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Onda anti-ocidente mostra fragilidade na política externa americana

Por Da Redação
15 set 2012, 19h30

Depois de uma semana de fúria, a onda anti-ocidente refluiu no mundo islâmico neste sábado. A calmaria, no entanto, tem um símbolo ominoso: uma enorme barreira de concreto erguida pelo exército egípcio na principal rua de acesso à embaixada americana no Cairo, invadida por manifestantes na quarta-feira e, até a noite de sexta-feira, alvo de uma turba que enfrentava a polícia e tentava chegar novamente ao prédio.

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Tanto a Líbia quanto o Egito são exemplos disso. Neste sábado, o presidente líbio Mohammed al-Magarief afirmou, em entrevista à rede árabe de notícias Al-Jazeera, que o ataque de terça-feira ao consulado americano de Bengazi que resultou na morte do diplomata Christopher Stevens provavelmente foi obra de um grupo terrorista organizado como a al-Qaeda. Ele reconheceu que não tem como controlar as redes extremistas em atividade no país.

No Egito, a construção da barreira de segurança e a ação da polícia contra manifestantes foram respostas bastante tardias, ensejadas por forte pressão do governo americana. No início das tensões no Cairo, a presidência do islamita Mohammed Mursi pouco fez para conter os protestos. Um dos primeiros comunicados oficiais usava a linguagem do absurdo, ao pedir que a população do Egito “demonstrasse ira com moderação”.

Essas histórias comprovam que os novos governos dos países muçulmanos oscilam entre ser reféns ou cúmplices dos religiosos radicais.

Nos Estados Unidos, a ideia de que a onda de revoltas marca o início de uma crise prolongada começou a ser debatida com profundo desconforto pela administração Obama e por seus apoiadores. “A agitação subitamente emergiu como a crise mais séria de política externa do período eleitoral”, dizia extensa reportagem do jornal The New York Times neste sábado. O incidente da embaixada americana em Bengazi deixou claro que até mesmo medidas primárias de segurança vinham sendo ignoradas – como revela outra fonte da imprensa americana, o site de análise estratégica Stratfor.

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Até agora, a política externa para o Oriente Médio era tida como um dos grandes trunfos de Obama na disputa à reeleição. Além da morte de Osama Bin Laden, da (relativa) estabilização do Iraque e do desenho de um plano para a retirada das tropas americanas do Afeganistão, o governo americano também se apresentava como uma espécie de parceiro das nações árabes que se livraram de antigas ditaduras e entraram numa fase de refundação.

Mais uma vez, o Egito é um bom exemplo. Os Estados Unidos não apenas deram todas as demonstrações de apoio diplomático ao governo recém-eleito de Mohammed Mursi, a despeito de seu histórico de ligação com a Irmandade Muçulmana, como ainda mantiveram programas de apoio econômico ao Egito – aparentemente, sob a crença ingênua de que isso compraria algum grau de simpatia aos americanos.

Neste sábado, o presidente Obama dedicou boa parte de seu pronunciamento semanal em vídeo à questão do Oriente Médio. “Eu sei que as imagens na televisão são perturbadoras”, ele disse. “Mas não podemos nos equecer que para cada turba violenta, há milhões que anseiam pela liberdade, pela dignidade e pela esperança que nossa bandeira representa.” É o tipo de discurso que continua a escamotear o rumo que a “primavera árabe” tomou: depois de um primeiro momento em que liberais e islamitas dos países árabes se uniram para derrubar um inimigo comum – os velhos ditadores – os segundos se tornaram os principais protagonistas da mudança política, escanteando (ou sufocando) qualquer grupo de oposição.

Embora a ideia de que a abordagem do governo Obama sobre a “primavera árabe” é ingênua venha sendo martelada há tempos pelos republicanos, até agora Mitt Romney, seu opositor nas eleições deste ano, não conseguiu utilizar os eventos da semana para avançar a tese de que ele está mais preparado para enfrentar o desafio de lidar com o mundo islâmico. Sua primeira declaração sobre os eventos na Líbia foi desastrosa pelo tom – que sugeria que Obama tinha simpatia por aqueles que atacavam as representações americanas no exterior. Ele teve de voltar atrás, e se pôs na defensiva.

Os dois candidatos, assim, se aproximam da eleição sem discursos convincentes de liderança no campo da política externa. É um cenário preocupante. Um mundo em que os Estados Unidos se veem perdidos para defender sua própria segurança e seus próprios interesses no confronto com as forças políticas mais retrógradas e irracionais não é, definitivamente, um mundo melhor.

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