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Constante vigilância do Estado e opiniões proibidas: a vida na Alemanha Oriental

Dois alemães que cresceram na extinta Alemanha Oriental comunista narram as profundas mudanças em suas vidas após a reunificação, que comemora 25 anos neste sábado

Por Jean-Philip Struck, de Berlim
3 out 2015, 08h36

Em 1990, Ines Schwab e Monty Cachej encaravam o futuro com um misto de incerteza e otimismo. Com idades entre 17 e 18 anos, eles faziam parte da primeira geração da antiga Alemanha Oriental que chegava à fase adulta sem precisar mais temer o paranoico regime totalitário que vigorou no leste por mais de 40 anos. Hoje, 25 anos depois da reunificação – completada em 3 de outubro de 1990 – suas histórias de vida formam um microcosmo das mudanças dramáticas experimentadas após a queda do regime comunista e a transição para a sociedade democrática e capitalista.

Antes da queda do muro, Monty Cachej, hoje um executivo da área de seguros com 41 anos, havia seguido o caminho habitual de todos os jovens cidadãos da República Democrática Alemã (RDA) – nome oficial da Alemanha Oriental. Na infância, no Estado da Saxônia, foi membro de um grupo estatal de escoteiros. Na adolescência, de diferentes organizações da juventude socialista, onde era regularmente doutrinado para ser leal ao regime.

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Restava completar seus estudos e esperar ingressar em uma universidade. “Meu pai dizia que na antiga Alemanha Oriental, aos 22 anos eu estaria casado e disputando um apartamento com o crédito concedido aos casais que formavam família. Essas eram as únicas perspectivas imediatas antes da queda do muro”, afirma Cachej. E tudo isso supervisionado pelo aparato de vigilância e controle do antigo sistema. “Havia duas esferas de vida na Alemanha Oriental: uma doméstica, onde era possível deixar os pensamentos correrem, e uma pública, onde era preciso ser mais cuidadoso”, afirma.

O jovem, no entanto, aproveitou os eventos inesperados de 1989 e 1990 para fazer o que realmente desejava: simplesmente conhecer o restante da Alemanha e o mundo. Era algo que seria inconcebível antes da queda do muro, já que o regime comunista não permitia viagens ao ocidente para impedir a fuga dos habitantes. Como outros milhões de alemães orientais, Cachej inicialmente se mudou para o oeste, onde estudou administração de empresas. Depois seguiu para os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Suécia.

Ao contrário do caminho originalmente traçado pelo antigo Estado, ele só formou família aos 32 anos. Por anos ele alimentou a perspectiva de voltar para o leste, mas as dificuldades econômicas ainda enfrentadas pela região em relação ao resto da Alemanha desestimularam o retorno. Hoje, Cachej mora em Zurique, na Suíça, e engrossa as estatísticas de milhões de antigos alemães-orientais que acabaram emigrando permanente do leste. Desde 1991, a área da antiga RDA perdeu dois milhões de pessoas da sua população total, baixando de 14,5 milhões para 12,5 milhões de habitantes, sobretudo por causa da alta emigração. A queda só não foi mais dramática porque no mesmo período, cerca de 2 milhões de ocidentais fizeram o caminho contrário e se instalaram no oeste.

Liberdade religiosa – Para Ines Schwab, hoje com 43 anos, as mudanças provocadas pela queda do comunismo e a reunificação não despertaram o desejo de emigrar, mas o de permanecer em sua cidade, Zwickau, na Saxônia. Crítica do antigo sistema e cristã devota desde a adolescência, ela afirma que se encheu de otimismo com a reunificação. “Finalmente podia exercer minha fé sem sofrer consequências”, afirma. Ines, que hoje trabalha em um escritório de contabilidade fiscal – um emprego que não existia na antiga RDA. “Antes, só podíamos ter uma opinião se ela estivesse de acordo com quem mandava”, afirma.

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Com três filhos e membro de organizações evangélicas, Ines, no entanto, hoje parece uma exceção no leste. Mais de 40 anos de comunismo e perseguição à religião deixaram uma marca na região. Hoje, quase 80% dos habitantes da antiga Alemanha Oriental não são afiliados a alguma igreja, contra 36% da média nacional. O número de filhos de Ines também contrasta com a maioria das famílias vizinhas e as mudanças na região. A emigração dos jovens afetou a taxa de fertilidade na área, que chegou a desabar quase 60% nos primeiros anos da reunificação. A idade de nascimento do primeiro filho saltou de 22,9 anos para 28,1 anos – próxima da Ocidental.

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Comemorações – Para celebrar os 25 anos da reunificação, diferentes cidades da Alemanha estão promovendo eventos. A chanceler Angela Merkel e o presidente Joachim Gauck devem participar neste sábado de uma celebração em Frankfurt. Entre os convidados estão o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Mais de um milhão de pessoas são esperadas na cidade, que foi escolhida por causa de um esquema rotativo que promove a festa de reunificação em diferentes Estados a cada ano. Já Berlim, o maior símbolo da divisão da Alemanha durante a Guerra Fria, vai promover uma festa pública em frente ao Portão de Brandemburgo. Outras cidades, como Leipzig e Hanôver, vão promover exposições e debates sobre a reunificação.

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