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Itália: o verdadeiro desafio de Mario Monti começa agora

Novo premiê tem duas tarefas difíceis pela frente: reconquistar a confiança do mercado com o novo pacote de medidas e exorcizar o fantasma de Berlusconi

Por Cecília Araújo
3 dez 2011, 14h06

“A Itália necessita de uma reforma moral, uma renovação cívica, uma restauração política completa, uma terapia radical. O país está seriamente doente.”

Maurizio Viroli, professor da Universidade Princeton e da Universidade da Suíça Italiana

Em pouco mais de 20 dias, a Itália – sob os olhos atentos e apreensivos de toda a Europa – acompanhou a reestruturação de seu governo, confiante de que o novo primeiro-ministro, Mario Monti, consiga tranquilizar o mercado mundial e recuperar a boa imagem do país após a saída do furacão Silvio Berlusconi e seu “bunga bunga”. Agora, Monti terá de provar se é mesmo capaz de recuperar a economia italiana, afundada em uma recessão que reduziu drasticamente as previsões de crescimento do país. E o primeiro passo será dado nesta segunda-feira, quando ele apresenta suas novas medidas de austeridade, entre as quais estão mudanças no sistema de aposentadoria e até a criação de um imposto sobre as classes mais ricas. Segundo analistas, esse momento exige ação e rapidez. “A razão pela qual a Itália está com problemas econômicos é amplamente ligada à sua inércia. E o principal problema estava em sua liderança”, analisa ao site de VEJA James Waltson, professor de ciência política na Universidade Americana de Roma.

Nesse contexto, Mario Monti foi a escolha mais acertada, por ser um economista renomado e também passar uma imagem íntegra, analisa Maurizio Viroli, professor da Universidade Princeton e da Universidade da Suíça Italiana. “Ele deve ser capaz de restaurar a credibilidade da Itália e tentar superar a atual crise financeira e econômica”, acredita. Contudo, suas qualidades técnicas não devem levá-lo muito além dessa fase de transição, ressalva Viroli. “Depois, o país precisará de um governo capaz de enfrentar também sérios problemas políticos. A Itália necessita de uma reforma moral, uma renovação cívica, uma restauração política completa, uma terapia radical. O país está seriamente doente”, completa. Um sucessor imediato ainda não é apontado: o cenário da oposição, da centro-esquerda, está caótico e dividido, enquanto a centro-direita, liderada por Angelino Alfano, é temida por representar um prolongamento da época de Berlusconi – sem Berlusconi. “No momento, não consigo imaginar um político capaz de liderar a Itália nos próximos anos. Seu primeiro passo deveria ser confirmar que realmente o país entrou numa nova fase.”

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Italianos sempre toleraram Berlusconi, até a crise econômica o derrubar
Italianos sempre toleraram Berlusconi, até a crise econômica o derrubar (VEJA)

O fantasma – A figura de Berlusconi é excentricamente burlesca. A cada aparição pública, já se esperava uma nova gafe ou um novo escândalo – ligado a corrupção ou, principalmente, mulheres. Apesar disso, ele foi eleito três vezes (em 1994, 2001 e 2008) e conquistou seguidos votos de confiança do Parlamento durante seus mandatos. A verdade é que muitos italianos – se não a maioria deles – ainda o defendem ou, pelo menos, não o condenam. Para eles, os escândalos sexuais, por exemplo, não tem grande valor. “Pelo contrário. Muitos deles o admiram por suas atividades sexuais. Para seus incontáveis apoiadores, não faz diferença se Berlusconi é corrupto. Ainda melhor se for, porque isso lhes permite ser também”, diz Viroli, lembrando que o ex-premiê deixou o poder devido à pressão da comunidade internacional, e não dos cidadãos italianos. O professor salienta, porém, que o sistema político alimentado por ele encorajava a corrupção. “Ele estabeleceu na Itália um sistema de poder baseado em sua própria figura, graças à sua riqueza e ao controle do império das comunicações no país. Além disso, é dono do seu partido e tem carisma. Com essas qualidades ele se torna capaz de garantir favores às pessoas – muitas dependem dele para ter privilégios, fama e dinheiro.”

Por 17 anos, Berlusconi se apresentou como o único possível salvador da Itália – e a população acreditou nesse personagem. “Para isso, ele contou com recursos midiáticos e financeiros, os quais permitiram que ele persuadisse uma maioria considerável de italianos a apoiá-lo”, observa Waltson. Isso explica por que, poucos dias antes de renunciar, o então premiê ainda parecia invencível. Mas sua força como comunicador esbarra na falta de capacidade política. “Ele é capaz de negociar, convencer, reunir alianças e aprender rapidamente. Mas suas habilidades são demagógicas.” Os próximos governantes – tomara mais sérios – devem ao menos colocar um fim à ideia de que política é performance: aparecer na televisão e fazer piadas. Para Viroli, que é autor do livro The Liberty of Servants: Berlusconi’s Italy (Editora da Princeton University), é preciso imprimir clareza e integridade ao governo italiano: “Não podemos continuar a pensar que a política é uma comédia. O lugar de rir é no teatro, a vida real é diferente. É preciso mudar o estilo dos italianos de pensar a política”.

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