Simon Weston se transformou em um símbolo no Reino Unido depois de regressar milagrosamente vivo da guerra das Malvinas e, apesar de 30 anos não terem apagado as cicatrizes de seu corpo, não guarda rancor do povo argentino, apenas de seus governantes.
No dia 8 de junho de 1982, seis dias antes da rendição argentina, Weston estava a bordo do “Sir Galahad”, em Fitzroy, ao sul da capital Port Stanley, pronto para desembarcar com o restante das tropas, quando o navio, carregado de munições e combustível, foi bombardeado por um avião inimigo.
Quarenta e oito pessoas morreram no ataque mais mortífero da guerra para os britânicos, entre eles 38 de seus companheiros de regimento da Guarda Galesa, mas Weston, que então tinha apenas 20 anos, sobreviveu apesar de ter sofrido queimaduras em 46% de seu corpo.
Três décadas e mais de 80 cirurgias depois, o rosto deste ex-militar de expressivos olhos azuis segue marcado para sempre pelas queimaduras, mas o mais difícil ficou para trás.
“Nunca pensei que fosse morrer, embora em algum em um momento tenha desejado isso porque era muito doloroso”, explica Simon Weston, hoje de 50 anos, na iluminada sala de estar de sua casa, situada em um agradável bairro do subúrbio de Cardiff.
Há anos, este galês filho de um piloto e de uma enfermeira da Força Aérea que se alistou aos 16 anos, depois de ter se metido em apuros, e que, antes das Malvinas, serviu em Berlim, Irlanda do Norte e Quênia, confessou à imprensa ter tentado tirar própria vida e ter buscado refúgio no álcool para superar o trauma. Hoje afirma que parou de beber.
Apesar de tudo, Weston diz não ter problema algum com o povo argentino. “Tenho amigos na Argentina, conheço as pessoas na Argentina. Trabalhei com eles e, inclusive, sou amigo do cara que me atacou. Só não gosto dos políticos”, acrescenta este homem.
Em seu processo de catarse, além de voltar várias vezes às ilhas, aceitou conhecer em 1991 o piloto argentino Carlos Cachón.
“Em todos os pesadelos que tive sobre o barco explodindo, o fogo e meus amigos morrendo, seus olhos não tinham alma, estavam vazios. Queria pôr vida nesses olhos”, explica a cabeça sobre suas mãos deformadas.
E, apesar dos temores iniciais, este “homem de paz” encontrou em seu adversário, que como ele cumpria com seu dever de militar, “uma pessoa incrivelmente agradável e amável”.
Ele não pensa da mesma forma a respeito do governo argentino da época, que efetuou uma “ação militar ilegal e injustificada”, que deixou um trágico registro total de mais de 900 mortos.
Critica até a presidente Cristina Kirchner por sua agressiva política atual que, segundo ele, faz com que os insulares vivam em uma situação de medo permanente.
“Estou desesperadamente triste por eles. Não permitiríamos que tratassem animais desta forma, são constantemente acossados, maltratados e mentalmente torturados com o fato de que podem ser invadidos a qualquer momento”, afirmou, prometendo que, enquanto tiver forças, seguirá defendendo seu direito à autodeterminação.
Simon Weston se transformou em uma celebridade no Reino Unido depois do terrível bombardeio, um papel difícil de encarar a princípio, mas que acabou apreciando.
Protagonista de seis documentários, autor de três livros autobiográficos, de dois romances e de três contos infantis, o ex-soldado é também um conhecido conferencista.
Em 1988, fundou a associação Weston Spirit, para ajudar jovens pobres, que teve que fechar durante a crise. Foi lá que conheceu sua esposa Lucy, uma das voluntárias. O casal, que em maio celebrará seu 22º aniversário de casamento, tem três filhos de entre 14 e 20 anos, e um neto de seis meses.
Olhando para trás, Weston se sente uma pessoa de sorte. “Foi um momento decisivo em minha vida. Provocou uma reação em cadeia de coisas que aconteceram nos 30 últimos anos, mas que me beneficiaram de forma espetacular”, reconhece aquele que em 1992 foi também condecorado com a Ordem do Império Britânico pela rainha Elizabeth II.
Mas Weston quer continuar trabalhando. Seu próximo projeto é se candidatar à eleição para o novo cargo de comissário de polícia de Gales do Sul.
“Nunca tive um emprego fixo desde que deixei as Forças Armadas”, concluiu, entusiasmado.