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Qual é o tamanho do dano do vazamento no Golfo?

Por BBC
13 jul 2010, 21h49

Nos meses que se seguiram ao vazamento de petróleo no Golfo do México apareceram imagens chocantes de aves cobertas de petróleo e golfinhos mortos, ma o que se sabe sobre a dimensão dos danos ambientais do acidente com a plataforma da British Petroleum? O que acontecerá com o petróleo derramado? “A boa notícia é que o óleo é um produto natural e é relativamente fácil de se degradar”, disse Ed Overton, cientista ambiental da Universidade de Louisiana. O petróleo que não se dispersar ou for lavado na costa será atacado por micróbios. “Eles usam o óleo como alimento”, afirmou.

É uma vantagem que o vazamento tenha ocorrido nas águas quentes do Golfo do México, onde as condições são boas para a decomposição. Em climas mais frios, as coisas podem ser mais difíceis. “Compare com o acidente do Exxon Valdez onde ainda existem praias nas quais você pode chutar uma pedra e encontrar poças de petróleo sob elas”, disse Stan Senner, diretor de ciência da conservação do Ocean Conservancy. “No Golfo do México há um ambiente diferente. Ali há uma capacidade maior para o ambiente controlar os hidrocarbonetos.”

Mas isso não quer dizer que o óleo vai sumir completamente. Pode haver petróleo enterrado na costa, ou ele pode acabar no fundo do mar, em zonas anaeróbicas – lugares sem oxigênio para permitir que os microorganismos façam seu trabalho. “Nunca vimos essas nuvens de óleo dispersas em pequenas gotas de água”, disse Senner. “Não sabemos o quanto acabará no fundo nem quanto está enterrado no leito do mar.”

O óleo pode ser mortal para plantas e animais. “Os pântanos já sofreram o impacto, se apenas os caules e a grama na superfície foram afetadas então a recuperação vai ocorrer em um ou dois anos”, afirmou Larry McKinney, diretor do Instituto de Pesquisas Harte para pesquisas no Golfo do México. “Se o petróleo penetrou nas raízes, aquelas áreas pantanosas serão perdidas completamente e nunca irão se recuperar.”

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É difícil nesse momento dizer qual será o efeito nos habitats do norte do golfo. “O óleo poderá matar as folhas, mas não necessariamente as plantas”, disse Overton.

“Com episódios como esse, os impactos ocorrem em fases diferentes”, disse Senner. Primeiro, há uma onda inicial de mortes, os animais ficam cobertos de óleo e morrem. A conta da tragédia até agora inclui milhares de carcaças de pássaros, metade delas coberta de petróleo, meia centena de tartarugas e um número semelhante de golfinhos. Mas esses números pequenos refletem o fato de que uma quantidade mínima de carcaças foi encontrada. “Presume-se que a taxa de mortalidade é muitas vezes maior do que foi identificado”, disse Senner. “A regra para as carcaças de pássaros é que você encontra uma em dez, mas o número pode ser menor.”

A pergunta que todos se fazem é se o número de animais da região voltará ao normal. Tudo depende do tempo de vida de cada bicho. No vazamento da Ixtoc, no México, em 1979, houve uma redução entre 60% e 70% dos camarões no ano do acidente, mas eles voltaram ao normal entre um e dois anos depois, disse McKinney. Mas há animais com um ciclo de vida longo, como os golfinhos, tubarões baleias e tartarugas marinhas. Se uma única geração for largamente dizimada, a população só irá se recuperar depois de dez ou vinte anos. E ainda existem os organismos de vida longuíssima. “Para as comunidades de corais de águas profundas, o ciclo de vida é contado em centenas de anos”, disse McKinney.

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Eles são potencialmente vulneráveis ao petróleo ou a manchas de água sem oxigênio criadas pelos micróbios ao se alimentar do óleo. Quando os micróbios degradam o petróleo, eles consomem oxigênio e produzem dióxido de carbono. Uma preocupação de Mckinney é o dispersante químico carregado de metano usado para limpar o vazamento.

O lado positivo para os peixes é que por mais grave que tenha sido o vazamento, o dano poderá ser atenuado com as restrições à pesca. “Grandes áreas foram fechadas no golfo e a pressão sobre os peixes foi reduzida”, disse McKinney. Com a proibição da pesca, mais peixes sobreviverão e poderão se reproduzir. Estoques como o da cioba poderão voltar ao normal entre dois e quatro anos. Mas o efeito do vazamento sobre espécies ameaçadas, como o atum azul, poderá ser severo.

“Nos ecossistemas, quando alguma coisa desaparece outra toma seu lugar e você não volta mais à forma como as coisas eram”, disse Senner. “Os ecossistemas são dinâmicos. O que vemos no golfo é um ecossistema que já enfrentou um grande número de dificuldades.” Alguns animais e plantas podem ser seriamente afetados pelo óleo e não encontrar mais seu lugar no ecossistema quando as condições voltarem ao normal. Mas eles serão substituídos por outros organismos.

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Em alguns aspectos do vazamento, os cientistas não podem ir além da especulação. Biólogos marinhos admitem que não chegaram a um acordo sobre os efeitos do óleo em organismos de águas profundas. “Não sabemos quase nada sobre a ecologia do fundo do oceano”, disse Overton. Pode parecer apenas uma migalha de conforto, mas o vazamento de 2010, um dia, talvez ofereça esse conhecimento.

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