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Rivaldo: ‘Jogo enquanto as pernas aguentarem’

Por Silvio Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 fev 2011, 20h23

Ele foi o melhor jogador em campo. Às vésperas de completar 39 anos, em abril, e depois de passar 14 anos jogando no exterior, Rivaldo voltou a jogar no Brasil e marcou o primeiro gol na vitória de 3 a 2 do São Paulo sobre o Linense, nesta quinta-feira. Suportou bem os 90 minutos da partida inteira e mostrou que tem gás para brilhar – ao menos – nesta temporada. Com a bagagem de quem foi pentacampeão do mundo em 2002, com a seleção brasileira, e de quem passou cinco anos no Barcelona – sendo eleito pela Fifa o melhor do mundo, em 1999, Rivaldo sabe que será cobrado neste retorno. Mas mantém firme a gana de estar nos gramados. “É um momento especial da minha vida”, diz o meia. No recreativo às vésperas da partida de estreia, dava para notar como a bola saía de seus pés com rapidez e endereço sempre certo; ele não faz força, se preocupa mais em achar um companheiro livre. Magro – 82,5 quilos, 1,86 metro -, twitteiro ativo (@RIVALDOOFICIAL), fala quatro idiomas e, ao mesmo tempo em que se dedica aos treinamentos para ganhar ritmo de jogo, cuida de detalhes da casa onde ficam os cinco filhos – Rivaldo, 15 anos, único brasileiro, nascido em São Paulo; Thamires, 13 anos, nascida na espanhola La Coruña; os gêmeos Rebeca e João Vitor, de 5 anos, e o caçula Isaque, 4 anos, nascidos em Atenas.

Rivaldo no CT do São Paulo
Rivaldo no CT do São Paulo (VEJA)

Rivaldo deixou seu último clube, o Bunyodkor, do Uzbequistão, na metade do ano passado, com salário atrasado de um ano, mais o que teria direito pelo último ano de contrato. Voltou para defender o Mogi, clube que comprou e do qual é presidente licenciado, e tratou de cuidar do físico todos os dias, em sessões de academia e exercícios aeróbios. Você já pensou em parar? Vou parar só quando as pernas não aguentarem mais. Estou bem e resta só saber se conseguirei encarar o ritmo e se estarei ao nível do Paulista e do Campeonato Brasileiro. Preciso jogar, só assim vou saber como estou realmente. Por que você deixou o Uzbequistão? Tinha contrato até o fim de 2011, mas as coisas ficaram difíceis. No primeiro ano, recebi o referente à primeira temporada em dois meses. Mas no segundo ano o tempo foi passando, não recebi mais nada e coloquei dinheiro do bolso no clube. Como assim? Além de jogar, eu tinha contrato como consultor do clube. Levei para lá aparelhos da Grécia, equipamento de fisioterapia, enfim, fiz investimento no clube porque tinha confiança no presidente. Ia organizar o futebol do clube. Mas aí decidiu voltar para continuar jogando? Sim, não penso em outra coisa, quero jogar. O que você acha do nível do futebol brasileiro? Pelo que vi até agora, deu uma caída. Na verdade, acho que o futebol mundial caiu de nível. Tomo como base a Espanha, em que apenas Barcelona e Real Madrid disputam o título, e isso é ruim para o futebol: antes da metade do torneio, todos já sabem que o título vai ser decido por um ou outro. Hoje, quem tem dinheiro compra os melhores jogadores e monta boa estrutura. Os talentos ficam concentrados num clube. Fui campeão com o La Coruña e com o Barcelona, e ainda tinham força na minha época o Real Madrid e o Sevilha. Era um pouco mais equilibrado. Quem foi o melhor jogador com quem você trabalhou? Foram vários. No Barcelona foram Kluivert, Guardiola, Luiz Henrique, o Figo, todos grandes jogadores. Devo estar esquecendo alguns. Qual foi seu melhor momento no futebol? Sem dúvida os cinco anos em que passei no Barcelona, quando fui reconhecido pelo mundo todo, fui eleito o melhor pela Fifa. E, claro, em 2002, quando fui campeão pela seleção. Estas conquistas ficam na história, são momentos muito especiais na vida. Em 1998 a história foi outra? Fiquei perto de ser campeão, perdemos para a França num dia em fizemos nosso pior jogo e eles, o melhor. Foi triste. Mas em 2002 chegamos à final e pensei que não poderia sofrer de novo como em 1998. Entramos com tudo contra a Alemanha, joguei com dor no tornozelo, fiz uma bota, não queria ficar fora de jeito nenhum. Fizemos uma campanha excepcional, sete jogos, sete vitórias, artilheiro da competição, vice. Às vezes ouço falar da seleção de 1982, que teria sido a melhor de todas. Mas acho que vão dar valor à nossa conquista mais para a frente. Quais as diferenças de relacionamento entre os atletas nos grupos de 1998 e no de 2002? Acho que quando ocorre uma frustração buscam algo para justificar. Tanto no grupo de 1998 como no de 2002 o ambiente era bom. A diferença é que num ano perdemos e no outro ganhamos. Ronaldo foi considerado o destaque em 2002. Isso o incomoda? Não. Ouço gente dizer que fui o melhor, outros que foi Ronaldo. O que me interessa é que esse tipo de cosia passa, é pura ilusão. O importante é que fiz meu papel, trabalhei direito. Ser o melhor ou pior não importa, como se diz, isso não enche barriga. Quem acha que fui melhor ótimo, quem acha que foi o Ronaldo ótimo. Não muda nada. Em 1998 todos nós perdemos.

