Capriles bate em tecla antiga e condena uso da máquina por Maduro
Opositor disse que já tem novo ministro da Defesa definido, caso vença eleições: militar “ativo, respeitado e comprometido com a Constituição”
Em uma entrevista coletiva nesta segunda-feira, um dia antes do início oficial do período de campanha para as eleições presidenciais na Venezuela, o opositor Henrique Capriles bateu em uma tecla antiga ao acusar os meios de comunicação estatais de favorecer a campanha do presidente interino, Nicolás Maduro.
“O sistema de informação estatal se tornou um aparato de propaganda de um partido político”, disse Capriles, que se afastou do cargo de governador do Estado de Miranda para participar das eleições. Ele assinalou que o presidente interino apareceu mais de 46 horas na TV estatal desde que assumiu o cargo, sendo 11 horas em rede nacional.
Capriles disse ainda que Maduro “precisa dos recursos do Estado” e de “toda a estrutura do poder do Estado” para levar sua campanha adiante, exatamente como Chávez fez nas últimas eleições presidenciais. “Nós toleramos muitos abusos no processo eleitoral passado”.
Apesar de o Conselho Nacional Eleitoral ter fixado o dia 2 de abril como data para o início oficial da campanha, os candidatos, na prática, já estão em busca de votos desde a morte de Hugo Chávez, no dia 5 de março. As eleições estão marcadas para 14 de abril.
Mobilização de militares – Capriles também considerou “muito graves” as denúncias feitas pelo deputado Alfonson Marquina, seu apoiador, sobre um suposto plano para transporte de eleitores para votar no candidato governista. O plano estaria sendo elaborado pelo Ministério da Defesa. “O documento apresentado tem nomes e sobrenomes de pessoas a quem foi dada uma responsabilidade política”, disse o opositor sobre a lista que o parlamentar prometeu apresentar ao CNE nesta terça. Segundo Capriles, a maioria dos militares do país não está de acordo com a situação.
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Capriles também afirmou que, se vencer a disputa eleitoral, já tem um novo ministro da Defesa definido. Ele será um militar “ativo, respeitado e absolutamente comprometido com a Constituição” e as Forças Armadas “voltarão a ser institucional”.
Ao longo de 14 anos no poder, o coronel Hugo Chávez construiu um aparato de apoio ao governo que incluiu as Forças Armadas, mobilizadas logo depois de sua morte para “garantir a paz”. Repetidas declarações de apoio a Maduro foram feitas pelo ministro da Defesa, Diego Molero Bellavia. Posição que foi reiterada depois das denúncias do parlamentar. Em sua conta no Twitter, o ministro classificou as acusações de “provocações”.
Diosdado Cabello, vice-presidente do partido oficialista Psuv, disse que as declarações de Marquina são “irresponsáveis” e “ridículas”, segundo o jornal El Nacional. Ele também preside a Assembleia Nacional, outra instituição dominada por governistas.
O fantasma de Chávez – O clima de luto na Venezuela pela morte de Hugo Chávez deverá influenciar nas eleições do próximo dia 14, e a imagem – e a voz – do caudilho continua sendo usada pelo presidente interino em atos diversos, o que torna o fantasma de Chávez figura central na campanha.
Em um comício, um cheque simbólico de dividendos de uma empresa de telefonia que Chávez nacionalizou foi amarrado a balões vermelhos e lançado para o céu. O ato seria um agradecimento por uma onda de aquisições estatais que colocaram grande parte da economia sob o controle do governo.
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A gravação de Chávez cantando o hino da Venezuela é comumente ouvida em eventos do qual Maduro participa.
Até Capriles, que tenta vencer as eleições e pôr fim ao domínio de Chávez e seus herdeiros no poder desde 1998, invoca o coronel. A intenção, nesse caso, é relacionar Maduro com uma pálida imitação de seu antigo chefe. “Nicolas, você não é Chávez”, já disse o opositor.
(Com agência Reuters)