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Longe dos diplomatas, um discurso crítico e esperançoso

O príncipe Charles, em vídeo, junta-se a Bianca Jagger, Edward Norton e Jane Goodall, a maior especialista em chimpanzés do mundo, em um evento que, pelo menos, foi mais divertido do que a mesmice dos governantes

Por Juliana Arini, do Rio de Janeiro
22 jun 2012, 01h14

A tarde de quinta-feira num hotel da Barra, zona oeste do Rio de Janeiro, esteve bem longe dos impessoais discursos diplomáticos dos chefes de estado na Rio+20, graças a um grupo de “notáveis”: personalidades como Bianca Jagger, ex-mulher do cantor britânico (e ambientalista) Mick Jagger; a primatóloga Jane Goodall, famosa pela defesa dos chimpanzés; o ator Edward Norton; o bilionário Richard Branson, fundador do Virgin Group; e o canadense Maurice Strong, idealizador das conferências de Estocolmo (1972) e da Eco-92.

A presença de tantas figuras públicas animou os encontros da cúpula ambiental, marcados pelo excesso de diplomatas e ilustres desconhecidos do terceiro escalão dos governos. Mas os discursos sobre a importância de esforços e de apoio financeiro para a proteção das florestas foram interrompidos por um inusitado protesto. No momento em que Edward Norton ia começar sua fala, um grupo de quatro pessoas levantou-se e começou a gritar: “Nós rejeitamos a economia verde”, com cartazes criticando o REDD – a proposta de pagar às comunidades e aos governos que evitarem a derrubada de suas florestas tropicais.

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O protesto parece ter irritado principalmente o ator. “Não, eu não sou um defensor do REDD”, retrucou Norton, depois de uma tentativa do mediador da mesa, Jeff Horowitz, de criticar os manifestantes. O ator só começou a cooperar com a mesa quando relembrou as origens do seu engajamento ambiental: o trabalho com o pai, um famoso ambientalista, entre os povos masai, no Quênia. Norton voltaria a ser interrompido pelo bilionário Richard Branson, que, depois de várias falas inconclusivas, decidiu levantar-se para tomar água, colocando-se por vários minutos entre Norton e a plateia atônita.

Príncipe – O evento lançou a campanha “Parceiros para Evitar o Desmatamento” (em inglês, Avoided Deforestation Partners – ADP), que pede a implementação de novas práticas agrícolas. A mensagem de abertura foi um vídeo gravado em Londres pelo príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica, que parece ter tido, mesmo à distância, um sentimento comum a muitos participantes da Rio+20: o déjà vu. “Minha sensação é ruim, pois vejo hoje as mesmas discussões de há 20 anos. Na época da Eco-92, disseram que tínhamos menos de 100 meses para tomarmos medidas para que não sofrêssemos com as mudanças climáticas. Isso foi há mais de 400 meses . E hoje continuamos com a mesma urgência e ações muito lentas. Não há opções, a não ser agirmos agora”, disse Charles, um dos mais engajados líderes europeus na luta pela preservação das florestas.

O príncipe de Gales lembrou a ligação entre desmatamento e práticas agrícolas. “Esse é um problema principalmente na África e na América do Sul. Mas existem outras práticas que podem ajudar a agricultura a não ser um vetor do desmatamento. Não estou advogando por uma segunda revolução verde, mas pelo fim do desperdício. Em estados como o Mato Grosso, a pecuária ocupa sem necessidade áreas gigantescas, algo que pode ser mudado”, disse o príncipe, que fez um apelo aos líderes globais para que estes não sejam seduzidos por um regime de crescimento insustentável para o planeta, que alimente desastres ecológicos. “Eu me preocupo com a falta de ação, precisamos ir além do business as usual. Precisamos colocar a natureza no centro das decisões. E só há duas questões: agir e mudar”. Embora tenha lembrado a Eco-92, Charles não chegou a participar daquele evento, pois na época protagonizava um dos divórcios mais badalados do mundo, com Lady Di.

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Uhu, huh, huh – Outra fala de destaque foi a da primatóloga Jane Goodall. A antropóloga inglesa, que passou 45 anos estudando os chimpanzés na Tanzânia, abriu o seu discurso imitando a forma como, segundo ela, os macacos dizem “bom dia”: “Uhu, huh, huh”, disse ao microfone. Goodall também é conhecida por ter sido parodiada em um episódio dos Simpsons. Longe das brincadeiras do desenho animado norte-americano, a antropóloga parece ter mesmo senso de humor e levou um macaco de pelúcia para a mesa de debates. Ao ser questionada sobre o brinquedo, explicou que ele representava o objetivo de não desistir de preservar as florestas.

O discurso da antropóloga foi um dos pontos altos do evento. Goodall lembrou a importância de resolver os problemas sociais para conseguir falar de conservação de florestas. “Quando cheguei à Tanzânia, as pessoas tinham consciência dos problemas, mas elas sofriam com outras questões. Foi depois de resolvermos problemas como educação, acesso aos alimentos e melhoria nas condições de vida das populações locais que conseguimos convencê-los que salvar os chimpanzés seria uma coisa boa”.

Bianca Jagger classificou o encontro como um dos mais importantes da Rio+20. “Este não é um ‘evento paralelo’, mas algo muito importante, pois sentimos aqui que nossos lideres estão dando importância à degradação ambiental e às mudanças climáticas”, disse a ativista, que veio promover sua ação em prol do reflorestamento de áreas degradas no mundo, chamada Plant a Pledge (algo como “Plante um Compromisso”).

O encontro parece ter animado muito quem participou dele. “Estou mais inspirado e encorajado de estar aqui, do que no lado oficial (no Riocentro), com os governos”, declarou o canadense Maurice Strong, um dos pais das conferências de Estocolmo-72 e da Eco-92, hoje afastado da ONU e trabalhando como consultor do governos chinês. “Vocês me deram um combustível de entusiasmo. Precisamos abrir nossa mente para transformar a Terra em um lugar melhor para viver”.

Ao ser questionado sobre o texto final que esta sendo votado pelos chefes de estado, Strong foi enfático na resposta: “Tem coisas interessantes no texto oficial, e alguns avanços, mas no geral é muito fraco para o tamanho das mudanças que precisamos empreender”.

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