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Atirador de Oslo se via como um “idealista disposto a correr riscos por suas crenças”

Contribuidor frequente de sites políticos da Noruega, ele tinha o multiculturalismo como principal inimigo, mas também se definia como anti-racista, pró-homossexuais e pró-Israel

Por Da Redação
23 jul 2011, 17h32

Detido para interrogatório pela polícia da Noruega como principal responsável pelos atentados que deixaram mais de 90 mortos em Oslo, capital do país, nesta sexta-feira, Anders Behring Breivik, de 32 anos, fazia comentários políticos regularmente em diversos sites – notadamente no Document.no, mantido por um expoente da direita norueguesa. Entre julho de 2009 e outubro de 2010 ele deixou dezenas de comentários no blog, que os agrupou neste sábado. Os textos formam um mosaico das ideias de Breivik e ajudam a compor o seu perfil. Como outros que acabaram se provando sociopatas, ele mostra ser bastante culto e articulado.

Num de seus posts, Breivik revela sua desilusão com o Partido Progressista norueguês, ao qual foi filiado por 10 anos. Em nota publicada nesta sábado, o partido informou que Breivik entrou para o seu grupo de jovens em 1997 e permaneceu na agremiação até 2007 – tendo ocupado cargos de confiança entre 2002 e 2004 na regional do partido na área oeste de Oslo.

O Partido Progressista foi fundado em 1973 e é conhecido por abrigar políticos de extrema direita. Atualmente, é a segunda maior legenda do parlamento do país, ocupando 41 cadeiras. Defensor ávido dos preceitos do liberalismo econômico, o partido prega a redução do poder do estado norueguês e dos impostos pagos pela população. No entanto, quando se trata de questões sociais, sua veia extremista sobressai – principalmente quando o tema é a imigração.

O Partido Progressista é a principal voz contrária aos gastos do governo norueguês com auxílio social para refugiados e trabalhadores que chegaram de forma ilegal ao país. Em editorial publicado em 2010, o jornal britânico The Guardian classificou o partido como um dos maiores sucessos da direita europeia das últimas décadas. Segundo a publicação, apesar de contar com apenas 27.000 membros, o partido teria, no ano passado, apoio de 33% da opinião pública norueguesa. Segundo o site da legenda, seu número de apoiadores dobrou nos últimos dez anos.

No entanto, para Breivik, o Partido Progressista amoleceu em anos recentes. Num comentário publicado em 24 de janeiro de 2010 no Document.no, ele critica a falta de rigidez do partido – sobretudo quando o tema é o combate ao multiculturalismo. “A resistência genuína foi reduzida à mera divulgação de comunicados antes das eleições, para assegurar que as vozes do partido estão sendo ouvidas”, escreve Breivik.

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Ele também critica o fato de os membros mais proeminentes do partido serem políticos de carreira, e não “idealistas que querem assumir riscos e trabalhar por seus ideais”. Breivik compara os progressistas com políticos da esquerda, e afirma que esses últimos conseguem unir forças e disseminar suas ideias de maneira muito mais eficaz.

Essa perda de fé no Partido Progressista parece ter sido um dos motivos da colaboração de Breivik com o Document.no. “A maioria da direita, infelizmente, ainda não percebeu que é preciso derrotar o multiculturalismo parra derrotar a islamização”, diz ele em um de seus comentários. No último dos posts coligidos pelo site, datado de 29 de outubro de 2010, Breivik descreve o Document.no como uma das “poucas vozes ideológicas alternativas” da Noruega.

O Document.no é mantido por um proeminente jornalista norueguês, Hans Rustad, conhecido por seu discurso pró-Israel, anti-islamista e anti-imigração. As ideias de Rustad estão em linha com as de movimentos como o Stop Islamisation of Europe (Evite a Islamização da Europa), cujo slogan é “O racismo é a pior forma de estupidez. A islamofobia é o auge do senso comum”.

No post de 29 de outubro de 2010, Breivik oferece conselhos a Rustad sobre a maneira de gerir sua empresa. O atirador, que se formou pela Escola de Comércio de Oslo e fundou, em 2009, uma grande propriedade para produzir alimentos orgânicos, batizada de Breivik Geofarm, apresenta as credenciais que o qualificariam como conselheiro em negócios: “Nos últimos 14 anos, trabalhei em diversos projetos ligados à internet. Tenho educação em finanças e dois outros bacharelados, ganhei meu primeiro milhão como empreendedor aos 24 anos e tenho muitos amigos que hoje são empresários bem sucedidos em várias indústrias. Muitos de meus amigos são experts no desenvolvimento de redes sociais.”

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Em vez de gastar dinheiro na contratação de repórteres, diz Breivik, o site deveria dedicar seus recursos à construção de uma rede social que integrasse suas bases “à semelhança do Tea Party”, nos Estados Unidos. Em vários outros trechos, Breivik ressalta a necessidade de se fundar na Noruega um grande jornal conservador ou uma “plataforma pan-europeia de retórica e análise”.

Em outro post revelador, datado de 14 de setembro de 2009, Breivik se define como um “conservador cultural” e afirma: “Precisamos influenciar outros conservadores culturais para que adotem nossa linha de raciocínio anti-racista, pró-homossexuais e pró-Israel”.

Breivik claramente se vê como um ideólogo e agitador cultural. Segundo o jornal norueguês Aftenposten, sua conta no Twitter tinha apenas uma mensagem, datada de 17 de julho. “Uma pessoa com uma crença equivale a 100 000 pessoas que têm apenas interesses”, diz o post, adaptado de uma frase do filósofo britânico John Stuart Mill.

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