Não há quem não tenha sentido os arrepios desta catástrofe que tem nomes, sobrenomes, um país mobilizado e câmeras que transmitem tudo – inclusive a vida subterrânea dos 33 mineiros, na iminência do triunfo ou da morte. Quis a história que esses homens da mina San José fossem vítimas de uma tragédia sem precedentes, em um dos lugares mais áridos do mundo, num ponto perdido do deserto do Atacama, o único de onde saem flores da areia. Ali, no nada, mas onde se escondem ouro e cobre, suas famílias montaram acampamento para garantir que ninguém os esquecesse soterrados, a 700 metros de profundidade.
Há reviravoltas a cada capítulo: perigo, suspense, contradições e romance. Estavam dados como mortos quando conseguiram mandar um bilhete. Foram contactados, mandaram mais cartas. Falaram de amor a quem os esperava. Engenheiros foram chamados, a NASA ajudou, receberam comida, remédios, água, roupas, música, filmes e ar fresco. Planejou-se um longo resgate. De fora, um discurso otimista. Dentro, gravaram um vídeo, a verdade surgiu. Seus rostos magros e sujos correram o mundo. Sobreviverão? Com exclusividade a VEJA.com, o ministro de Mineração do Chile declarou: “impossível antecipar.”
Alfonso Avala, pai de dois mineiros soterrados, ouve outras respostas para essa pergunta. “Estão todos bem”, “Está tudo encaminhado” e “Já foi resolvido” são frases costumeiras na mina San José. Para ele, que olha para as montanhas de areia, na direção da mina, como quem procura o que perdeu, não há dúvidas: “Estão nos enganando. Por que tanto tempo, tantos problemas? Não sei se meus filhos vão sobreviver.”
O que se sabe é que o país já escolheu seus heróis. Em seu bicentenário de independência, comemorado no próximo dia 18, não falarão apenas do libertador Bernardo O’Higgins. Se ouvirá pelas ruas das cidades chilenas o hino nacional seguido de vozes gritando “Chi Chi Chi Le Le Le Los mineros de Chile”, qualquer que seja o desfecho deste drama particular, de interesse mundial.