Especialistas analisam consequências da movimentação de Vladimir Putin para a Ucrânia, a Europa, os Estados Unidos e a própria Rússia
Por Da Redação
18 mar 2014, 21h01
O presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, comparou a anexação da Crimeia pela Rússia às movimentações da Alemanha nazista antes da II Guerra Mundial. Menos de três semanas depois de tropas russas ocuparem a península no sul da Ucrânia, a absorção do território – a primeira desde a II Guerra – dá margem de fato para a comparação “desconcertante”, como salientou Martin Wolf, colunista do Financial Times. “A anexação de parte de um país menor ataca as raízes do acordo europeu pós-segunda guerra”, afirma o colunista, para quem a decisão do Kremlin não pode ficar sem resposta, sob o risco de abrir um perigoso precedente.
“O Ocidente não deve fingir que a Ucrânia é um país distante sobre o qual sabe pouco”, escreveu Wolf. “O revanchismo russo deve ser interrompido, até para o próprio interesse da Rússia”, continua, defendendo que o foco de ação das potências ocidentais deve ser a economia ucraniana. “O ponto inicial deve ser ajudar a Ucrânia, melhor ainda com a cooperação russa – mas sem isso, se for necessário. Não será fácil, mas valerá a pena”.
Leste da Ucrânia – O historiador inglês Timothy Garton Ash afirma, em artigo publicado pelo jornal britânico The Guardian, que a movimentação do Kremlin “ameaça os alicerces da ordem internacional”. Para ele, a destruição territorial da Ucrânia não tem mais volta. “O que ainda pode ser recuperado, no entanto, é a integridade política do resto da Ucrânia”.
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Ash opina que a preocupação agora deve estar voltada para o resto da Ucrânia. “Como a notícia da morte de um soldado ucraniano mostra, não há nada que o governo em Kiev possa fazer para restabelecer seu controle sobre a Crimeia. A luta crucial agora é pelo leste da Ucrânia. Se a totalidade da Ucrânia, incluindo o leste, participar de eleições presidenciais pacíficas, livres e justas no dia 25 de maio, será possível sobreviver como um país independente – sem a Crimeia”, argumenta Ash, destacando que esse processo deve ser a prioridade para o Ocidente a partir de agora.
O historiador lembra um discurso em russo do primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseniy Yatseniuk, dizendo que o governo está preparado para conceder “uma ampla gama de poderes” para as áreas do leste, incluindo o direito de ter suas próprias forças policiais e tomar decisões sobre educação e cultura. “Isso é exatamente a coisa certa a ser feita. Agora ele e seus colegas devem ir até esses lugares e dizer isso de novo e de novo – em russo. Eles devem apoiar o russo como um segundo idioma oficial nessas regiões. Devem querer que haja um candidato pró-Rússia nas eleições presidenciais. E devem fazer tudo o que puderem para garantir que a eleição seja livre e justa, com uma cobertura diversificada na imprensa, em russo e em ucraniano”.
O papel dos EUA – Ao comentar as sanções impostas à Rússia – que se mostraram ineficazes -, o editor do Wall Street Journal em Washington, Gerald F. Seib, destaca que a crise vai promover “uma mudança no foco americano do Oriente Médio de volta para a Europa e a Ásia”. Citando Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, Seib afirma que essa mudança já estava em andamento, por causa da China, “mas agora a Europa também vai demandar mais atenção”. Esse foco representa uma “volta à normalidade estratégica”, uma vez que Europa e Ásia são as duas regiões onde estão as maiores potências globais. “Essa mudança de foco para longe da preocupação com o Oriente Médio e seu petróleo será mais marcante se a crise na Ucrânia também levar os EUA a melhorar seu empenho para conseguir uma postura mais robusta na área de energia.”
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