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Supermercado estatal é o retrato da falência da Venezuela

Maior vitrine da estatização da produção e distribuição de alimentos agoniza. Quando há produtos, uma simples compra leva horas

Por Diego Braga Norte, de Caracas
25 fev 2014, 20h07

Filas de horas, escassez de produtos básicos, segurança militar, esteiras rolantes que não funcionam, lojas fechadas e muitas caras amarradas dos consumidores: eis o retrato do Hipermercado Bicentenário, na capital Caracas. O que era para ser a maior vitrine do sucesso da estatização da produção e distribuição dos bens de consumo acabou abarrotado de pessoas que esperam em longas filas para comprar basicamente óleo, farinha, papel higiênico, leite, margarina e frango – produtos que precisam ser estocados, pois não se sabe quando estarão novamente disponíveis nas prateleiras.

Nesta terça-feira, Ynda Caballero, de 28 anos, estava na fila com a filha de dois anos. Ela disse que o mercado estava cheio devido à chegada de alguns produtos que costumam faltar. O açúcar tinha acabado de chegar e seus fardos estavam expostos em uma área aberta, sem que houvesse tempo nem mesmo para colocá-los nas gôndolas. Na ausência de papel higiênico, muitas famílias optam por guardanapos. O frango já estava acabando. A reportagem de VEJA não flagrou pessoas comprando produtos que poderiam se encaixar na categoria de supérfluos, apenas carrinhos repletos de itens básicos.

Para José Carrasquero, professor de ciência política das Universidades Católica e Simón Bolívar, o desabastecimento é fruto, principalmente, da má administração do governo. “O governo estatizou muitas empresas alimentícias, que hoje não operam satisfatoriamente. Em janeiro, o índice de escassez atingiu 28%, o mais alto da história”, diz Carrasquero. “De que adianta os preços serem subsidiados se não há produtos nos mercados?”, questiona o professor, referindo-se aos preços mais baixos dos supermercados estatais.

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Luís Vicente León, presidente da consultoria privada Datanálisis, uma das maiores do país, afirma que o governo tentou suprir sua ineficiência na produção e na distribuição de alimentos com importações, mas fracassou. “A Venezuela não é uma boa pagadora e não tem mais crédito internacional, ninguém quer vender nada para nosso governo”, explica. Para ele, se o país continuar trilhando esse caminho, o racionamento de bens de consumo (que já começou em alguns estabelecimentos estatais) será inevitável. A parcela da população que será mais afetada é justamente a de menor poder aquisitivo.

O índice de escassez é formado por uma cesta de vários produtos e é medido mensalmente pelo Banco Central da Venezuela (BCV). Em comunicado oficial, a instituição assinalou que “o nível de escassez do mês de janeiro está associado, principalmente, à falta de matérias-primas e materiais de montagem em alguns setores, como o de automóveis, que não estão diretamente relacionados com as necessidades essenciais da população venezuelana”. Mas a tentativa de minimizar o problema cai por terra quando verifica-se que o indicador específico de escassez de alimentos básicos registrou 26,2% em janeiro. (Continue lendo o texto)

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Sob o olhar de Chávez – O estabelecimento mais parece um dos antigos supermercados da Alemanha Oriental. Além das prateleiras vazias, chama a atenção no Hipermercado Bicentenário a decoração com uma iconografia que remete ao caudilho Hugo Chávez, morto em março do ano passado. Pôsteres do coronel estão espalhados desde a entrada do estacionamento, passando pelas esteiras rolantes e lojas do centro comercial que funciona no primeiro piso do complexo – a área abriga uma praça de alimentação e serviços como ótica, farmácia, salão de beleza, lojas de roupas. Nesta terça, os estabelecimentos estavam às moscas.

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Os consumidores têm de enfrentar duas filas para fazer compras. Uma apenas para subir ao andar do hipermercado e outra já no local, para andar por entre os corredores. Depois, para pagar, mais filas. E na saída, claro, outra fila – dessa vez para a conferência da nota fiscal com os produtos nas sacolas, para evitar furtos. Toda a segurança – ostensiva, diga-se – é feita por militares fardados. Apesar da aparente confusão e superlotação, as pessoas são amáveis entre si e chegam a fazer troca de produtos, como dois pacotes de café por um de farinha. Procurado pela reportagem, o gerente do Bicentenário mandou dizer que não estava autorizado a falar com a imprensa.

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Inaugurado por Hugo Chávez em 2012, o hipermercado é controlado pelo Ministério do Poder Popular para a Alimentação e já nasceu atrasado, pois o bicentenário da Venezuela foi comemorado um ano antes, em 2011. Alardeado por oferecer 80% de produtos nacionais a baixo custo, o local, segundo o cliente José Lopez, funcionou muito bem por alguns meses, mas decaiu. “Era bom, eu vinha com minha família, não tinha filas. Já faz uns meses que está assim. Sou soldador e perco o dia todo fazendo compras em vez de trabalhar”.

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