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México vai às urnas eleger mistura de Collor e Berlusconi

Do ex-presidente brasileiro, Peña Nieto tem a bela aparência com uma fraca consistência política; e do ex-premiê italiano, o inegável fraco por mulheres

Por Gabriela Loureiro
30 jun 2012, 19h18

“Infiel com a sua família. Fiel e comprometido com o seu país” é um dos slogans do candidato apelidado de “bombom” pelas mulheres.

Após um intervalo de 12 anos, os mexicanos devem conduzir de volta ao poder o Partido Revolucionário Institucional (PRI) nas eleições presidenciais deste domingo. E o candidato responsável por isso, que segundo pesquisas recentes tem entre 40 e 45% das intenções de votos, é Enrique Peña Nieto, descrito por analistas como uma mistura infame do ex-presidente brasileiro Fernando Collor de Mello com o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi. Assim como o primeiro quando surgiu na campanha de 1989, tem a aparência de um galã de novela – mexicana, obviamente – e pouca consistência política, enquanto com o segundo compartilha o inegável fraco por mulheres e esbanjar dinheiro.

“Há uma enorme semelhança entre Collor e Peña Nieto. Ele tem uma boa aparência, mas é vago, não tem propostas claras e faz um estilo liberal-conservador”, observa ao site de VEJA o professor de Relações Internacionais do Ibmec, Oswaldo Dehon. A imagem de “bonitinho, mas ordinário” é reforçada por algumas gafes, como quando o candidato confundiu títulos e autores ao ser perguntado sobre seus escritores favoritos em uma feira do livro, ou quando ele não soube dizer o preço de uma tortilha, prato tipicamente mexicano. Mas como um bom conquistador – que compensa em lábia a inteligência que lhe falta -, empinou ainda mais o impecável topete ao dizer simplesmente que não sabia, porque não é “a senhora do lar”.

Peña Nieto: mulher escreve nome do candidato em coração
Peña Nieto: mulher escreve nome do candidato em coração (VEJA)

E assim como il cavaliere era afagado pela imprensa italiana em seus áureos tempos, el bombón (apelido dado pelas fãs ao candidato mexicano de 45 anos) é claramente o preferido da Televisa, a maior emissora em língua espanhola do mundo. Só que Berlusconi é o proprietário da empresa de TV Mediaset, enquanto Peña Nieto não tem nenhuma participação oficial na emissora mexicana – além da atuação de sua mulher, a atriz Angélica Rivera, nas novelas da rede. Ele é acusado de gastar milhões de dólares em um acordo com o canal para beneficiar sua imagem e difamar os rivais. O site WikiLeaks chegou a vazar documentos da embaixada americana no México, nos quais se demonstrava preocupação com a “ampla aceitação de cobertura favorável a Peña Nieto” e acordos explícitos entre o PRI e a Televisa desde ao menos 2006, quando ele também foi candidato à Presidência.

Popularidade – Essa relação próxima entre o candidato e a TV levou dezenas de milhares de pessoas às ruas do México para protestar contra o que chamam de “manipulação da imprensa a favor de Peña Nieto”. Mas as manifestações não foram capazes de frear – nem arranhar – a popularidade dele, principalmente entre as mulheres. Apesar de competir com quem poderia ser a primeira presidente do México – Josefina Vázquez Mota, do governante PAN – o Don Juan em versão mexicana concentra a maioria do voto feminino, sob o grito de guerra “Enrique, bombón, te quiero en mi colchón” (que dispensa tradução). Universitárias fazem filas para tirar uma foto com o galã e simpatizantes pedem um filho a ele nos comícios.

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Peña Nieto beija sua mulher em comício
Peña Nieto beija sua mulher em comício (VEJA)

O assédio é tamanho que chegou a ser comprovado em uma pesquisa de opinião. O site de encontros Hounters.com entrevistou 640 mexicanas para saber com qual político elas teriam um caso. O resultado: 56% das entrevistadas trairiam o marido com Peña Nieto. E quando ele teve a oportunidade de trair, o candidato do PRI também sucumbiu facilmente às tentações. É tão famoso por pular a cerca que estampou – sem autorização – um outdoor de outro site de encontros (extraconjugais) com o slogan “Infiel com sua família. Fiel e comprometido com o seu país”.

Além da aparência, a história amorosa de Peña Nieto também lembra roteiro de novela mexicana. Em janeiro, admitiu ter mantido várias amantes durante seu primeiro casamento, o que lhe rendeu dois filhos bastardos. Virou o viúvo mais cobiçado do país com a morte por epilepsia da primeira mulher, em 2007, e no ano seguinte já começou a namorar a estrela Angélica Rivera, com quem se casou em 2010. No campo político, foi o quinto homem de sua família, todos priistas, a ocupar o cargo de governador do Estado do México, o mais populoso do país.

Fraudes – O PRI tem um histórico sujo de 71 anos no poder (1929-2000), com sérias acusações de corrupção e fraude. “É um partido acusado de ter vencido eleições nada limpas. Durante essas sete décadas, a lógica era que o candidato vencedor sempre seria o do PRI”, diz Oswaldo Dehon, lembrando que, na época, o presidente do país acumulava o cargo de chefe da legenda e indicava o próprio sucessor. Em entrevista a VEJA da semana passada, Peña Nieto nega qualquer contravenção: “Os políticos opositores abusam ao dizer reiteradamente que nós nos mantivemos no poder pela fraude. Não é verdade e nem sequer há provas disso”. Agora, com a vitória nas urnas quase certa, resta torcer para que o partido tenha mudado e para que Peña Nieto consiga provar que não é apenas mais um rostinho bonito na política.

Conheça os principais opositores de Enrique Peña Nieto:

Andrés Manuel López Obrador

Andrés Manuel López Obrador, candidato à Presidência do México pelo Partido da Revolução Democrática (PRD)
Andrés Manuel López Obrador, candidato à Presidência do México pelo Partido da Revolução Democrática (PRD) (VEJA)

Ex-prefeito da capital mexicana (2000-2005), o populista é o candidato do Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda. Tentou a Presidência em 2006, mas perdeu por uma diferença de só 0,56%. Desta vez, a distância com o preferido é maior: tem apenas 27,9% das intenções de voto.

Josefina Vázquez Mota

Josefina Vázquez Mota, candidata à Presidência do México pelo Partido de Ação Nacional (PAN)
Josefina Vázquez Mota, candidata à Presidência do México pelo Partido de Ação Nacional (PAN) (VEJA)
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Ex-ministra da Educação do governo do atual presidente, Felipe Calderón, é a candidata do governista Partido de Ação Nacional (PAN). Josefina foi sabotada por divisões internas do partido, do qual foi líder, e acabou mal nas pesquisas de opinião, com apenas 24,4% dos votos.

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