Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Cargo de David Cameron também está em jogo no referendo

Por um lado, a saída da União Europeia resultaria na renúncia do primeiro-ministro; já a permanência exigiria algumas concessões de Cameron para levar o mandato até o fim

Por Daniela Flor
23 jun 2016, 17h23

O futuro do primeiro-ministro David Cameron também está em jogo no referendo desta quinta-feira sobre a permanência ou saída do Reino Unido da União Europeia. Ao prometer a consulta popular caso vencesse as eleições gerais de 2015, o líder do Partido Conservador colocou seu próprio cargo para voto. Em caso de vitória do Brexit (a saída britânica da UE), é quase certo que o segundo mandato de Cameron chegue ao fim de forma precoce. A permanência, por outro lado, deve mantê-lo no cargo que ocupa há seis anos, mas não sem as sequelas da disputa.

A pressão separatista e a insistência por um referendo permeiam a relação do Reino Unido com UE desde a década de 90. O ponto máximo das tensões se deu quando as crises econômica e migratória atingiram o continente nos últimos anos. Cameron, que buscava uma reeleição em 2015, tentava pacificar o Partido Conservador – dividido entre permanência e saída – e encontrou na promessa de um referendo sua maior chance de sucesso. “É o momento de o povo britânico ter voz sobre o assunto”, confirmou no ano passado, sem esperar que a possibilidade de uma derrota fosse tão real.

As últimas pesquisas mostraram diferenças mínimas, o que torna os próximos passos do Reino Unido tão incertos quanto os de Cameron. De acordo com o biógrafo do primeiro-ministro e editor do jornal britânico The Times, Francis Elliott, a renúncia do chefe de governo é óbvia caso a população opte pelo Brexit, pois sua imagem como líder ficaria prejudicada após ser contestado pelo povo. “Ele apenas não se arrisca a dizer isso antes do referendo por medo de que eleitores da oposição votem pela saída da UE apenas para tirá-lo do cargo”, explica.

“Cameron pularia fora antes de ser empurrado”, afirma Tim Bale, professor de política da Queen Mary University of London. Mesmo se insistisse em ficar até o fim de seu mandato, que acaba em 2020, o primeiro-ministro poderia ser derrubado: basta que 50 membros conservadores do Parlamento peçam a um comitê do partido e a Câmara dos Comuns se reúna para votar sua saída.

Continua após a publicidade

Leia mais:

Entenda a diferença entre Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido

Confira as celebridades britânicas que são contra e a favor do Brexit

Continua após a publicidade

Rivais disputam últimos votos na véspera de referendo decisivo no Reino Unido

Enquanto a deserção representa um afastamento iminente de Cameron, a vitória da permanência na UE pode trazer resultados distintos a longo prazo para o primeiro-ministro. “Cameron sairá mais forte do referendo se vencer por uma margem maior que 7 ou 8 pontos porcentuais. Se for menos que isso, a vida ficará difícil para ele”, afirma Charles Lewington, antigo diretor de comunicações do Partido Conservador e analista político. Pelo que apontam as pesquisas, porém, o resultado deve ser acirrado.

A intenção de Cameron de tranquilizar o partido com um referendo já surtiu efeitos adversos e que não devem desaparecer após a decisão final desta quinta-feira. Segundo Victoria Honeyman, especialista em políticas britânicas da Universidade de Leeds, a posição do primeiro-ministro não está segura no futuro: os conservadores estiveram envolvidos em debates raivosos durante suas campanhas pela permanência e pela saída – e algumas mágoas podem ser difíceis de curar. “O partido vai voltar a se unir, como já aconteceu outras vezes, mas as feridas duram e devem impactar na união partidária, especialmente em assuntos relacionados à UE”, afirma Honeyman. “Dependerá do que Cameron será capaz de fazer após o referendo”, explica.

Continua após a publicidade

A tranquilidade pode, sim, voltar a reinar no Partido Conservador, mas não sem algum esforço do primeiro-ministro para amaciar o ego daqueles que se tornaram inimigos ferozes no processo. Uma reorganização de cargos no gabinete de Cameron, se bem conduzida, pode apaziguar os ânimos. “Ele vai precisar promover alguns defensores da saída para ficar em paz com aqueles cujas ambições demonstram que, no futuro, eles poderão ser comprados por outros”, avalia o professor Bale. A única certeza no referendo britânico é de que o primeiro-ministro não está a salvo nem sairá ileso.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.