O porta-voz do Ministério da Saúde do Afeganistão, Wahidullah Mayar, criticou neste domingo a justificativa, dada sábado, ao bombardeio do hospital da Médicos sem Fronteiras (MSF) em Kunduz pela suposta presença de talibãs em seu interior.
“Qualquer que fosse a situação, vai contra o direito internacional humanitário bombardear um hospital repleto de equipes médicas e pacientes”, afirmou Mayar à Agência Efe, que foi um dos primeiros de seu governo a responsabilizar os Estados Unidos pelo ataque.
O porta-voz fazia referência assim às declarações de algumas autoridades afegãs, como seu colega no Ministério do Interior, Seddiq Seddiqi, que justificou o bombardeio americano ontem contra o hospital da MSF, que matou 12 membros da organização humanitária e sete pacientes, porque talibãs teriam se escondido ali.
“Foi terrível ver a perda de vidas de médicos da MSF (pelo bombardeio), mas infelizmente os terroristas decidiram se esconder no hospital”, disse ontem Seddiqi, que acrescentou que os “10-15 terroristas” que entraram no centro morreram no ataque.
A MSF, no entanto, negou o conteúdo dessa declaração e garantiu em mensagem em sua conta oficial no Twitter que as portas do complexo tinham permanecido “fechadas toda a noite, e quando ocorreu o bombardeio só havia ali médicos, pacientes e guardas”.
O hospital ficou destruído pelas chamas, o que obrigou a ONG a declarar o hospital hoje “não operacional”, o único da região com serviços de traumatologia e cirurgia.
O porta-voz do Ministério da Saúde assegurou que o governo afegão tentava assumir a função da MSF em Kunduz, enviando equipes de saúde e equipamentos.
“Estivemos trabalhando para enviar por terra e por ar equipes de cirurgiões, equipamento médico e remédios até a província (de Kunduz) para ativar nosso hospital regional”, explicou Mayar.
Alguns desses equipamentos médicos e profissionais já se encontram em Kunduz, explicou a porta-voz, que pediu a todas as partes em conflito que respeitem a segurança deles para que possam trabalhar.
“Tínhamos boas instalações e equipamentos antes de começarem os confrontos, mas agora estão muito deteriorados”, assinalou Mayar.
A crise começou com a tomada de Kunduz pelos talibãs na segunda-feira, a vitória mais importante dos insurgentes desde que foram tirados do poder em 2001, e o posterior reconquista na quinta-feira da cidade pelas tropas afegãs com apoio aéreo americano.
No entanto os combates esporádicos continuam em Kunduz, porque “as forças de segurança ainda não foram capazes de expulsar todos os talibãs da cidade”, disse hoje à Agência Efe o chefe adjunto do Conselho provincial, Amruddin Wali.
Segundo fontes policiais, desde a segunda-feira morreram 400 talibãs e 80 civis nos enfrentamentos em Kunduz.
(Com agência EFE)