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O perfil do terrorista moderno

Especialistas consultados pelo site de VEJA ajudam a entender quem são as pessoas mais propensas a aderir ao extremismo atualmente e como elas agem

Por Cecília Araújo
28 abr 2013, 08h51

O atentado em Boston, na semana passada, orquestrado pelos irmãos de origem chechena Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev, é mais uma prova de que a natureza do ativismo islâmico radical contra populações civis em várias partes do mundo ocidental, em especial nos Estados Unidos, mudou. Cada vez mais a internet se mostra capaz de radicalizar e treinar um jovem disposto à vingança e propenso à violência. O terrorismo moderno não precisa de um comando central, nem mesmo de recrutar insurgentes. Suas ações são de menor proporção, anárquicas e improváveis, passando muitas vezes despercebidas aos olhos atentos das agências de inteligências locais e globais. Especialistas consultados pelo site de VEJA ajudam a entender o que pode levar essas pessoas comuns, sem ligação direta às grandes organizações extremistas, a realizar tais ataques. “Por muitas almas descontentes, a jihad é vista como uma causa heróica – uma promessa de que qualquer pessoa de qualquer lugar pode deixar sua marca contra o país mais poderoso do mundo”, diz o antropólogo americano Scott Atran.

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Radicalização on-line – O caminho para a radicalização pode levar anos, meses ou apenas dias, dependendo da vulnerabilidade da pessoa e da influência de outros. Geralmente, aquele que se radicaliza tem um parente ou um amigo de amigo com alguma ligação com o exterior, alguém que possa lher dar o mínimo de treinamento e motivação para carregar uma mala de explosivos ou puxar o gatilho. Mas as redes sociais e a internet de uma forma geral são suficientes para radicalizar um jovem em crise e lhe oferecer informações operacionais, além de garantir o que mais impulsiona o terrorismo moderno: a publicidade. “A internet há anos se mostra como catalizador de processos sociais e políticos, diminuindo fronteiras e dando acesso a informações que antes eram sigilosas ou restritas a alguns grupos distantes. Qualquer um pode facilmente aprender a fazer uma bomba com uma panela de pressão, entrar no Google Earth e ver o percurso de uma maratona”, diz Zahreddine.

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As pesquisas de Scott Atran indicam que hoje as conspirações terroristas contra populações civis ocidentais tendem a ser pouco sofisticadas, e não controladas por organizações internacionais. Ao contrário, elas parecem partir de redes domésticas, ou mesmo caseiras, com o objetivo de defender menos uma causa, e mais seus próprios interesses, de seus amigos e familiares. Os terroristas modernos em geral se motivam um ao outro dentro de “irmandades” de parentesco real ou fictício. É como se a injustiça mundial ressoasse com aspirações pessoais frustradas, e a indignação daria sentido e impulso para a radicalização e a ação violenta. O resultado é um movimento nada hierárquico, com ações de menor amplitude e autônomas, em constante evolução por meio das redes sociais. “Os ataques terroristas bem-sucedidos nos últimos anos são tão anárquicos, fluidos e improváveis que os autores conseguiram passar despercebidos, apesar de as agências de inteligência em algum momento terem seguido seus passos”, diz.

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Novo desafio – Segundo Atran, o ativismo islâmico radical moderno tem três características centrais: seus objetivos finais são vagos e superficiais – muitas vezes não mais profundos do que a “vingança contra a injustiça que os muçulmanos sofrem em todo o mundo” -, seus modos de ação são decididos de forma pragmática, com base na tentativa e erro, e aqueles que se unem à causa não são recrutados, eles próprios buscam alguma ligação com o jihad global, pessoal ou virtualmente.

“Os ataques da Al Qaeda contra o Ocidente diminuíram em intensidade, mas os jihadistas passaram a incentivar jovens autônomos que vivem em países ocidentais a manter viva a ameaça terrorista. Por um lado, a possibilidade de que haja um novo 11 de setembro é mínima. Porém, os terroristas solitários são muito mais difíceis de serem detectados e detidos pela inteligência americana”, pontua Bakker.

