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Presidente deposto e integrantes da Irmandade Muçulmana são detidos

Porta-voz do grupo fundamentalista afirmou que Mohamed Mursi está em “prisão domiciliar”. Jornal disse que mandados de prisão foram emitidos contra 300 membros da Irmandade

Por Da Redação
3 jul 2013, 21h36

O presidente deposto do Egito, Mohamed Mursi, foi colocado em prisão domiciliar, informou o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad El-Haddad, em sua conta no Twitter. Em entrevista à rede CNN, Haddad afirmou que Mursi foi detido no escritório da guarda presidencial, o que ele descreveu como “prisão domiciliar”. Vários assessores do presidente deposto também foram detidos, acrescentou.

Segundo o jornal estatal Al Ahram, mandados de prisão foram emitidos contra 300 membros da Irmandade Muçulmana, grupo fundamentalista do qual Mursi faz parte. O chefe do Partido Justiça e Liberdade, Saad El-Katatni, ex-presidente do Parlamento, e outros membros da cúpula da Irmandade também foram presos pelas forças de segurança. A agência oficial Mena informou que a polícia tenta deter “membros da Irmandade que são acusados de incitar a violência e perturbar a segurança geral e a paz”.

Mursi foi derrubado pelo Exército nesta quarta-feira, depois de dias de protestos pelo país. Opositores pediam sua renúncia e os militares deram um ultimato para que uma solução para a crise fosse alcançada. Com o fim do prazo, o chefe do Exército e ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sisi, anunciou a suspensão da Constituição, criação de um governo de transição e a convocação de novas eleições. O chefe da Suprema Corte do país, Adly Mansour, deverá ser empossado como presidente interino nesta quinta.

Caio Blinder: A reação dos militares

O anúncio foi recebido com festa por milhares de manifestantes que ocupavam a Praça Tahrir, no Cairo. Mursi manifestou-se pelas redes sociais classificando o anúncio do Exército como um golpe militar e pedindo que a Constituição fosse restaurada. As informações sobre o paradeiro de Mursi foram desencontradas durante todo o dia. As Forças Armadas mobilizaram tanques e soldados nas imediações do palácio presidencial, no Cairo, onde Mursi estaria entrincheirado depois do término do prazo de 48 horas estabelecido pelo Exército. Mas também havia informações de que o presidente deposto estaria em um escritório presidencial nas dependências da Guarda Republicana, no subúrbio do Cairo. Mais tarde, um integrantes da Irmandade Muçulmana disse à agência France-Prese que o presidente deposto havia sido levado ao prédio do Ministério da Defesa.

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Confrontos entre adversários e apoiadores do presidente deposto continuaram e deixaram pelo menos 14 mortos nesta quarta. Oito mortes foram registradas em Marsa Matrouh, no norte do país. Dois membros das forças de segurança estariam entre as vítimas, informou a agência Reuters. Outras três pessoas foram mortas na cidade de Alexandria, a segunda maior do país. Três pessoas também morreram nos confrontos em Minya, no Sul do país, incluindo dois policiais, segundo a agência Mena.

Estados Unidos Em comunicado, o presidente Barack Obama expressou “grande preocupação com a decisão das Forças Armadas de remover o presidente Mursi e suspender a Constituição”. “Eu faço um chamado aos militares para que atuem rapidamente e de forma responsável para trazer a autoridade de volta a um governo civil democraticamente eleito o mais rápido possível, através de um processo transparente e inclusivo”, continuou a nota, que fazia um apelo para que fossem evitadas “prisões arbitrárias” de Mursi e seus apoiadores. “Nenhuma transição para a democracia ocorre sem dificuldades, mas no final, o processo deve permanecer fiel à vontade do povo”, acrescentou Obama.

O presidente disse ainda que orientou as agências americanas a avaliar as implicações dos últimos acontecimentos sobre a ajuda militar concedida aos Estados Unidos. Segundo a rede britânica BBC, os planos dos EUA eram de destinar 1,3 bilhão de dólares em ajuda militar ao Egito no ano que vem. Além disso, muitos oficiais egípcios são treinados nos Estados Unidos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, divulgou um comunicado na mesma linha dos Estados Unidos, expressando preocupação, mas sem condenar a deposição de Mursi. “Muitos egípcios em seus protestos deram voz a frustrações e preocupações legítimas. Ao mesmo tempo, a interferência militar nos assuntos de qualquer estado é sempre algo preocupante. Portanto, será crucial restaurar rapidamente um governo civil de acordo com os princípios da democracia”.

Militares – A agência de análise geopolítica Stratfor chama a atenção para um ponto crucial em relação à política no Egito: a força dos militares. “Eles têm sido o principal suporte do regime desde a fundação da república, em 1952”. Naquele ano, os militares depuseram o rei Farouk, sob a liderança do coronel Gamal Abdel Nasser, e desde então, adaptaram-se a todas as circunstâncias. A agência afirma que, principalmente depois da Guerra dos Seis Dias com Israel, em 1967, os militares comandaram o país dos bastidores. Até a ditadura de Hosni Mubarak, que durou três décadas até sua queda, em fevereiro de 2011, a influência militar era viabilizada pelo regime de partido único. “O Partido Nacional Democrático administrava sob as ordens dos militares. A destruição do partido deixou as Forças Armadas sem um parceiro civil. Situação complicada pelo surgimento de múltiplos partidos”.

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Para a Stratfor, a Irmandade Muçulmana de Mursi poderia funcionar como substituta do antigo partido, apesar das diferenças ideológicas. O que os militares precisavam era de um governo que pudesse administrar a economia do país de forma que o ambiente de crise fosse controlado. Mursi falhou nessa área. “Seu foco em consolidar o poder de seu grupo foi o que desencadeou a maciça reação pública”. E deixou o Exército novamente sem um parceiro civil. “Não há alternativas à Irmandade Muçulmana porque a oposição é um grande movimento de protesto sem qualquer núcleo coerente”.

A queda de Mursi, afirma a agência, mostra que a estratégia militar de comandar sem governar está se mostrando cada vez mais difícil de viabilizar. O Exército “não pode impor um regime militar porque isso apenas agravaria as tensões”, diz o artigo, acrescentando que o país precisa de um governo de coalizão, o que “será extremamente difícil de criar”. “Com o Egito limitado por diferentes facções e pressões, os militares continuam sendo a principal fonte de poder”.

A Junta Militar que comandou o país no período entre a queda de Mubarak e a eleição de Mursi era criticada por opositores que a acusavam de minar os esforços para a construção da democracia. Antes mesmo de largar o poder, a junta negociava para manter alguma relevância dentro do novo governo. Ao assumir a Presidência, Mursi mandou para a reserva os generais mais influentes e substituiu-os por outros simpáticos à Irmandade. O general Abdel Fattah al-Sisi, que anunciou nesta quarta que Mursi não estava mais no poder, havia sido indicado para comandar o Ministério da Defesa em agosto do ano passado. Assim como ficou claro nos dias que antecederam a queda de Mubarak, os manifestantes só obtêm sucesso em suas reivindicações quando as Forças Armadas deixam de apoiar o presidente.

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