Iraque formará novo governo a partir de 1° julho, diz Kerry
Chefe da diplomacia americana realizou viagem ao país ao mesmo tempo em que jihadistas assumiram controle da fronteira com a Jordânia
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou nesta segunda-feira que o primeiro-ministro do Iraque, Nouri al Maliki, se comprometeu a iniciar o processo de formação de um novo governo a partir de 1° de julho, segundo informações publicadas pelo jornal The Wall Street Journal. Kerry se encontrou com al Maliki por duas horas na capital iraquiana para discutir a situação do país e pressionar pela formação de um governo que consiga unir xiitas, sunitas e curdos contra a ofensiva dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e o Levante (EIIL), que assumiram o controle de várias cidades e ameaçam implodir o comando de Bagdá sobre o restante do Iraque.
O secretário também se encontrou com líderes xiitas e curdos para promover a formação de um novo gabinete. A avaliação dos EUA é que um novo governo com mais poder para os representantes sunitas pode esvaziar o discurso do EIIL, que afirma lutar pelo grupo religioso sunita, que passou a ser marginalizado pela maioria xiita após a queda do ditador Saddam Hussein, em 2003. Os EUA também pressionaram pela indicação de uma data limite para a formação de um novo governo para diminuir a possibilidade de impasses na disputa por cargos e na divisão de poder entre os grupos étnicos e religiosos.
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Segundo o jornal The New York Times, a Casa Branca avalia que será mais fácil fornecer um apoio militar mais substancial – incluindo ataque aéreos – para Bagdá se o governo iraquiano mostrar comprometimento em representar todos os grupos iraquianos. “O primeiro-ministro al Maliki afirmou firmemente em múltiplas ocasiões sobre seu compromisso com o prazo de 1° de julho”, disse Kerry. O primeiro-ministro iraquiano não comentou o anúncio de Kerry.
Terceiro mandato – Segundo o Wall Street Journal, diplomatas americanos afirmaram anonimamente que al Maliki, um xiita, não deve buscar um terceiro mandato por causa das suas políticas que acabaram alienando os sunitas e curdos durante os oito anos em que ele está no poder. O primeiro-ministro iraquiano tem evitado nos últimos dias comentar sobre seus planos para o futuro. O Iraque organizou eleições legislativas em abril, e os resultados foram confirmados pelo Judiciário na semana passada.
O encontro entre Kerry e al Maliki ocorreu horas depois que os jihadistas sunitas do EIIL conseguirem tomar um dos principais postos da fronteira entre o Iraque e a Jordânia. A conquista ampliou ainda mais a área sob controle do grupo. “Esse é claramente um momento em que os riscos para o futuro do Iraque não poderiam estar mais altos”, disse Kerry. “O EIIL não está lutando, como afirma, em prol dos sunitas. Ele está litando para dividir o Iraque, para destruir o país”.
E não é só o EIIL que tem ameaçado a unidade do Iraque. Nesta segunda-feira, o presidente da região autônoma do Curdistão, Massoud Barzani, indicou em entrevista à rede CNN que seu território, que goza de mais estabilidade que o restante do Iraque, pode aproveitar a crise para buscar a independência. “O Iraque está claramente desmoronando. Nós não causamos essa situação. Foram outros. E nós não podemos permanecer reféns do desconhecido”, disse. “É tempo do povo do Curdistão determinar o seu futuro e a decisão do povo é algo que vamos apoiar. Esses eventos recentes no Iraque provaram que o povo curdo tem que aproveitar a oportunidade para determinar o seu futuro.”