Tunísia tem 2º dia de protestos depois de morte de opositor
Partidos políticos convocaram uma greve geral para sexta-feira, dia do funeral
A polícia tunisiana lançou nesta quinta-feira bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes no centro de Túnis, um dia após o assassinato do líder opositor Chokri Belaid, que provocou uma série de protestos contra o poder islamita em todo o país. O premiê Hamadi Jebali chegou a anunciar a formação de um novo governo, mas o partido governista islâmico Ennahda rejeitou a decisão. Quatro siglas da oposição convocaram uma greve geral para sexta-feira, dia do funeral de Belaid, morto a tiros na quarta-feira na capital tunisiana. Belaid era secularista e adversário ferrenho do governo.
As manifestações desta quinta-feira foram estimuladas pelas acusações de pessoas próximas de Belaid que alegam que o governo islamita está por trás do assassinato. Os distúrbios deixaram um morto entre os policiais, e várias sedes do partido Ennahda – que dirige o governo desde as eleições de outubro de 2011 – foram incendiadas ou saqueadas em várias regiões do país. Nesta manhã, policiais foram mobilizados na avenida Habib Bourguiba, palco dos confrontos na véspera e símbolo da revolução de janeiro de 2011, que derrubou o governo de Zine El Abidine Ben Ali.
Apesar da rejeição por parte do Ennahda, a decisão de Jebali de formar um novo governo de tecnocratas foi bem recebida pela oposição, que exigem eleições “o quanto antes”. Vozes opositoras também exigem a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que há 15 meses não consegue redigir uma Constituição devido à ausência de consenso entre os deputados. “O governo já não é capaz de dirigir o país e deve renunciar ao interesse do povo, da Tunísia e de sua estabilidade”, disse o opositor Beji Caid Essebsi.
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Crise – Os sindicatos de advogados, de magistrados e da procuradoria, assim como os professores da principal universidade tunisiana, La Manouba, nos arredores da capital, anunciaram que estarão em greve a partir desta quinta. Há meses, o país vive uma crise política e social, em um contexto de esperanças frustradas após a revolução de 2011. Nos últimos meses, partidos de oposição e sindicalistas acusaram milícias pró-islamitas de ataques contra opositores. Alguns grupos próximos ao Ennahda foram acusados de orquestrar ataques como o espancamento de um opositor que acabou morto.
O chefe do Partido Republicano tunisiano, Ahmed Nejib Chebbil, crítico ao governo, declarou nesta quinta-feira, em uma entrevista à rádio francesa RTL, que “figurava em uma lista de personalidades que deveriam ser assassinadas” e que se beneficiava de proteção oficial. “Sou ameaçado. O ministério do Interior me informou oficialmente há quatro meses que estava em uma lista de personalidades a assassinar. O presidente me concedeu guarda-costas há três ou quatro meses”, disse Chebbi, cujo partido também se opõe aos islamitas no poder.
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(Com agência France-Presse)