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Ayman Odeh: “Discursar contra judeus é discriminatório”

O árabe que preside a Lista Unida terá peso importante nos rumos de Israel

Por Nathalia Watkins Atualizado em 10 dez 2018, 09h47 - Publicado em 24 mar 2015, 19h40

Os árabes tornaram-se a terceira maior força política de Israel após as eleições do dia 17. Pela primeira vez, os três partidos árabes se juntaram e formaram uma coalizão, que ganhou 13 dos 120 assentos no parlamento – mais até do que muitos partidos judeus. Parte da mudança tem um nome: Ayman Odeh, o carismático líder dessa aliança. Advogado, pai de três e morador de Haifa, ele falou — em hebraico perfeito — com VEJA, por telefone.

Como o senhor conseguiu convencer tantos árabes a votar? Nos anos 90, na época dos Acordos de Oslo, também houve mais participação. Isso porque eles viram que, com os votos deles, o acordo de paz foi adiante. Dessa vez, eles votaram porque tinham esperança de impedir mais um governo de direita.

Dizem que a população árabe em trinta anos irá suplantar a judia. Isso pode ajudar o senhor no futuro? Não estou tão certo disso. A sociedade árabe passa por uma modernização e os jovens não querem ter mais de dois ou três filhos. Enquanto isso, os judeus ortodoxos têm até dez filhos. Por isso, em termos demográficos as proporções continuarão as mesmas. Mas isso não é o mais importante. O que eu busco é uma base para que judeus e árabes trabalhem juntos. A Lista Árabe Unida pode ser a base para a democracia. A população árabe sozinha não é suficiente, mas também é impossível sem ela.

O que pode ser feito pelos árabes-israelenses no parlamento? Vou organizar uma mobilização social que incluirá uma caminhada de sete dias pelo país, como a que fez Martin Luther King nos Estados Unidos, para pedir democracia, igualdade e justiça social para todos, judeus e árabes. Isso é algo bom para todos. Se o cidadão árabe trabalha e paga impostos, ele beneficia o cidadão israelense de Tel Aviv. Se fica desempregado, passa a usar o seguro desemprego e a usar parte da contribuição feita por judeus e árabes.

Que outras coisas o seu programa inclui? Só 30% das mulheres árabes trabalham. Isso eleva os gastos com benefícios sociais e reduz a arrecadação com impostos. Por isso, empregar essa população seria algo positivo para a economia e para a democracia

Os líderes palestinos ainda incitam a violência contra Israel? É preciso lutar contra a ocupação, esse é um objetivo legítimo. Mas é necessário usar meios justos. Os cidadãos judeus têm direito a um país e os palestinos também. Dizer que a ocupação é injusta não é incitar o povo contra Israel. É legítimo. Mas discursar contra os judeus ou o povo de Israel ou pedir a eliminação deles é discriminatório e isso é errado.

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Quando o senhor era criança, imaginava que os árabes poderiam ser a terceira força política do Knesset? Pensei que teríamos igualdade pela primeira vez quando era pequeno. Isso está acontecendo. Outras coisas boas também virão. Acredito que em menos de vinte anos teremos um primeiro-ministro árabe. Será um democrata que trabalhará em prol da igualdade.

Quem vive melhor, os árabes governados por Israel ou os que são liderados pelo Fatah? Quem mora em Haifa, como eu, tem uma situação econômica e social muito melhor do que quem mora em Ramallah ou Hebron. Eles vivem sob ocupação. Têm barreiras para sair de lá. Dentro de Israel não existe ocupação. É um país. Existe discriminação, que é um problema, mas é algo mais fácil de lidar do que a ocupação. Israel discrimina contra os cidadãos árabes dentro do país, mas o que eles fazem contra os palestinos que vivem nos territórios ocupados é mais difícil e duro. Nada é pior que a ocupação.

O que é necessário para que um Estado palestino se torne realidade? Falta uma mobilização social pacífica palestina. O fato de que Mahmoud Abbas, o Fatah, peça o apoio da comunidade internacional é ótimo, mas não suficiente. É preciso uma mobilização in loco, pacífica, que não machuque israelenses. Centenas de milhares de palestinos poderiam sair de suas casas pela manhã e se sentar nas estradas que cercam os assentamentos. Esse processo poderia levar um, dois ou três anos, mas funcionaria.

Como o senhor sabe, nessa situação viriam soldados para permitir que os israelenses passassem e a confusão estaria armada… Essa é a essência do desafio. Que os palestinos não peguem em armas. É preciso uma liderança que explique essas coisas para a população. Outros povos fizeram isso.

O que o senhor acha do terrorismo do Estado Islâmico (Isis)? Eles são piores do que os fascistas e agridem o Islã. Tenho certeza de que os países árabes vencerão o Estado Islâmico em breve.

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E quanto ao grupo fundamentalista Hamas, que governa a Faixa de Gaza? Rejeito o fato de eles não terem aceitado a existência de Israel. Também acho que foi cruel eles terem matado civis israelenses em atentados. Isso prejudicou a causa palestina. Sou contra esses atos.

Como eles deveriam agir? Sou a favor de um Estado ao lado do outro, e não em cima do outro. Sou favorável a uma forma de protesto popular pacífica e não uma que mate civis judeus. Em todos os povos há organizações diferentes, mas quem vence é sempre quem realmente quem encontrar uma solução e a paz. Por isso acredito no caminho de Abbas, do Fatah. O principal problema é que a ocupação israelense continua e é preciso tirar todos, israelenses e palestinos, desse círculo de violência e guerra.

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