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Uma nova mudança na franqueza sobre os imigrantes

Líderes parecem mais dispostos a admitir que os imigrantes, em especial os muçulmanos, devem se adaptar às leis e costumes da sociedade europeus

Por The International Herald Tribune
20 set 2010, 16h55

A base europeia para o que os políticos dizem e fazem sobre imigração e o papel das comunidades islâmicas em seus países está se movendo. Está mudando de uma maneira pela qual os principais líderes políticos agora podem dizer categoricamente que os imigrantes, muçulmanos em sua maioria, devem acomodar suas maneiras e tradições às sociedades em que entram, e não o contrário.

Nas últimas semanas, a controvérsia chegou ao paroxismo na Alemanha quando um livro crítico sobre o lugar dos imigrantes no país encontrou apoio público. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy foi acusado de mirar nos imigrantes para ganhar apoio político imediato. Em ambos os casos, um novo espaço de debate foi aberto sobre o desafio da compatibilidade – ou capacidade de integração – das grandes populações muçulmanas e outras com as leis e culturas nacionais.

É um acontecimento europeu. A questão enfrenta uma preocupação pública real, uma verdade muitas vezes amordaçada sobre a vida europeia. Inquietante, porque entrou em erupção num momento de limitadas perspectivas econômicas na Europa, com líderes nacionais com baixo apoio popular e, principalmente por iniciativa da esquerda, que partiu para o ataque usando palavras como nazismo ou racismo para condenar o que é, em muitos aspectos, uma nova maneira de falar francamente.

Como uma medida da mudança na Alemanha, a chanceler Angela Merkel já expressou preocupação com supostas tendências violentas de jovens muçulmanos fundamentalistas (“Podemos falar sobre isso sem suspeita de ser anti-estrangeiros”). Ela disse que a “gravidade” é um fator importante para lidar com aqueles que resistem à integração dos imigrantes – uma atitude que ela descreveu como muito longe da ênfase anterior no multiculturalismo.

O caso alemão que ilustra a mudança da base europeia sobre a identidade nacional vem junto com as tentativas dos partidos tradicionais holandeses de formar um governo de minoria dependente do suporte do Partido da Liberdade, anti-imigração, ou dos democratas da Suécia, que conseguiram assento no Parlamento sueco pela primeira vez na semana passada.

Em certo sentido, Merkel encontrou um raro ganho político. O livro A Alemanha Acaba com si Mesma, de Thilo Sarrazin, membro da junta executiva do Bundesbank e social-democrata, que argumenta que o país está prestes a explodir como resultado dos milhões de imigrantes provenientes de países islâmicos, ofereceu a ela uma razão para atacar o argumento. Permitiu também à chanceler reposicionar-se como uma protetora vigilante dos valores alemães, consciente que os imigrantes criam enclaves fechados aos locais, desrespeitam mulheres ou deixam de atender o que ela chamou de “obrigações” para se viver na Alemanha.

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A respeito dos muçulmanos, a tese negativa de Sarrazin foi essencialmente biológica e genética – imperdoável em qualquer contexto, tanto mais vinda de um alemão – para a qual ele acrescentou uma observação sobre o suposto “gene particular” judeu. Mais tarde, ele pediu desculpas e demitiu-se do banco central, mas uma pesquisa do Emnid mostrou que 18% dos alemães poderiam votar num “partido de Sarrazin”.

Outras pesquisas relataram que apenas 16% acreditam que a cultura muçulmana se encaixa no perfil alemão e 46% se consideram, nos tempos atuais, estrangeiros em seu próprio país. Quem poderia culpar a resposta de Merkel a Sarrazin? Ou criticá-la ao conceder um prêmio em defesa da liberdade de imprensa ao jornalista dinamarquês que escapou de um atentado terrorista por suas caricaturas de Maomé?

Mas, em paralelo, a chanceler também mudou o quadro do debate sobre imigração alemã no contexto de sua queda de popularidade nas pesquisas e o descontentamento crescente na ala direita de seu partido Democrata Cristão.

De acordo com a chanceler, os social-democratas e verdes, seus antecessores – como se ela não estivesse no cargo por cinco anos – “não colocaram os recém-chegados cara a cara com suas obrigações”. “Se as silhuetas das cidades alemãs podem ter mais mesquitas, não podem existir vizinhanças ou locais onde a polícia alemã não tem o direito de entrar”, disse ela.

Sarkozy, menus sutil, parece ter motivo semelhante – reconquistar os eleitores de direita – na defesa de medidas que vetam a cidadania a estrangeiros naturalizados acusados de crimes que incluem atirar em policiais, poligamia e circuncisão feminina e, especificamente, em apoio à expulsão de romanis não franceses em acampamentos ilegais no país.

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Pesquisas do Le Figaro, um jornal que apoia o presidente, mostrou que sua decisão tem suporte da maioria, ainda que pesquisas de outras publicações ofereçam números menos conclusivos. O Le Monde, que não gosta muito de Sarkozy e questionou a legalidade de sua ação, insistiu que a integração dos ciganos estrangeiros é improvável a que ignorar essa realidade poderia ser “radical chic em sua forma insuportavelmente frágil”.

A Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, ameaçou uma censura administrativa com base em que os romanis, como cidadãos europeus, foram vítimas de discriminação específica.

Mas perdeu credibilidade quando seu comissário para a Justiça, Viviane Reding, falou sobre as expulsões na França no contexto da bestialidade nazista. Foi a mesma comissão que não puniu seu comissário de comércio, Karel de Gucht, por afirmar no início do mês que “não é fácil ter uma discussão racional com um judeu moderado” sobre o Oriente Médio.

A União Europeia, de fato, tem relativamente pouco a oferecer quando se trata de clareza sobre questões de imigração. Não há uma cota comum, um mínimo de regulação específica e regras que encorajem a livre circulação entre as fronteiras. A União Europeia parece não ter avançado na questão desde o final de 2004, quando Theo van Gogh foi assassinado em Amsterdã por um extremista muçulmano; o governo holandês, presidindo a União Europeia num encontro de cúpula em Bruxelas, considerou inoportuna trazer a questão da integração muçulmana antes de seus parceiros. Não importa como, mas a Europa tem agora mais pontos de referência para discussão do problema da imigração e da identidade que atinge profundamente seus cidadãos.

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