Obama: vazamento sobre espionagem causou ‘dano desnecessário’
Em entrevista, Obama critica países que ‘perseguem dissidentes’ e evita falar sobre possibilidade de concessão de anistia a Edward Snowden
Sem responder se consideraria uma concessão de anistia para Edward Snowden, o presidente Barack Obama criticou o vazamento de informações secretas sobre os programas de espionagem realizado pelo ex-analista de inteligência. Na entrevista coletiva de encerramento do ano, o democrata disse que o debate sobre vigilância é “importante e necessário”, mas o vazamento das informações “causou um dano desnecessário à inteligência e à diplomacia dos Estados Unidos”.
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“Eu disse que acredito que essa é uma discussão importante que temos de ter. Também disse que a forma como essas informações foram reveladas foi prejudicial para os Estados Unidos e para a capacidade de nossa inteligência”, disse aos jornalistas, acrescentando que “havia uma forma de o debate ser realizado sem o dano causado”. Obviamente, ele não disse como o debate seria suscitado sem que Snowden tivesse revelado o alcance das garras da espionagem americana contra cidadãos e governos.
Também sem citar países específicos, o presidente americano alfinetou aqueles que “realmente fazem as coisas com as quais o senhor Snowden diz estar preocupado, de forma muito explícita, dedicando-se a vigiar seus próprios cidadãos, tendo dissidentes políticos como alvo, suprimindo a imprensa”. Neste momento, é bom lembrar que Snowden fugiu primeiro para a China e depois para a Rússia, onde conseguiu asilo temporário – por isso, é fácil deduzir que Obama pensava em Pequim e Moscou ao fazer a crítica. Depois que os programas secretos foram revelados, continuou o presidente americano, esses países agora conseguem agir “como se fossem os Estados Unidos que tivessem problemas relacionados a vigilância e operações de inteligência. É uma visão muito distorcida do que está acontecendo”.
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Anistia e mudanças – No início desta semana, um alto oficial da Agência de Segurança Nacional (NSA) disse que uma anistia a Snowden seria considerada em troca dos dados que o ex-analista ainda tem em seu poder. Questionado sobre a possibilidade, o presidente preferiu não comentar o tema, devido às acusações que pesam sobre Snowden. “Tenho de ser cuidadoso aqui”, alertou, para em seguida dizer que deixaria os comentários para a Justiça e o procurador-geral, Eric Holder.
Obama defendeu em vários momentos da entrevista os programas de vigilância, e salientou que os Estados Unidos se importam com as liberdades civis, a privacidade e a Constituição. Acrescentou que algumas mudanças devem ser feitas nas operações. Exemplificou dizendo que alguns lotes de dados telefônicos coletados pelas agências poderiam ser mantidos por empresas privadas, como forma de recuperar a confiança dos norte-americanos no sistema de espionagem. “Não podemos desativar unilateralmente”, avisou. Mas há formas de assegurar às pessoas que as informações são coletadas com mais checagens e equilíbrio. “Assegurar que há controle suficiente e transparência suficiente”.
A transferência de armazenagem de dados telefônicos das agências para empresas privadas é uma das recomendações que constam no relatório elaborado por um comitê formado a pedido do próprio presidente, depois que o vazamento das informações secretas afundou a administração Obama em uma crise de credibilidade diante do público americano e também do estrangeiro. O democrata disse que passará as próximas semanas analisando as 46 recomendações do documento e apresentará suas conclusões em janeiro.
(Com agências Reuters e EFE)