente com preços mais baixos.
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Os prejuízos aos contribuintes, estimados em 200 bilhões de bahts (6 bilhões de dólares) por ano, são um dos componentes que fomentam os protestos contra o governo de Yingluck, e problemas no pagamento agora ameaçam causar descontentamento entre os agricultores que constituem a base de apoio da primeira-ministra, no norte e nordeste do país. Neste domingo, manifestantes de oposição atrapalharam a votação em um quinto dos distritos eleitorais. Como o pleito não foi totalmente concluído e o principal partido de oposição boicotou o processo eleitoral, Yingluck permanecerá como primeira-ministra. Paralelamente, manifestantes continuam bloqueando parte da capital Bangcoc, como vem ocorrendo desde novembro, e exigem a renúncia da premiê para abrir espaço para um governo de transição formado por um conselho popular.
Eleições contestadas – Nesta terça-feira, o Partido Democrata, da oposição, contestou judicialmente a legalidade das eleições. Ele também tenta colocar o partido Puea Thai (Dos tailandeses, na língua local), de Yingluck, na ilegalidade, por ter promovido uma eleição sob circunstâncias anormais, já que Bangcoc está sob estado de emergência. A Justiça eleitoral tailandesa vai se reunir na quarta-feira para discutir as denúncias de irregularidades na eleição de domingo.
Os manifestantes da oposição – concentrados principalmente em Bangcoc e no sul da Tailândia, as regiões mais ricas – acusam Yingluck de ser um fantoche de Thaksin, e dizem que ela está usando verbas públicas para comprar o apoio de eleitores por meio de programas sociais. O Puea Thai venceu todas as eleições que disputou desde 2001.
Histórico – A Tailândia vive uma crise política desde o golpe militar que derrubou em 2006 o governo de Thaksin Shinawatra, irmão da atual premiê. Ele, que vive exilado na Grã-Bretanha, e a irmã contam com grande apoio das classes baixas nas áreas rurais do nordeste do país. A atual onda de protestos estourou como reação a um projeto de lei apoiado pelo governo que pretendia conceder uma anistia ao irmão da premiê, que responde a várias acusações.
Com isso, ele não precisaria cumprir uma pena de dois anos de prisão por corrupção. Os tribunais também congelaram milhões de dólares seus em bancos tailandeses, mas a Justiça tailandesa acredita que ele ainda tenha uma grande quantidade de dinheiro no exterior. Thaksin foi condenado à revelia em 2008, dois anos depois de ser derrubado em um golpe militar. Vive no exílio desde então.
Desde o estabelecimento da monarquia constitucional na Tailândia, em 1932, o país já passou por dezoito golpes de estado ou tentativas de derrubar o governo. A onda atual de protestos já deixou ao menos oito mortos.
(Com agência Reuters)