Nos Estados Unidos, há muitos grupos de imigrantes que procuram mais do que as habituais lutas por desenvolvimento economômico. Mas o “choque de civilizações” entre o Islã e o Ocidente pode ser confuso: os extremistas não reivindicam o ressurgimento das culturas tradicionais, mas sim o seu colapso. Os jovens deslocados das tradições milenares de seu povo na verdade buscam uma nova identidade social, que lhe dê um significado pessoal. E decifrar a cabeça dessas pessoas é o grande desafio agora. “As autoridades americanas e europeias estão cientes de que sua principal ameaça hoje não vem do núcleo central da Al Qaeda ou de suas filiais regionais já estabelecidas, mas sim das células autônomas ou mesmo de terroristas solitários”, diz Bakker. “Parece cada vez mais difícil estar totalmente seguro, não importa o quanto a gente gaste em segurança ou sacrifique as nossas liberdades individuais. A iminência desse tipo de ação terrorista não cabe nas antigas respostas e alertas de segurança global”, completa Atran.

Quem são os irmãos Tsarnaev

Tamerlan Tsarnaev
Tamerlan Tsarnaev (VEJA)

Tamerlan, de 26 anos, era casado e tinha uma filha de 3 anos. Participava do Golden Gloves, torneio de boxe amador dos Estados Unidos, e pensou um dia em competir pelo país. Ao mesmo tempo, parecia se sentir um peixe fora d’água ali. “Não tenho um único amigo americano, não consigo compreendê-los, eles não têm valores”, afirmou certa vez. Pessoas próximas a Tamerlan contam que nos últimos anos ele se mostrava cada vez mais atraído pelo islamismo radical. No YouTube, há vários vídeos postados por ele com imagens de clérigos radicais islâmicos da Chechênia e outras partes do mundo proferindo mensagens ameaçadoras ao Ocidente enquanto bombas explodem no segundo plano. Em 2011, o FBI (polícia federal americana) chegou a entrevistar Tamerlan a pedido da Rússia sobre possíveis conexões com extremistas chechenos, mas a investigação não foi adiante. No ano passado, Tamelan visitou o pai no Daguestão e pode ter tido contato com jihadistas que o motivaram a agir. Após o atentado, foi morto em um tiroteio com policiais.

Dzhokhar Tsarnaev
Dzhokhar Tsarnaev (VEJA)

Dzhokhar, o irmão mais novo, de 19 anos, era estudante da Universidade de Massachusetts, em Dartmouth, e jogava futebol na instituição. Conhecido pelos amigos como Jahar, ele conseguiu entrar na concorrida faculdade americana por meio de uma bolsa escolar, mas ultimamente estava indo mal nas aulas. Segundo conhecidos, mantinha uma boa relação com os colegas e participava de encontros extraescolares, inclusive festas. Não costumava discutir sobre política e nunca havia sido rotulado como ativista islâmico, nem mesmo como particularmente religioso. Alguns dizem que ele “estava sempre sorrindo” e “tinha um coração de ouro”, embora outros o descrevam como sério, agressivo e suscetível às más influências do irmão mais velho. Nos últimos meses, os tweets de Jahar se tornaram um tanto obscuros: “Não vou correr, vou apenas matar todos vocês”, “Eu pareço ser tão fraco assim? Pouco sabem esses cães que estão latindo para um leão”.

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https://www.youtube.com/embed/TC5o-UNplhQ
O real paradeiro de Tamerlan Tsarnaev

Barco onde Dzhokhar Tsarnaev foi capturado
Barco onde Dzhokhar Tsarnaev foi capturado (VEJA)

Militante da Jihad islâmica carrega um foguete durante treinamento em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza
Militante da Jihad islâmica carrega um foguete durante treinamento em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza (VEJA)

Abdul Rahman Ali Alharbi, suposto envolvido no atentado com bomba na maratona de Boston
Abdul Rahman Ali Alharbi, suposto envolvido no atentado com bomba na maratona de Boston (VEJA)

Ruslan Tsarni, tio dos irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev
Ruslan Tsarni, tio dos irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev (VEJA)

Feridos recebem atendimento no local de explosão perto da linha de chegada da Maratona de Boston
Feridos recebem atendimento no local de explosão perto da linha de chegada da Maratona de Boston (VEJA)

Nick Vogt, ferido na maratona de Boston
Nick Vogt, ferido na maratona de Boston (VEJA)

Chris Kyle atirador da marinha
Chris Kyle atirador da marinha (VEJA)

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