Rivaldo no CT do São Paulo
Rivaldo no CT do São Paulo (VEJA)

Como foi deixar o Barcelona? Foi bem difícil, porque nunca se espera sair de um clube tão especial quanto o Barcelona. Além de ser um clube sensacional, a cidade também é encantadora, considerada uma das melhores do mundo para viver. Quando saí em 2002, ainda tinha um ano de contrato, mas o novo o técnico, o holandês Louis van Gaal, não queria trabalhar comigo nem eu com ele. Fizemos um acordo, fiquei livre e fui para o Milan. Tive até a chance de ir para o Real Madrid, mas a proposta do Milan era melhor e decidi pela Itália. Sua passagem pela Itália não foi tão boa… Eu quis sair na metade do contrato porque não jogava. Isso é o pior para um jogador? Sim, nada é pior do que ficar fora. Principalmente quando você se acostuma a ser titular. Houve momentos no Milan em que não aparecia sequer entre os 18 relacionados. Isso foi demais. Depois de vencer uma Copa, vir de um clube como o Barcelona, eu ia para a concentração mas não era relacionado. Lembro de um jogo contra o Ajax, da Holanda, pela Copa dos Campeões, em que nem saí do ônibus, não quis ir ao vestiário. Fiquei lá, preferi assistir a um filme, nem quis saber como estava a partida. O argentino Redondo também ficou fora e até me chamou para sair do ônibus, mas disse a ele que dali não sairia. E fiquei fora também de uma partida contra a Inter, de outra contra o Parma… Qual era o problema? Bem, nem culpo o treinador – Carlo Ancelotti. Passei por momentos difíceis, como o fim do meu casamento. Então, quando ele queria contar comigo eu não estava bem, e quando eu melhorei, ele já não contava mais comigo. O Leonardo já estava trabalhando no Milan nesta época e pedi que intercedesse para que o clube me liberasse. Preferia voltar ao Brasil, ficar perto dos meus filhos, a sofrer aquela humilhação de não jogar. Você já pensou em ser político? Nunca. Mas nunca se sabe. Jamais pensei nisso mas também não sou contra. Quem sabe o que pode acontecer mais à frente? No momento, minha cabeça ainda está só no futebol. O Mogi está nos seus planos? Claro, estava dando conta de todas as obrigações. Mas não posso colocar tudo que ganho no futebol lá no Mogi. Temos de revelar jogadores, fazer negócios. No momento, estou só no prejuízo. Espero que logo algum jogador se destaque e que o Mogi não precise depender sempre de mim. Você pegou gosto pelo Twitter… É um brinquedo, às vezes não tenho o que fazer em casa então digo o que estou fazendo, é uma diversão. Poderia ter aparecido antes, ia ser bom quando estava no auge em Barcelona. Mas tem outro lado: às vezes surge alguma informação errada e pelo twitter é possível esclarecer ou desmentir algo na hora, evitar que uma informação errada tome proporção também errada. Neste ponto o twitter ajuda muito. Você cultivou muitos amigos no futebol? Tenho amigos como César Sampaio, Mauro Silva, mas acontece de ficar muito tempo sem conversar. O telefone muda, a vida, enfim. No ano passado, por exemplo, falei com o Ronaldo e o Roberto Carlos, mas depois não consegui mais. Até mandei mensagem pelo twitter para o Ronaldo, com meu telefone, mas ele não respondeu. Sei que não deve ser fácil responder tudo, porque é muita gente mandando mensagem e não sabemos se quem está escrevendo é realmente a pessoa que diz ser. Mas agora estamos mais perto. O que você acha de jogadores mais velhos voltarem a jogar no Brasil? Isso mostra que o país está dando valor ao jogador mais experiente. Lembro que alguns anos atrás, quando um jogador chegava aos 30, já era considerado velho. Vi um jogo entre Milan e Liverpool em que todos os jogadores italianos tinham muito mais que 30 anos – Inzaghi, Serginho, Cafu e Maldini -, e venceram os ingleses. Isso também incentiva os mais novos, que podem projetar uma carreira mais longa e ainda fazer planos para voltar ao país em boas condições. Sempre se fala que você nunca foi bom de marketing e que isso poderia ter ajudado ainda mais sua carreira. Você concorda? Sim, eu teria outra imagem se tivesse usado o marketing. Mas nunca me preocupei com isso, sempre me preocupei em jogar futebol apenas. Não me arrependo, sou feliz assim. Agora, no São Paulo me pediram para fazer algumas coisas nessa área. O trabalho dentro de campo é muito mais fácil. Não sei o quanto minha imagem ajuda a conseguir um patrocínio, por exemplo. Mas vou trabalhar nesta nova empreitada.

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