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Conferência de paz tenta criar diálogo na guerra civil síria

Após três anos de guerra civil, representantes do regime de Bashar Assad e da oposição se reúnem junto à comunidade internacional. Intransigência dos dois lados sobre futuro do ditador e nova denúncia de tortura dificultam negociação

Por Da Redação
22 jan 2014, 05h08

Pela primeira vez desde o início da sangrenta guerra civil na Síria, há quase três anos, representantes do governo sírio e da oposição ao ditador Bashar Assad começam a tentar viabilizar um processo capaz de, a médio prazo, interromper o conflito que já tirou mais de 130.000 vidas e tem ao menos dois milhões de refugiados. Co-patrocinada pela ONU, Estados Unidos e Rússia, e com a participação de delegações de 40 países e organismos internacionais como a União Europeia e a Liga Árabe, a confererência de paz Genebra 2 começa nesta quarta-feira em Montreux, na Suíça.

Dois dias depois, as conversas continuam em Genebra, que sediou a fracassada primeira reunião sobre o assunto em 2012 e onde os enviados do regime sírio e da oposição irão finalmente se reunir cara a cara na sexta-feira. A conferência não é cercada de grandes expectativas. Ninguém espera que das negociações resulte um acordo para o fim imediato do conflito. O obejtivo do encontro é tentar estabelecer um canal de diálogo entre os dois lados, que até agora se comportaram como inimigos inconciliáveis. Se governo e grupos oposicionistas se mostrarem dispostos a iniciar uma negociação que possa render frutos no futuro, a conferência já será considerada um sucesso pela comunidade diplomática internacional.

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Mas antes mesmo da largada da reunião, ficou claro que alcançar esse objetivo não será fácil. Horas antes do desembarque na Suíça da delegação do governo sírio, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores Walid Mouallem, o regime voltou a demostrar sua intransigência ao advertir que o destino do ditador Bashar Assad é “uma linha vermelha” que ninguém pode ultrapassar.

“As questões do presidente e do regime são linhas vermelhas para nós e para o povo sírio, ninguém pode tocar na Presidência”, afirmou Mouallem de acordo com a agência de notícias estatal síria Sana. Ele destacou “o desejo da Síria de fazer essa conferência ser bem-sucedida, como primeiro passo que abra caminho para um diálogo sírio-sírio sobre o território sírio para concretizar as aspirações do povo sem ingerência estrangeira, de qualquer parte que seja”. Mas o ministro reforçou: “Viemos a Genebra na esperança de chegar a uma posição síria e internacional unificada frente ao terrorismo que atinge a Síria e a região” – os combatentes inimigos são tratados pelo regime como terroristas.

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Já os opositores de Assad, pressionados por aliados ocidentais a participar das negociações, renovaram a exigência de que o ditador deixe o poder e seja julgado por um tribunal internacional por crimes de guerra. “Nós não vamos aceitar menos do que a remoção do criminoso Bashar Assad, a mudança do regime e a responsabilização dos assassinos”, disse o secretário-geral da Coalizão Nacional Síria, Badr Jamous.

A posição é apoiada pelos Estados Unidos, que voltaram a exigir a saída do ditador nesta quarta, na abertura da conferência. “Vemos apenas uma opção, negociar um governo de transição nascido por mútuo consenso”, disse o secretário de Estado Jonh Kerry. “Isso significa que Bashar Assad não será parte do governo de transição”. Mas a Rússia discorda. Aliado do regime, o governo de Vladimir Putin defende a tese de que só os sírios podem definir o futuro de Assad.

A indefinição sobre o que fazer com o ditador sírio, que esta semana manifestou o desejo de concorrer a um novo mandato em mais uma eleição de fachada, parece cada vez mais o ponto crucial para as negociações. Isso ficou ainda mais evidente após a divulgação, nesta segunda-feira, de um relatório com novas evidências de tortura generalizada e matanças de presos por parte do governo sírio.

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Organizado por promotores internacionais especializados em crimes de guerra, o documento incluiu um vasto arquivo de imagens de um fotógrafo da polícia militar síria que foram contrabandeadas. Para os advogados, as fotos são amostras claras de abusos sistemáticos e do assassinato de cerca de 11.000 presos, que compararam com a “escala de matança industrial” dos campos da morte nazistas.

Caos diplomático – Não bastasse a pouca disposição das partes para o diálogo, a troca de acusações e denúncias de atrocidades de ambos os lados, os dias que antecederam a conferência foram marcados por uma confusão diplomática que ameaçou inviabilizar a reunião. Depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, fez um convite de última hora para o Irã – aliado de Assad – participar da conferência, o chefe das Nações Unidas teve que retirá-lo sob a ameaça de boicote da oposição síria e da pressão de países ocidentais.

A saída encontrada pelo secretário-geral foi declarar que o Irã não havia concordado com a condição que ele fixou para a presença dos representantes da república islâmica: o endosso iraniano à conferência de paz anterior, de 2012, que pediu a Assad para abrir caminho para um governo de transição.

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A Rússia considerou “um erro” a decisão da ONU de retirar o convite ao Irã. “Sempre dissemos que todos os atores externos tinham de estar representados”, afirmou o ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov. Diplomatas ocidentais consideraram o convite, por si só, um “desastre”.

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Apesar de afetar diretamente a população síria, que há três anos sofre as piores consequências da guerra, o alvoroço causado pelo convite da ONU ao Irã ilustra como o conflito entre partidários e opositores do ditador Bashar Assad se converteu também em um campo de batalha diplomático, que distanciou as potências ocidentais da Rússia e evidencia as diferenças internas no mundo islâmico, entre o Irã, xiita, e os países árabes sunitas, que apoiam os rebeldes.

(Com agências Reuters e France-Presse)

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