Ação militar em Gaza perturba relação entre EUA e Israel
Segundo o 'New York Times', autoridades americanas estão descontentes por verem suas propostas diplomáticas ignoradas pelos israelenses
Por Da Redação
5 ago 2014, 18h44
A operação militar israelense na Faixa de Gaza prejudicou as relações entre Tel Aviv e Washington, avalia o jornal The New York Times. No domingo, a nota oficial do Departamento de Estado americano condenando o ataque israelense a uma instalação da Organização das Nações Unidas (ONU) foi o ponto máximo do descontentamento da Casa Branca com seus históricos aliados israelenses. Na nota, os EUA consideraram o ataque “chocante” e “vergonhoso”.
“A linguagem severa e contundente escancarou uma realidade frustrante para a administração Barack Obama: o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeitou os esforços diplomáticos dos Estados Unidos para acabar com a violência em Gaza, deixando as autoridades americanas bravas nos bastidores, considerando o tratamento desrespeitoso”, afirma a reportagem do NYT, que ouviu fontes na Casa Branca.
Mesmo após Israel ter concordado com um novo cessar-fogo humanitário de 72 horas com o grupo extremista Hamas, aumentando as esperanças de pôr um fim a quatro semanas de bombardeios, os atritos com os EUA ficaram em evidência em diferentes episódios: como nas críticas de altos funcionários israelenses aos esforços de pacificação conduzidos pelo secretário de Estado John Kerry, e na bronca de Netanyahu no embaixador americano em Israel. “Nunca mais questione minhas ações”, disse neste sábado o primeiro-ministro israelense para Dan Shapiro, embaixador americano em Israel.
Mas, com a opinião pública – tanto em Israel e como nos EUA – solidamente apoiando a campanha do Exército israelense contra o Hamas, sem protestos de vizinhos árabes de Israel, e apoio incondicional a Israel no Congresso, o presidente Obama tem tido poucas alternativas para pressionar Netanyahu diplomaticamente. E, mesmo com a Casa Branca criticando duramente os ataques israelenses a escolas da ONU, o Pentágono confirmou na semana passada que tinha reabastecido os militares de Israel com munição. Nesta segunda, o presidente Obama assinou um projeto de lei liberando 225 milhões de dólares (cerca de 595 milhões de reais) de ajuda de emergência para o sistema antimísseis israelense.
Apesar do apoio financeiro e militar dos EUA a Israel, especialistas acreditam que a proposta dos americanos para pacificar a região – projeto que inclui o fim dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e o reconhecimento do governo palestino – está cada vez mais longe de tornar-se realidade. “Este é o período mais longo de antagonismo na relação”, disse Daniel C. Kurtzer, ex-embaixador americano em Israel e atual professor da Universidade de Princeton. “Eu não sei como a relação vai se recuperas enquanto tivermos este presidente e este primeiro-ministro”, completou, em declarações ao NYT.
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Além de ver suas relações diplomáticas estremecidas com os EUA, Israel também enfrenta descontentamento com outro aliado, a França. Nesta segunda, Laurent Fabius, o chanceler da França, subiu o tom e utilizou a palavra “massacre” para se referir às mortes de civis em Gaza. “Quantas mortes ainda precisamos para chamar o que acontece em Gaza de massacre?”, disse Fabius, em um comunicado. No texto, o chefe da diplomacia francesa recordou a “tradição de amizade entre Israel e França”, mas ressaltou que o direito à segurança do Estado judeu “não garante a morte de crianças e civis”.
Demissão – Nesta terça, uma alta funcionária britânica do Ministério de Relações Exteriores, a baronesa Sayeeda Warsi pediu demissão do governo, dizendo que a política da Grã-Bretanha sobre a crise em Gaza é “moralmente indefensável”. Sayeeda, que já foi presidente do Partido Conservador, tornou-se a primeira secretária de Relações Exteriores (um cargo abaixo do chanceler) muçulmana em 2010, quando David Cameron assumiu o cargo de premiê. Cameron disse que “lamentava” que Sayeeda não tivesse discutido sua decisão com ele antes de anunciá-la.
Por mais moralmente sustentável que seja tentar desmilitarizar um vizinho que em seu estatuto expressa a vontade de varrê-lo do mapa, Israel está perdendo a guerra da propaganda. As imagens de civis mortos, que o Hamas, grupo terrorista que exerce o poder totalitário em Gaza, faz questão de tornar ainda mais chocantes pela exposição indecorosa de corpos dilacerados, sensibilizam pessoas sem envolvimento político e ideológico com nenhum dos lados em conflito, mas que, perplexas, exigem a paz imediata. Na Europa, esse sentimento também está servindo de pretexto para acirrar o antissemitismo.
Acordo de paz – Enquanto cresce a pressão internacional por um cessar-fogo duradouro na Faixa de Gaza, uma delegação de Israel chegou ao Cairo nesta terça para participar das negociações com as autoridades egípcias que intermediam o diálogo com as facções palestinas em busca de uma trégua permanente. Uma delegação palestina aguardava no Cairo a chegada dos negociadores israelenses. Os palestinos já entregaram um documento ao Egito no qual reúnem as principais reivindicações para alcançar um cessar-fogo permanente, entre as quais estão o fim do bloqueio de Gaza e a libertação de presos. Os mediadores egípcios entregarão o texto à delegação israelense para que seja analisado.
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