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Pressão popular fez Merkel abandonar energia nuclear

Analistas acreditam que objetivo principal é não perder terreno para opositores

Por Da Redação
30 Maio 2011, 18h23

Apesar de sua importância do ponto de vista ambiental, a decisão do governo alemão de desligar todas as suas centrais nucleares até 2022, anunciada nesta segunda-feira, é mais uma jogada de marketing eleitoral da chanceler Angela Merkel do que uma real guinada na política energética da Alemanha. Afinal, dos 17 reatores em operação no país, 14 já estavam programados para encerrar sua vida útil em 2021. Ao abandonar os outros três, Merkel aproveita o momento de protestos em todo o país para tentar transformar o clamor popular em apoio eleitoral.

A pressão da população alemã pelo abandono esse tipo de energia cresceu após o desastre da usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 11 de março. Uma pesquisa realizada dias depois da tragédia, sob encomenda da rede de televisão ARD, mostrou que 80% dos eleitores na Alemanha se opõem à energia nuclear. Na época, antes do do fechamento de sete unidades antigas, as centrais nucleares eram responsaveis por 23% de toda a energia gerada no país.

Os números e os protestos – no último sábado, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades para pedir o abandono dos reatores nucleares e no domingo o Greenpeace voltou a protestar em Berlim – fizeram a chanceler adotar o que agora define como uma “revolução no fornecimento de energia”. Não deixa de ser uma mudança clara no posicionamento de Merkel. Em setembro de 2010, ela falava em estender a vida operacional das 17 usinas nucleares alemãs, com o objetivo de reduzir as emissões de gás carbônico no país.

Tática eleitoral – A mudança de posicionamento de Merkel indica certo desespero por parte de sua coalizão conservadora-liberal, acreditam analistas. A chanceler aposta nas energias renováveis como forma de ganhar credibilidade e evitar novas derrotas eleitorais.

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Desde sua vitória nas eleições legislativas de setembro de 2009, a coalizão de Merkel vem perdendo popularidade de forma progressiva. Nos cinco pleitos regionais realizados neste ano, os resultados foram dramáticos para a coalizão conservadora-liberal em Baden-Württemberg, Hamburgo e Bremen. A catástrofe no Japão não só fez ressurgir o movimento antinuclear alemão, como fortaleceu a oposição. O principal beneficiado foi o Partido Verde, que alcançou recordes de popularidade e vitórias eleitorais impensáveis há alguns meses.

Esse cenário ajuda a explicar a reação apressada de ditar uma moratória nuclear em 11 anos. Medida que, no entanto, foi recebida com ceticismo pelos alemães. Eles esperavam ações ainda mais agressivas. Pesquisas indicam que a recuperação da popularidade e da credibilidade de Merkel será lenta, e que a coalizão deve se preparar para uma nova derrota nas eleições regionais no país em setembro.

Economia e meio-ambiente – O impacto da decisão desta segunda sobre uma das maiores economias mundiais ainda é uma incógnita. Questiona-se especialmente se em onze anos será possível dar o impulso necessário aos recursos renováveis para sustentar a indústria alemã – diante do risco de aumento das tarifas, de desabastecimento no inverno e das indenizações bilionárias por parte das empresas de energia.

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A energia eólica, grande esperança do movimento verde no país, ainda não equacionou questões sobre a rede de distribuição e os custos. Como as fazendas de vento forte estão previstas para funcionar no Mar do Norte, e as centrais nucleares estão instaladas principalmente ao sul do país, seria necessário fazer um alto investimento em uma nova linha norte-sul de cabos de alta tensão e torres.

Diante de todos os custos envolvidos na produção de energia limpa, uma das alternativas para a aposentadoria das centrais nucleares seria a retomada do uso do carvão, uma fonte de energia suja.

Reação internacional – Desde o início da crise no Japão, vários governos europeus anunciaram revisões em suas políticas nucleares. Além da Alemanha, o país que tomou medidas mais consistentes até agora foi a Suíça. Trata-se de uma das nações europeias mais dependentes da energia nuclear, responsável por 40% de seu fornecimento. Na última quarta-feira, o governo decidiu encerrar o uso deste tipo de energia e anunciou que as cinco centrais nucleares serão desligadas de forma progressiva até 2034.

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Já a Itália, que tinha voltado a construir usinas em 2009, paralisou as obras e também fará uma consulta popular sobre a questão, marcada para 12 e 13 de junho. Por outro lado, a França, por exemplo, não deu sinais de que deixará de lado a energia nuclear, e a Polônia tende a construir ainda novas usinas.

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